III

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      William Ashwood caminhava de volta para Hinxstone após visitar a cidade, comprovando que o condado era deveras agradável e acolhedor bem como seu primo e benfeitor o descrevera. Esperava encontrar pessoas fechadas e frias, mas conquistou a simpatia dos poucos com quem conversou e concluiu serem pessoas muito amáveis. Quando estava perto da propriedade, avistou Elaine caminhando à sua frente, que vinha em sua direção tão absorta em seus próprios pensamentos que não percebeu que ele estava ali. 

— Senhorita Henderston! — Ele gritou para chamar sua atenção. 

— Oh, bom dia, senhor Ashwood! — respondeu, fazendo uso de uma simpatia que ela mesma não acreditava ser capaz de demonstrar. 

— O que faz caminhando tão cedo? Está sozinha? 

— Acabo de voltar de um lago aqui perto, gosto de caminhar pela manhã. Meu pai e minhas irmãs foram para a cidade, imagino que tenha vindo de lá. Por acaso os viu? 

— Infelizmente não nos encontramos, mas por que não foi com eles? 

— A cidade é muito agitada e esse tipo de agitação me incomoda, prefiro ficar em casa. 

— Bom, — ele se aproximou — permita-me acompanhá-la daqui em diante, senhorita. 

— E o que achou do condado, senhor Ashwood? — indagou curiosa. 

— De fato encantador! Fui mais cedo com o presbítero Baldrik e ele me apresentou a cidade. Encontramos pessoas muito extrovertidas e calorosas. 

— Verá que nossa sociedade é muito afável. — Ela se limitou a responder com poucas palavras, afinal, não demonstraria mais curiosidade do que deveria. 

— Nós também visitamos regimento, e devo dizer, senhorita Henderston, que são jovens muito bem treinados. Quanta habilidade e esforço! — comentou admirado. 

— Não acho que mereciam tal descrição quando fui visitá-los da última vez. Eram homens desajeitados e mal sabiam empunhar uma espada de madeira; mas, bem, faz cerca de um mês que isso aconteceu, fico surpresa por terem evoluído de maneira tão rápida. 

— Você fala com propriedade, senhorita. 

— De fato, eu tenho. 

— Sendo assim então, suponho que saiba empunhar uma espada muito bem. 

— E o senhor não? 

— Ora, para mim, não é comum que uma mulher fa- 

— Muitas coisas que eu faço — interrompeu-o abruptamente quando seu tom atingiu um igualitário ao de uma pessoa preconceituosa — até um tempo atrás eram incomuns, e até hoje, para algumas pessoas, são consideradas atitudes libertinas. Não preciso que diga o que eu já sei, senhor Ashwood, também não estou disposta a ouvir qual o papel devo desempenhar na sociedade, como mulher. Eu e minhas irmãs crescemos ouvindo essas coisas, mas escolhemos não dar atenção, e com todo respeito, não vai ser o senhor o homem de quem aceitarei orientações sobre o meu comportamento. 

      Tais palavras foram ditadas com calma e naturalidade, resultado de longas meditações e momentos incontáveis nos quais foi submetida a ouvir opiniões preconceituosas sobre sua conduta; seja qual fosse o estado em que Ashwood ficou após ouvir aquilo, não era de seu interesse. 

      Os criados ficaram curiosos para saber o motivo dela ter entrado em casa de uma forma tão brusca, quase levando a porta consigo para seja lá qual canto se esconderia desta vez. Enquanto sua mãe estivesse acamada e as irmãs e o pai fora, eles não teriam notícia de Elaine tão cedo. 

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