Naquele domingo, ao voltarmos da ilha, o clima no carro ficou meio esquisito. Todos estávamos preocupados e o Carlos fechou-se numa bolha que só consegui romper de madrugada.
Não o achei na cama e fui para o único lugar que o faz reordenar as ideias sem prejuízos. Dei uma passada no quarto de uma Angélica cheia de sorrisos para algum sonho, fechando um pouco a janela.
Como suspeitava o Carlos estava na lavanderia da casa encostada na pia, observando a máquina de lavar funcionar. O cheiro de amaciante dominava o local, que estava organizado e limpo às três da manhã. Notei que roupas já estavam estendidas e que outras dobradas aguardavam sua vez no ferro de passar.
Ele estava sem camisa, de braços cruzados, com o olhar perdido na programação das roupas que circulavam no equipamento de porta frontal que lava e seca. A tal serenidade que tanto minha sogra fala estava ali na minha frente. As explosões dele com palavrões são pontuais, sendo que segundos depois ele volta a ter o semblante calmo e plácido
- Esse filme parece bom – ele se assustou e abriu os braços para que eu me aconchegasse.
Trocamos um abraço bem intenso e nos beijamos com carinho.
- Desculpa, fiquei sem sono.
- Tudo bem. Vem cá.
Puxei sua mão até um vão livre da lavanderia e o fiz sentar em um pequeno tapete que estava lá. Nos posicionamos da mesma forma de um tempo atrás.
- Lembra de nossa primeira conversa aqui? – comecei.
- Como vou esquecer? Estávamos com dúvidas sobre muita coisa.
- Mais eu do que você. A única certeza naquela época era a Angélica....
- Mais, como ia ser a dinâmica, se daríamos certo – ele beijou minha mão – estava apavorado.
- Não demonstrava.
- Sou um policial, sabemos disfarçar sentimentos. Quer dizer sabia disfarçar até conhecer vocês.
- Agora você é transparente para mim e está preocupado.
- Sim – ele fechou os olhos e encostou a cabeça na parede fria – estava pensando Denise, eu ascendi muito rápido na secretaria, não que eu não mereça, mas tem outros policiais na fila, tão bem gabaritados e preparados... Eu não entendo... O Samuel disse que muita coisa ia mudar e está mudando. Pensei que seríamos marcados por causa das ações de semana passada, mas pelo contrário fomos premiados. E o governador apoiou a ação informalmente junto com o procurador.
- Jura?
Ele soltou o ar dos pulmões.
- Juro.
- São coincidências?
- Não acredito nelas.
- No que você acredita então?
Ele respirou fundo.
- Que nossa família está no meio de algo muito grande. Lembras aquelas investigações?
- Que te levaram aos juízes e delegados e, como você disse, premiaram vocês.
- Isso... o meu tutor na polícia...
- Sim.
- Aquela ação foi facilitada. Ele sabia de tudo e ele assinou hoje uma delação premiada. Amanhã estará em casa cumprindo prisão domiciliar.
- Nossa, tão rápido assim?
- É.... Alguém queria que limpássemos a barra por algum motivo, quem caiu, caiu bem feio. Lembrei de uma das festas que fui na casa do Douglas e algumas pessoas que estavam lá tem alguma relação com últimas investigações. Elas seriam as pessoas mais interessadas na queda dessas que investigamos.
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O Coração de Denise
RomanceDenise resolveu largar tudo que conhecia no Rio, depois de uma passagem turbulenta pela Europa e apostou em um recomeço ao lado de novas pessoas. Reconstruindo laços afetivos ela deixa muita coisa trancada, intocada, até uma noite em um plantão turb...