VI

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      A caminhada até Grader Park fora agradável, assim como Elaine tinha em mente, e quando Janett viu a silhueta da amiga, não tardou em apressar-se para chegar até ela. 

— Ellie, que bom finalmente vê-la! — disse com um sorriso no rosto ao se aproximar e abraçar a mais nova. — Estou feliz que tenha vindo tão rápido, tenho tantas coisas para lhe contar! 

— E eu para perguntar! — Sorriu. — Fico feliz por finalmente estar aqui, esses meses sem você para me tirar de casa foram os mais maçantes que já vivi. 

— Ora, e quem conseguiria tirá-la de casa além de sua própria vontade, Elaine? O fato de vir até aqui demonstra que me considera na mais alta conta, mas a verdade é que você tem medo de pessoas! 

— Se essas pessoas se comportarem como minha mãe enquanto em público, e como os cavalheiros que, pelo conceito da mesma, são bons pretendentes: devo admitir que está certa, minha querida amiga — disse risonha, entrelaçando seus braços. 

      Elas caminharam até o jardim, onde alguns criados preparavam uma mesa de chá com guloseimas e um ou dois pratos frios. Elaine sabia que todo aquele cuidado era obra de Olívia, e ansiava por vê-la. 

— Deve ir a Brighton, minha querida amiga. É uma cidade aconchegante e não houve um momento em que fiquei parada dentro da casa que alugamos. Havia tantas coisas a se fazer, tantos lugares para visitar. É verdadeiramente a maravilha que falam. 

— Certamente eu me sentiria sufocada com tantos deveres. 

— Com tantos rapazes bonitos, tenho certeza de que seus olhos não se ocupariam com outra coisa. 

— E de que vale a beleza se neles não há inteligência? 

— Você há de concordar comigo que nem todo homem é tão inteligente como você, mas o mundo não está repleto apenas de criaturas maçantes e desagradáveis. Existe uma pequena parcela de cavalheiros educados, sensíveis e bonitos, apesar de serem raros. 

— Devo dizer que não conheço sequer um cavalheiro que tenha todas as qualidades que descreveu, Janett. 

— Não existem homens perfeitos, Ellie, principalmente neste condado, mas Olívia diz que quando amamos alguém, enxergamos seus defeitos como atrativos, que fazem parte de sua singularidade. 

— Olívia é uma mulher apaixonada. Pessoas apaixonadas tendem a ser irracionais na maioria das vezes. 

— Você fala como se já tivesse vivido uma desilusão amorosa — comentou risonha. 

— Acabo tirando minhas conclusões com base nos livros que leio e nas histórias que ouço, mas não posso compor meus raciocínios com a destreza de alguém que tenha experiência no assunto. 

— Então não deveria opinar com ar de quem tem total propriedade.  

      Janett sorriu e a amiga ficou pensativa quanto à sua declaração. Costumava ser bem verdadeira com Elaine, chegando a reclamar de muitas ações e pensamentos errôneos e exagerados dela. Janett era uma moça esperançosa de gênio parecido com o de Daysi, mas tendia a ser mais tagarela que a Sra. Henderston e mais tola do que Carrie, ainda que fosse oito anos mais velha que a moça. Ela tinha fé no amor e esperava encontrar o rapaz certo para si, apesar de suas desilusões amorosas, que já somavam mais quantidade do que se poderia ser considerado saudável e de sua idade, que já não era tão adequada para o matrimônio.

— Pode me trazer um papel e algo com que eu possa rabiscar, por favor? — Elaine pediu à criada, no instante em que a donzela que lhe fazia companhia precisou retirar-se.  

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