Quanto tempo leva para uma vida desmoronar? A minha levou apenas alguns minutos e duas linhas cor-de-rosa. Duas linhas que traçaram a minha ruína.
Estava grávida e ao que parecia estava sozinha nessa. Havia contado ao "pai" que havíamos gerado uma vida. Uma vida que ele desprezou sem a mínima culpa, sem nem hesitar. Uma vida a qual eu não estava preparada para assumir.
Estava andando havia horas, meus olhos estavam inchados do tanto que havia chorado.
Como eu poderia ter sido tão burra e inconsequente? Como pude permitir que ele não usasse preservativo? Eu mesma não fazia uso de anticoncepcionais, não tinha como evitar uma gravidez apenas orando para que ela não acontecesse.
Eu tinha comprado quatro testes de farmácia de diferentes marcas e todos deram o mesmo infeliz resultado: positivo. Minha mãe não havia ficado feliz. O motivo de sua infelicidade? Era algo que eu nunca imaginaria.
Afinal, quem diria que o vizinho estaria tendo relações com a mãe e com a filha?
Minha mãe não era velha. Ela era vaidosa, cuidava do corpo e da saúde. Se orgulhava em sempre estar bonita e apresentável. Eu era sua versão mais nova, bonita, sem precisar fazer muito esforço. Até já nos chamaram de irmãs.
No entanto, ela simplesmente havia me colocado para fora de casa, com raiva por ter "seduzido" o nosso vizinho, palavras dela.
Eu até poderia rir da situação, se não estivesse tão desesperada. Estava apenas com uma mochila e uma bolsa e algumas econômicas que não dariam para meu sustento por muito tempo. Bem, não só o meu sustento, se eu contasse com o embrião que tomava forma em minha barriga.
Justine, minha melhor amiga, estava viajando de férias, aproveitando o verão antes do início da aulas da faculdade, e tirando ela, eu não tinha mais a quem recorrer.
Eu estava sozinha e teria que conseguir um lugar para ficar.
Olhei em volta, enxugando os olhos, pensando. Então avistei um táxi parado e decidi correr até ele. Sem nem ao menos perguntar, abrir a porta traseira e entrei, me jogando no assento, fungando e mais uma vez limpando as lágrimas que insistiam em cair. Não sei como eu ainda as produzia.
— Será que você pode... Sair daqui? — perguntei, a voz rouca.
— Para onde quer ir? — o motorista perguntou, me olhando pelo retrovisor.
Para onde eu queria ir?
— Eu não sei — sussurrei.
Ele então me olhou por cima do ombro e franziu o cenho.
— Está tudo bem?
Não, não estava bem. Nada estava bem.
Balancei a cabeça e estava abrindo a boca para falar, quando ele disse:
— Em quem eu devo bater por ter feito você chorar? É só falar que meu punho estará à sua disposição.
Olhei para ele e pisquei. Então sorri. Será que ele continuaria com a oferta se soubesse que teria que bater em minha mãe?
— Estou bem — menti. — Obrigada pela oferta.
— Disponha. — Ele sorriu. — E então, para onde vamos
— Eu não sei — respondi com sinceridade.— Vou só andar por aí, até você pensar para onde quer ir, pode ser? — sugeriu.
Assenti devagar, e então ele rapidamente pôs o carro em movimento. Repousei a cabeça no encosto e fechei os olhos, respirando fundo.
Coloquei a mão na barriga ainda plana, me perguntando o que eu faria com o bebê. Não podia ser mãe, não sabia nem cuidar de mim direito! Eu não tinha um trabalho, nem uma casa. E uma criança agora só complicaria mais o que já estava complicado.
Aliás, eu só estava nessa situação por causa dela.
Não, na verdade eu estava nessa situação porque tinha sido inocente o suficiente para me apaixonar por um cara que aparentemente nunca se importou de verdade comigo. Tudo o que ele queria era sexo. E ele teve. Ele me teve inteiramente, mas eu não tinha sido o suficiente.
Nada do que aconteceu teve importância para ele.
E minha mãe... Eu achei que nela encontraria apoio, encontraria conforto e que ela me diria que tudo iria se resolver. Que tudo ficaria bem. Estava tão enganada...
Nós nunca tivemos uma boa relação, mas eu nunca imaginei que ela me expulsaria de casa por causa de um homem. Eu era sua filha!
Senti mais um fluxo de lágrimas deixar meus olhos, e me perguntei o quão patética eu deveria parecer para o motorista do táxi. Tirei meus óculos de grau e tentei limpar o rosto o mais dignamente possível.
Com um suspiro, pedi para ele me levar para a praia. Eu tinha pouco dinheiro e não podia me dar o luxo de ficar rodando pela cidade em um táxi. Eu precisava do dinheiro para outra coisa.
Quando chegamos a praia, o motorista não quis aceitar o pagamento, alegando que aquela seria sua boa ação do dia. Eu não poderia ter ficado mais grata.
Com um sorriso amarelo, me afastei do carro e andei em direção a areia branca da praia. Era fim de tarde e logo o sol iria se pôr. Onde eu passaria a noite?
Apesar do horário a praia estava cheia. Era verão e todos queriam aproveitar o sol o máximo possível.
Sentei na areia, coloquei a bolsa e a mochila ao meu lado e abracei meus joelhos, olhando em volta, pensando na vida daquelas pessoas e tentando esquecer a bagunça em que a minha havia se tornado.
Olhei para o horizonte e observei o céu ficar em tons alaranjado e rosa, enquanto o sol ia descendo no céu. E ali, enquanto o sol ia se pondo, mais uma vez eu chorei.
Quando o céu já estava completamente escuro, e eu achava que tinha secado completamente meus dutos lacrimais, me perguntei onde passaria a noite. Tinha pouco dinheiro e precisava economizar se queria comer no dia seguinte.
Eu precisaria arranjar um emprego. Urgente.
Olhei ao redor, algumas pessoas andavam pela praia, de mãos dadas com alguém na maioria das vezes. Não seria seguro passar a noite ali, sozinha.
Avistei um posto de vigilância dos salva vidas e o analisei. Não era seguro, mas era coberto e me protegeria de chuva ou frio. Andei até lá devagar e subi as escadas mais lentamente ainda.
Sim, ali era um bom lugar para passar a noite.
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Um Minuto Para o Pôr do Sol (DEGUSTAÇÃO)
Romance*Disponível na Amazon e Kindle Unlimited* Sunshine teve que aprender a lidar muito cedo com decepções e com uma gravidez indesejada. Expulsa de casa pela mãe e rejeitada pelo pai do seu bebê, seguir em frente e tomar decisões que mudariam sua vida e...