Prólogo.

582 50 35
                                    

 O céu estava nublado naquela manhã, quando Oliver agarrou a mala e olhou pela última vez o horizonte que se estendia naquela varanda gigantesca, e por mais que tivesse tudo, sentia como se fosse completamente vazio, e sempre fora assim

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

 O céu estava nublado naquela manhã, quando Oliver agarrou a mala e olhou pela última vez o horizonte que se estendia naquela varanda gigantesca, e por mais que tivesse tudo, sentia como se fosse completamente vazio, e sempre fora assim. Mas ao menos naquele dia, tentaria de uma vez largar tudo aquilo, e de alguma forma, para ele era estranho saber de que estava prestes a ir embora da cidade de onde veio e cresceu, porém, sem dúvida alguma, não fazia sentido algum permanecer ali quando a única pessoa que o fazia continuar havia lhe deixado há alguns dias atrás. Ao menos agora se livraria de um grande peso.

  Paris era o último lugar que sempre desejou estar, principalmente com todos ao redor, todos que simplesmente o detestavam somente por detestar, fazendo-o se perguntar o porquê por mais que soubesse boa parte da resposta, e agora, honestamente, não tentava encher sua cabeça com questionamentos do tipo. Apesar da capital deslumbrante da França e as incontáveis coisas que poderia ter realizado ali, ou ter se aventurado, o que lhe manteve ali durante vinte e dois anos fora sua mãe. Fora isso, nada era o bastante: nem sequer sua família, muito menos a faculdade de advocacia e nem as ruas enfeitadas. Por isso decidiu firmemente ir embora, deixando a casa vazia, sem levar nenhum daqueles objetos ou móveis caros, seria melhor assim. Foi-se sem comunicar a ninguém, porque sabia que não se importavam, nem mesmo a “namorada” na qual estava junto, ou aí menos era isso que pensava; quem iria se importar com o filho do meio, fruto de uma traição?

  Antes de deixar a casa, encarou o seu rosto no enorme espelho da cozinha, observando os olhos verdes cansados e o cabelo castanho bagunçado, mas assim que pôde pairar o olhar sobre a pintinha que possuía abaixo do olho direito e embaixo dos lábios, um pouco para direita, lembrando-lhe de sua mãe já que tinha puxado aquilo dela, abaixou a cabeça, recordando das noites em que passou em claro, chorando alto e agradecendo por ninguém poder escutá-lo ali. A lembrança de sua mãe morrendo em seus braços ainda martelava forte em sua cabeça, como um tormento, e não podia fazer absolutamente nada em relação à isso. E com tal pensamento, tratou de retornar ao foco principal: em colocar as três malas necessárias para dentro de seu carro que aguardava-lhe na garagem. Sem enrolar mais, pisou na marcha, com o mapa ao seu lado, porque de alguma maneira detestava GPS, e fora assim que acabou ficando cada vez mais longe daquele lugar onde carregava tantas memórias ruins, observando a longa estrada surgir pelo retrovisor naquele dia chuvoso de outono, enquanto ironicamente tocava Grave Digger do Matt Maeson no som, formando algumas lágrimas ao redor de seus olhos, que logo foram expulsas pela destra; Oliver recusava permiti-me a chorar naquele momento. Definitivamente não era um bom momento para escutar aquela música, mas deixou tocar até o final, contendo outra vez a dor que exalava de si.

  Estava mudando-se para Rouen, próximo de Paris mas ainda sim outra cidade na qual nunca havia sequer visitado antes. Não custava tanto para chegar até lá, ao menos foi o que Oliver julgou quando havia chego tão rápido a aquela cidade, entediado pela viagem de longas duas horas, dirigindo e dirigindo no volante, nem soube ao certo como pôde se manter focado na estrada por todo aquele tempo quando qualquer coisa sempre desviava sua atenção independente do que fazia. Sem pensar, tratou logo de seguir para a casa mobilada que conseguiu alugar há três dias atrás, por pura sorte ou talvez simplesmente porque dinheiro não era problema por mais que detestasse esbanjar isso, enquanto sua mente pensava em outro assunto, em relação ao seu trabalho em uma floricultura no centro que começaria no dia seguinte, logo cedo; isso se conseguisse dormir. A floricultura que trabalharia como ajudante era de sua tia por parte de mãe, uma senhorinha simpática que tampouco sabia de que Oliver estava fugindo de sua cidade natal por conta de seu passado, e era bom que a mesma continuasse sem saber a razão disso. Enfim, não se preocupava com nada, somente era preenchido pelo o orgulho de finalmente poder trabalhar com o que tanto gostava: flores e plantas.

  Assim que pôde pisar dentro da pequenina casa após pôr o carro na garagem, mal notou os detalhes, somente de que era um local aconchegante repleto de plantas, incontáveis delas em cada pedacinho dos cômodos, mas logo saiu jogando as malas pesadas pelo chão e caminhando pesado até onde adivinhou que era o quarto, suspirando por conta do cansaço. Não custou muito para adormecer sem nem sequer um esforço pra isso, naquela cama na qual deitava-se pela primeira vez e por isso nem era tão confortável até certo momento.

