Capítulo 2 - Daniel

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Sabia que não deveria ter me oferecido para ajudar Steve. Apesar da palavra "oferecer" não se encaixar completamente na situação. Fui praticamente obrigado a isso, quando Steve continuou a vomitar sem parar, jogado no chão do banheiro. Ainda era terça-feira e o cara já estava de ressaca. Isso faria qualquer um pensar que ele era um desses universitários inconsequentes, mas quem o conhecia bem, como eu o fazia, sabia que era mais do que isso.

O cara estava sofrendo de coração partido, não fazia nem três dias que sua namorada terminou com ele. E foi por isso, apenas por isso, que eu concordei em trazer o táxi com o qual ele trabalhava de volta para a garagem.

O que era uma ideia idiota. Eu não tinha licença de taxista, mas pensei que não teria problema. Quer dizer, eu nem estava com o sinal do táxi ligado, e apesar de ser só o início da temporada de verão, não havia muitos turistas pela cidade, e os moradores muito raramente pegavam um táxi.

Só que aconteceu, e eu me senti muito mal ao ver aquela menina chorando para lhe dizer que o táxi não estava trabalhando. Ela devia estar tendo um dia muito ruim, a julgar por suas lágrimas e soluços. Tudo o que pude fazer foi lhe dar uma carona até a praia, mas esperava que isso de alguma forma tivesse ajudado em algo.

Era estranho estar em casa depois de um ano. Não pude voltar durante as férias de inverno, pois fiquei preso em um trabalho em uma pista de esqui, e nos feriados eu me dedicava aos estudos e à academia. E agora eu finalmente estava em casa, e com um certificado no bolso de trás.

Puxei o carro para a garagem de Steve, fechando o portão depois de sair. Entrei na casa, indo diretamente para o seu quarto. Ele ainda estava da mesma forma que eu o havia deixado horas antes: deitado só de cueca de bruços na cama, com as cortinas fechadas, a garrafa d'água e o comprimido que havia deixado sobre o criado-mudo intactos.

— Você não vai melhorar se não tomar o remédio, seu babaca — falei, dando um safanão no seu pé ao passar por ele. Steve murmurou algo incompreensível, sua voz sendo abafada pelo travesseiro. — Já peguei o carro. Não precisa se preocupar com as multas agora.

Ele murmurou algo novamente.

— O quê? — questionei.

Steve moveu a cabeça o suficiente para desbloquear a sua voz.

— Eu quero morrer — disse ele, gemendo.

Revirei meus olhos, uma mania que eu tinha pegado de Susan anos atrás.

— É claro que quer. Isso até que Leah ligue pedindo para voltar com você. Ou que ela atenda uma das suas ligações. O que vier primeiro.

Steve gemeu, rolando de costas na cama.

— Você não entende - disse ele. — Eu a amo. Ela é a minha vida. Não posso viver sem ela. Não posso!

Peguei a garrafa de água com um suspiro. Tinha passado tantas vezes por aquilo, ainda mais considerando que Leah e esteve estavam nessa de casal sazonal desde que estávamos no colegial.

Eu esperava que eles tivessem superado isso no último ano, mas ao que parecia...

Tirei a tampa da garrafa e derramei um pouco de água em minha mão antes de atirá-la na direção da cara de Steve.

— Ei! — reclamou ele.

— Vai tomar banho — falei, ignorando a sua cara feia. — Você está um lixo.

— E o que isso importa?! Leah não vai estar comigo essa noite! E nem amanhã. E nem depois...

Soltei um suspiro, colocando a tampa de volta na garrafa.

Um Minuto Para o Pôr do Sol (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now