Capitulo 29

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Naquele domingo, ao voltarmos da ilha, o clima no carro ficou meio esquisito. Todos estávamos preocupados e o Carlos fechou-se numa bolha que só consegui romper de madrugada.

Não o achei na cama e fui para o único lugar que o faz reordenar as ideias sem prejuízos. Dei uma passada no quarto de uma Angélica cheia de sorrisos para algum sonho, fechando um pouco a janela.

Como suspeitava o Carlos estava na lavanderia da casa encostada na pia, observando a máquina de lavar funcionar. O cheiro de amaciante dominava o local, que estava organizado e limpo às três da manhã. Notei que roupas já estavam estendidas e que outras dobradas aguardavam sua vez no ferro de passar.

Ele estava sem camisa, de braços cruzados, com o olhar perdido na programação das roupas que circulavam no equipamento de porta frontal que lava e seca. A tal serenidade que tanto minha sogra fala estava ali na minha frente. As explosões dele com palavrões são pontuais, sendo que segundos depois ele volta a ter o semblante calmo e plácido

- Esse filme parece bom – ele se assustou e abriu os braços para que eu me aconchegasse.

Trocamos um abraço bem intenso e nos beijamos com carinho.

- Desculpa, fiquei sem sono.

- Tudo bem. Vem cá.

Puxei sua mão até um vão livre da lavanderia e o fiz sentar em um pequeno tapete que estava lá. Nos posicionamos da mesma forma de um tempo atrás.

- Lembra de nossa primeira conversa aqui? – comecei.

- Como vou esquecer? Estávamos com dúvidas sobre muita coisa.

- Mais eu do que você. A única certeza naquela época era a Angélica....

- Mais, como ia ser a dinâmica, se daríamos certo – ele beijou minha mão – estava apavorado.

- Não demonstrava.

- Sou um policial, sabemos disfarçar sentimentos. Quer dizer sabia disfarçar até conhecer vocês.

- Agora você é transparente para mim e está preocupado.

- Sim – ele fechou os olhos e encostou a cabeça na parede fria – estava pensando Denise, eu ascendi muito rápido na secretaria, não que eu não mereça, mas tem outros policiais na fila, tão bem gabaritados e preparados... Eu não entendo... O Samuel disse que muita coisa ia mudar e está mudando. Pensei que seríamos marcados por causa das ações de semana passada, mas pelo contrário fomos premiados. E o governador apoiou a ação informalmente junto com o procurador.

- Jura?

Ele soltou o ar dos pulmões.

- Juro.

- São coincidências?

- Não acredito nelas.

- No que você acredita então?

Ele respirou fundo.

- Que nossa família está no meio de algo muito grande. Lembras aquelas investigações?

- Que te levaram aos juízes e delegados e, como você disse, premiaram vocês.

- Isso... o meu tutor na polícia...

- Sim.

- Aquela ação foi facilitada. Ele sabia de tudo e ele assinou hoje uma delação premiada. Amanhã estará em casa cumprindo prisão domiciliar.

- Nossa, tão rápido assim?

- É.... Alguém queria que limpássemos a barra por algum motivo, quem caiu, caiu bem feio. Lembrei de uma das festas que fui na casa do Douglas e algumas pessoas que estavam lá tem alguma relação com últimas investigações. Elas seriam as pessoas mais interessadas na queda dessas que investigamos.

O Coração de DeniseOnde histórias criam vida. Descubra agora