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      A luta corpo a corpo nunca foi algo capaz de encantar uma criança criada para assumir um posto que exigisse mais de seu cérebro do que de seu físico, mas contrariando os costumes Arthur sempre demonstrou interesse nesse assunto, e superou as expectativas em mais áreas; se dava bem com qualquer assunto, político, ético e artístico, além de ser um exímio espadachim e ter uma ótima pontaria. No entanto, com tantas habilidades ele havia de ter algum defeito, e esse era facilmente detectado.

      Introvertido e tímido, ele nunca costumou se deixar levar pelas conversações habituais que todas as pessoas estão dispostas a participar para conhecer outras, tanto que sua aproximação de Rodwell fora completamente por iniciativa do outro, que, ao conhecê-lo, soube lidar com seu gênio de uma maneira que os outros rapazes não sabiam. Desde então, a amizade dos dois cresceu e se fortaleceu demasiadamente. Se conheciam tão bem que, para Rodwell, um mínimo sinal de mudança de comportamento do amigo era perceptível, e como um bom observador ele não pôde deixar de lado o fato de que o outro estava bem desconcentrado enquanto treinavam lutar com espadas.

— O que está lhe deixando com a mente ocupada, coronel? — Ele perguntou depois de quase acertar um golpe em seu pescoço. — Será a donzela Daysi Henderston? 

— Você bem sabe que não — respondeu cansado. 

— Mas suponho que não seja algo tão bom quanto. — Ele sorriu e sentou-se na raiz da grande árvore que estava entre eles. — A vinda da condessa Paine e sua filha é o que lhe perturba? 

— Não consigo imaginar outro motivo para ficar tão inquieto. 

— Já passou por sua mente, considerar que suas preocupações desnecessárias poderiam desapontá-lo desta vez? 

— Com certeza, o que seria mais tranquilizante do que a chegada de Madelaine Paine ao condado? 

— A consciência de um homem crescido que não deve satisfações a ninguém — respondeu à ironia do rapaz num tom firme. — Afinal, o que traz essa mulher até uma região tão pacata? 

— Disse a mesma que está de férias, e que Maxfield lhe pareceu uma ótima rota. 

— Compreensível, a temporada de caça está para começar, mas não é comum que as pessoas venham para este lado do mapa, principalmente pessoas como a condessa. — O coronel permaneceu calado, alguma preocupação além dessa ocupava sua mente. — Tem medo que seu pai arranje um casamento com Lucy Paine? — Rodwell perguntou, já tendo conhecimento de que o duque Lawford poderia fazer para arranjar uma jovem à altura para o filho. 

— O que disse? — questionou assustado.

— Não me leve a mal, mas naturalmente nobres têm seus casamentos arranjados, seria surpreendente se com você fosse diferente, e não o contrário. Pelo menos terá uma sogra que gosta mais de você do que da própria filha, se gostasse dela, não cogitaria em comprometê-la com você — comentou risonho. 

      Dito isto, Rodwell deu mais confiança ao amigo que, mesmo demonstrando que não, continuava com os mesmos questionamentos e medos. Os rapazes voltaram à casa da Sra. Wylie depois de passarem no quartel, que os esperava para o almoço e os recebeu com amabilidade de uma mãe.

      Ansiosa para o baile, a madame não pôde deixar de expressar sua animação pelo sobrinho e o coronel terem sido convidados, mesmo estando em contato com a sociedade a tão pouco tempo. Ela falou muito bem de Olívia e Janett para os rapazes, mas a curiosidade de Rodwell não permitiu que sua tia esquecesse do assunto antes de perguntar sobre outra família de quem a mesma também era amiga, os Henderston. 

      A preocupação de Lawford que aquela curiosidade virasse uma obsessão e depois um sentimento forte era quase escassa, tinha certeza que Elaine se afastaria das intenções do amigo como fez no dia em que visitaram Hinxstone.

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