  Quando o dia invadiu a janela do quarto, iluminado os arredores e causando-lhe um incômodo aos olhos fechados, Oliver acabou despertando, entretanto com uma sensação diferente, e não era as costas doloridas por conta do descostume da cama nova. O ar arrepiava a sua pele de forma diferente, não sabia explicar perfeitamente o que era, mas logo se deixou passar ao lembrar de que precisava urgentemente se aprontar para o trabalho novo e para piorar, não havia desfeito nenhuma sequer mala.

  Desajeitado pela sonolência, tropeçando entre os próprios pés e ignorando os detalhes da casa recém alugada novamente, esquecendo de dar água às plantas, cambaleou até a mala maior, agilmente abrindo-a e pegando os itens de higiene e junto disso uma roupa apresentável, – seu uniforme de trabalho ainda seria entregue – pensando repetidamente que aquilo estava gastando bastante tempo para ser resolvido, mas o que poderia fazer já que havia só enfiado as roupas nas malas sem se perguntar alguma ordem? Mas assim que pôde organizar o que levaria em uma mochila para o trabalho ou não, deixando de ponderar sobre o que usaria, Oliver tratou de se apressar quanto antes tudo o que se fazia necessário como tomar o seu banho, mas estranhamente ainda se sentia coberto por aquela sensação na qual acordou, não que fosse um incômodo, apenas era incomum; talvez fosse a ansiedade, pensou assim que deixou a casa sozinha. Mas sabia que ansiedade não soava como aquilo.

  Seria de uma enorme irresponsabilidade chegar atrasado no seu primeiro dia de trabalho ainda mais na situação que se encontrava, contudo tranquilizou-se um pouco mais ao ver o horário estampado em seu celular, acreditando que chegaria na hora certa apesar do trânsito lento, cogitando na alternativa de talvez pegar ônibus da próxima vez, acreditando que seria melhor do ué dirigir. O caminho que havia pego era o mais longo por conta da droga do GPS e Oliver veio apenas notar isso quando já estava no meio do destino. Ainda bem que independe de tudo, o centro não era tão longe de se chegar, e com esse pensamento surgiu a brilhante ideia de comprar uma bicicleta para ir ao trabalho, já que talvez fosse menos trabalhoso do que ir com o carro além de produzir certo esforço físico, algo que precisava. A partir daquele momento era isso o seu plano para aquele dia: no final do expediente, iria comprar uma bicicleta.

  Sem delongas, estacionou o carro em uma rua estreita detrás da floricultura e depois não custou para dar pequenas corridinhas para chegar em breve ao seu novo trabalho, sendo corroído pela ansiedade, contudo os passos desaceleraram assim que notou um estúdio de ballet em frente à floricultura, mas não fora isso que chamou pela atenção de Oliver em primeiro plano e sim o rapaz de cabelos loiros à frente dali; pôde sentir-se preenchido por aquela sensação de interesse, de forma mais intensa, sem dúvidas, e não sabia o porquê disso. Automaticamente, desviou o olhar fixado sobre ele assim que teve os olhos semelhantes a cor de mel do mesmo sobre si junto de uma das sobrancelhas arqueada, fazendo seu nervosismo intensificar por algum motivo desconhecido. E Oliver não pôde ver, porém com a sua atitude de quem havia sido pego, o garoto loiro nutriu um curto sorriso no cantos dos lábios, e sem delongas adentrou o estúdio de ballet no qual costumava treinar diariamente.

  E antes que pudesse suspirar pesado por ter agido de forma boba e ter perdido de vista o rapaz que ainda nem sequer sabia o nome ainda, Oliver escutou o sininho da porta de vidro da floricultura tocar, acompanhando a voz de sua tia, aquela voz rouca de quem fumava todos os dias mas de quem também era bastante simpática.

— Você não vai entrar, Oli? – Silvia perguntou simpática, sorrindo com os olhos e ainda segurando a maçaneta da porta, e Oliver assentiu, formando um sorriso nos lábios por mais que se sentisse em transe pelo momento de segundos atrás. E então assentiu, estampando um sorriso nos lábios e finalmente adentrando o ambiente.

  Nutriram uma boa conversa por um bom tempo, antes de Oliver trocar suas roupas pelo o uniforme de trabalho e finalmente começar o expediente. Entretanto, havia algo que não desgrudava de sua mente apesar das distrações que tinha em relação os incontáveis tipos de flores que havia presente ali, fazendo deduzir que precisava estudar mais sobre botânica. O rapaz que havia visto; era isso que não conseguia sequer tirar de seus devaneios, principalmente a pergunta, sem saber a razão do porquê perguntar-se isso: quem é ele?

Cactus - CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora