X - A mata

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Úrsula, no entanto, no meio da acerba amargura da saudade sentia um
inefável transporte de amor e era feliz – seu amor ardente e apaixonado fora
compreendido, sem que por seus atos o desse a perceber ao homem que o
merecera. Ambos esses corações sentiram ao mesmo tempo desabrochar-
-lhes a centelha do amor que os abrasou. A saudade pungente da donzela
tinha pois um lenitivo – a esperança, esse dom do céu que nos acompanha
em todas as circunstâncias da vida.
Tancredo, esse homem de suas loucas afeições, e que ela tinha amado
ainda desconhecido, era toda a sua vida; e por isso a saudade, a mais pun-
gente, a primeira que lhe tocava a alma, envenenava agora essa fonte de
prazer inocente, esse manancial de venturas, que aí havia feito nascer a
chama de um primeiro e ardente amor.
Nunca tinha amado – na sua solidão seu coração era tão puro como o
de um anjo; foi esse o primeiro choque que lhe abalou a alma, e a saudade devia corresponder à grandeza desse sentimento. Chorava, pois, porque ia
ver partir o objeto de suas mais caras afeições; mas no momento da partida
fez um supremo esforço sobre sua aflição e estendeu a mão ao mancebo,
que a beijou com enlevo, e perguntou-lhe com magoado acento, que bem
revelava o pungir do seu coração:
— Tancredo, quando vos tornarei a ver?
O mancebo, comovido por tanto amor, amor que era ternamente cor-
respondido, amor que ele embalde tinha procurado na primeira mulher, que
amou, sorriu-lhe com reconhecimento, e tornou-lhe com afeto.
— Lembrai-vos, Úrsula, que vos levo no coração, que seguir-me-á a vossa
imagem, que hei de ver-vos em todos os objetos que me circundarem, que
deixo minha alma e meu coração – todo o meu prazer, minha felicidade pre-
sente, o esquecimento de um passado amargo, as esperanças de um porvir
deleitoso e cobiçado: lembrai-vos disto, e acreditai que breve estarei con-
vosco. Contarei os dias da ausência pelo pungir de minhas saudades, e por
breves que eles sejam achá-los-ei por demais longos. Longínquo é ainda o
caminho que tenho a percorrer, mas a lembrança de que um anjo me aguarda
com amor, e que esse anjo sois vós, dar-me-á asas, e estarei convosco daqui
a meio mês. Então – acrescentou com um acento inexprimível – então serei
para sempre vosso!
E Úrsula sentia-se inquieta, como se um perigo iminente estivesse a
ameaçá-la.
O cavaleiro enfim partiu, e ela nada disse, e só um soluço doído, como o
de quem geme de um pesar profundo, lhe rebentou do peito.
Tancredo transpusera já grande espaço, e Úrsula ainda não mudara seus
olhos umedecidos de sobre ele, e o mancebo prosseguia rápido, até que
uma ilhota de verdura o encobriu à vista da saudosa donzela. Então deixou
o lugar dessa tocante despedida, e, como desejosa de confiar a alguém a dor
das suas saudades foi correndo à mata, onde tinha ouvido dos lábios dele a
confissão sincera do seu amor, e logo para aí dirigiu os passos, penetrou
a mata, e lá, junto ao tronco secular, começou a derramar sentidas lágrimas.
O sol, segundo sua marcha inalterável, dardejava na terra seus últimos e
enfraquecidos raios, insinuando luminoso resplendores por entre as franças
do arvoredo da mata solitária.
E Úrsula soluçava com lembrança da partida de seu jovem adorador,
quando ao longe julgou ver dois pontos fugitivos. Era Tancredo, era Túlio, ela
os reconheceu, ou melhor, o seu coração reconheceu o primeiro; e ela louca
de afeto, que lhe requeimava o peito, estendeu-lhe os braços com delírio e
com voz sufocada de novo lhe enviou seus ternos protestos. Mas ele ia já
muito avançado para ouvir-lhe essa voz saída do coração.
A donzela então saiu da mata; porque lembrou-se de sua mãe, e volveu
para ela; mas no dia imediato, à mesma hora do crepúsculo, voltou à mata, e
imergida em sua meditação às vezes esquecia-se de si própria para só pensar
no seu Tancredo. Soltando as asas à sua ardente imaginação, seguia-o na
sua divagação, escutava-lhe a voz no rumorejar do vento, via-o no meio
da solidão, e afagava-o com seus meigos transportes nesses lugares onde
só estavam ela e Deus. E depois de longo e profundo cismar, muitas vezes
punha-se a entalhar na árvore, testemunha de sua primeira ventura, o nome
querido de Tancredo! Tão doce aos seus ouvidos. Com tanto esmero pro-
curou entalhá-lo esse dia que, completamente absorvida nesse empenho,
se esquecera do mundo inteiro. E o nome enfim estava completo, e ela
pôs-se a soletrá-lo com um enlevo próprio da sua idade, e que só as almas
apaixonadas podem compreender, quando o som desagradável, e medonho
de um tiro de arcabuz, disparado bem junto dela, a veio arrancar a esse
recreio do espírito e a fez estremecer convulsa e dar um grito involuntário.
Espavorida, e meia morta de terror, ia ela alevantar-se, quando uma ave-
zinha, uma infeliz perdiz, como que implorando-lhe socorro, veio, ferida e
agonizante, cair-lhe aos pés. Movida de compaixão, desvaneceu-se-lhe por
encanto o pavor que o som do tiro lhe incutira na alma e, tomando a pobre-
zinha em suas mãos, por excesso de bondade levou-a ao peito. Um rastro de
sangue lhe nodoou os vestidos alvíssimos de neve.
Nesse momento, a desgraçada perdiz exalou o derradeiro suspiro: a
moça deixou-a cair das mãos, levou estas aos olhos, e exclamou:
— Jesus! Meu Deus!
É que mudo, e contemplativo, junto dela estava um homem. Os olhos,
tinha-nos ele fixos sobre a donzela amedrontada – dir-se-ia a estátua do
pasmo, ou da admiração.
E Úrsula e esse homem por alguns momentos guardaram profundo
silêncio; nela motivavam-no a surpresa, o terror, o desgosto, que lhe causavam a fisionomia desse homem de tão sinistro olhar: nele, a deleitável contem-
plação desse rosto feminil de tão pura e ideal beleza.
E assim permaneceram, ela a recobrar coragem para escapar a esse desco-
nhecido que a incomodava; ele a contemplar-lhe as negras tranças molemente
reclinadas sobre uns ombros de marfim, as mãos diáfanas e mimosas, que lhe
velavam o rosto, que divisava ser belo como o rosto angélico de um querubim.
Por fim, a moça desembaraçou de entre as mãos as faces cândidas e
aveludadas, e olhou em cheio, com horror e com desdém para o seu mudo
companheiro. Assim desdenhoso esse rosto, que ainda tão vivamente se
ressentia das comoções por que havia passado o coração, era ainda mil
vezes mais belo.
E esse olhar tão expressivo, o desconhecido sentiu que queria dizer-lhe:
— Ide-vos!
Ele embalde tentou obedecer a essa ordem muda de um ente tão divino,
qual jamais havia visto; mas quem sabe se o coração lho permitia?
Estranho foi o que se passou então em sua alma, e ele sentiu que alguma
coisa lhe abalava o fundo do peito; gemeu de um primeiro afeto, e curvou-se
ao ímpeto de uma paixão insensata.
E o instrumento mortífero estava-lhe nas mãos, e ele o não via, porque
seus olhos estavam fitos sobre a encantadora donzela: mas ela o viu, estre-
meceu, e um novo grito lhe prorrompeu dos lábios.
Úrsula ia fugir.
— Em nome de vossa mãe – exclamou o caçador, tolhendo-lhe os
passos – não fujais, Úrsula!
A esta expressão, a filha de Luísa B. fitou-o com curiosidade: este homem
tão estranho conhecia-a sem dúvida, e ela nunca o tinha visto! Chamou-a
pelo seu nome, suplicou-a em nome de sua mãe!... quem era ele pois?
Ele compreendeu tudo, e por um instante a perturbação da sua alma
transpirou-lhe no rosto alguma coisa alterado. Depois arremessou com des-
prezo para longe de si o arcabuz, que amedrontava a moça, e voltou para ela
os olhos, como querendo dizer-lhe:
— Tranquilizai-vos!
Com efeito, esta ação de delicada civilidade um pouco a reanimou,
e, quase envergonhada de ter patenteado tão feminil fraqueza de ânimo, procurou reassumir alguma coragem, e erguendo a fronte, encarou o desco-
nhecido com uma frieza que o perturbou.
Ele tentou falar; mas os olhos dessa menina lhe impuseram respeitoso
silêncio.
Esse homem não estava no verdor dos anos; mas sua fisionomia, suposto
que severa e pouco simpática, nessa hora crepuscular, que dá certa sombra
a toda a natureza, não denunciava a sua idade. A pele sem rugas, os olhos
negros e cintilantes, tinham um quê de belo; mas que não atraía. Era de
estatura acima da medíocre, esbelto, e bem conformado; e as feições finas
davam-lhe um ar aristocrático, que, quando não atrai, sempre agrada.
Malgrado seu, Úrsula começou a sentir-se oprimida pelo olhar do des-
conhecido, a quem o seu deixava já de dominar, e caiu de novo sobre o
assento talhado no tronco. Era como se esse homem a tivesse magneti-
zado. A sua vista causava repugnância, queria escapar-lhe; mas as forças
abandonavam-na e seus belos olhos cor de ébano estavam sobre ele fixos.
O terror, a desconfiança, a inquietação, pintavam-se no rosto pálido e
aflito, no olhar fixo e pasmado dessa pobre moça.
— Meu Deus! – dizia ela consigo – Quem será este homem, e o que quer
ele de mim?
Diversos eram os pensamentos do caçador.
Uma chama ativa lhe abrasava a alma, talvez a primeira que assim o
requeimava, e bem ardente devia ser ela; porque ele sentia no peito ondear-
-lhe, e ferver em cachões o violento fogo de uma cratera. Ainda assim, mal
lhe traía no rosto o que lhe ia lá na alma.
Ele deu um passo para a donzela, e ela de pronto ergueu-se, trêmula de
angústia e de terror, e bradou com ânsia:
— Oh! Quem quer que sejais, senhor, que me quereis? Segui o vosso
caminho, e deixai-me sossegada e tranquila.
— Meu Deus! Senhora! – exclamou ele – Não vos compreendo. Em que
vos posso incomodar?!...
— Acabai, senhor, – continuou ela – esta penosa entrevista. A vossa
presença não só me incomoda, como me causa susto.
— Deveras? – interrompeu o desconhecido – deveras! Úrsula, porque
vos causa susto a minha presença, que mal vos hei feito? Acaso me conheceis?
— Senhor, – tornou ela com voz súplice – não me vedes a saída desta
mata, necessito voltar para junto de minha mãe.
— De vossa mãe! – inquiriu o caçador com emoção – E não foi em nome
dela que acabo de suplicar-vos que não me fugísseis? Úrsula, talvez me per-
doásseis essa desagradável impressão, que à primeira vista tive a infelici-
dade de causar-vos, se soubésseis quem sou, e o quanto hei sido amigo de
vossa mãe. De vossa mãe – repetiu ele com voz um pouco alterada. – Luísa!
Luísa! Quanto os anos a terão desfeito! Não sereis também minha amiga,
quando me conhecerdes?
— Eu! – exclamou a moça com ingenuidade. – Eu, senhor! E por quê?
Minha infeliz mãe vergou sob a influência de uma sorte adversa, gemeu
até hoje as dores de uma penosa enfermidade, chorou com amargura uma
viuvez prematura, e a orfandade de sua filha, e nunca um amigo generoso,
ou uma alma sensível, nunca, senhor, enxugou-lhe a lágrima ardente, que
lhe queimava as faces.
Nunca Luísa B. teve amigos. Zombais, ou faltais à verdade.
— Úrsula, – tornou ele – que prevenção é essa? Úrsula, vós me odiais.
— Não, mas não vos creio. E demais, para que me demorais? Sede breve,
dizei o vosso intento, que quero partir.
E seus olhos, descaindo para o chão, encontraram a ave morta, que
lhe caíra aos pés, e os seus vestidos nodoados daquele sangue inocente.
Estremeceu involuntariamente, e contrariada pela obstinação daquele
homem de tão sinistro aspecto, disse-lhe com certo tom de desespero:
— Sim, tínheis razão quando dissestes que eu vos odiava. Sois obstinado
em incomodar-me; sabei pois que me é insuportável a vossa presença. Vedes
esta avezinha? Para que a matastes? Não era ela tão inocente e bela? A dor
do seu coração feriu o meu, e o seu sangue tingiu-me os vestidos. Esse ato
de inútil crueldade faz-me aborrecer-vos.
— Senhora! – retrucou ele. – Que infelicidade! Incorrer no vosso desa-
grado! mas...
— Mas, senhor, – interrompeu ela impacientando-se – que pretendeis?
— São loucas as minhas pretensões, senhora, sim, loucas; porque se me
animasse a confiar-vo-las, o vosso desprezo ia talvez esmagar-me. Permiti
que me conserve em silêncio, que nada tem ele de ofensivo para vós.
— Pois bem, – disse ela – guardai-o muito embora; mas deixe-me em
nome do céu.
— Deixar-vos?!... Oh! Não, mil vezes não! E cedendo a um excesso de
apaixonada loucura, ou de amoroso delírio, curvou-se ante Úrsula, pálida de
aflitiva angústia e de antipático horror.
— Úrsula! Úrsula – continuou com acento arrebatado. – Oh! não me
desdenheis, não me acabrunheis e desespereis com o vosso rancor. Se me
amardes, no meu amor encontrareis a felicidade; porque agora sou vosso
escravo. Nunca o tereis mais humilde, mais dócil, acreditai-me. Nunca amei,
e julguei mesmo, – louco que eu era! – julguei no meu orgulho estúpido
que nunca amaria mulher alguma. Destruístes a minha ilusão. Vi-vos, e um
amor apaixonado, como um filtro venenoso, se me derramou na alma. Nunca
supliquei, e agora eis-me súplice, humilhado na vossa presença: na presença
de uma menina!
— Úrsula, – continuou – oh! Pelo céu, acreditai-me. Amo-vos. Apenas
há um momento que vos conheço e parece que há um século que vos ido-
latro. É ardente e violento o afeto que nutro no peito. Menos puro fora ele,
que, imenso como acabo de confessá-lo, saciá-lo-ia sem dificuldade. Meus
escravos não estarão longe, muitos deles seguiram-me à caça: chamá-lo-ia,
e vós seríeis conduzida em seus braços, apesar dos vossos gritos, e do vosso
desespero, até minha casa, onde seríeis minha, sem terdes o nome de esposa.
Não é isto verdade?
Mas não. O amor que ora desenvolvestes em meu coração é tão ardente,
quanto respeitoso. Nasceu agora, mas tanto já influiu sobre mim, que é humi-
lhado que vos peço que o não desdenheis.
Se pudésseis sentir, compreender somente, o que ora se passa em mim...
Mas sois inflexível! Úrsula, quando voltardes aos vossos lares, quando, des-
cansada em vosso quarto, recordardes esta cena da mata, não zombeis do
homem que vos fala; por que este amor, que me escalda o coração, há de
durar enquanto eu existir.
Úrsula, tímida e angustiada, ouvira todo este discurso sem interrompê-lo;
mas o coração lhe estava gelado de aflição.
— Senhor, – disse ela com voz trêmula e titubeante, – acabastes?
— Aguardo por uma palavra vossa – tornou o desconhecido, fitando
nela um olhar inexprimível.
— Uma palavra?! Aguardais uma palavra minha? Pois bem! Abusastes
por demais da minha fraqueza. Estou só, o lugar é ermo, tudo vos protege,
e vos anima. Se fôsseis mais cavalheiro, seríeis comedido em expressões,
que sempre foram tidas por ofensivas quando ditas por estranhos, e nunca
chegaríeis a uma impertinência tão desagradável.
E com dignidade e serenada acrescentou:
— Senhor, eu devo voltar para minha casa.
O caçador tomou-lhe das mãos, e disse-lhe:
— Ao menos dizei que não me odiais!
— Sim, – tornou a moça, procurando desprender-se-lhe das mãos – sim,
não vos odeio; mas deixai-me em paz.
— Em nome de vossa mãe, Úrsula, imploro-vos...
— O que, senhor?
— Uma só palavra, que me anime.
— Oh! Não, nunca – replicou ela com enérgica viveza. E depois
interrogando-o com o olhar, tratou de empregar pela primeira vez a dissimu-
lação, e ajuntou:
— Afirmastes ser amigo de minha mãe, não o acreditei; falais-me de
um amor, que a meu pesar em vós despertei, e quereis que o corresponda,
tenho-me até agora negado semelhante compromisso; mas tudo isso pode
modificar-se, se eu puder conhecer-vos, se for permitido agora saber quem
sois. O vosso nome?
— O meu nome! – exclamou tristemente o caçador deixando cair as
mãos da moça. – Se o conhecêsseis!... Não, Úrsula, eu quero ser amado,
ainda mesmo desconhecido.
E um assomo de dor, e uma onda de frenética raiva, baralharam-se
na alma do desconhecido, e marulhadas, e ferventes, vieram refletir-lhe
no rosto. E as feições tomaram expressão difícil de descrever: os lábios
agitaram-se convulsos, os olhos faiscaram fulvo brilho, que se extinguiu em
breve. Um doloroso abatimento, que denunciava talvez a recordação penosa
e amarga de algum acontecimento anterior, lhe empalideceu o rosto. Ele sus-
pirou, e de novo objetou:
— O meu nome, Úrsula, mais tarde o sabereis!
Agora ide-vos!
Rogai ao céu, – acrescentou – meiga e inocente donzela, rogai ao céu para
que vos possa esquecer; porque se o meu amor prosseguir assim, extremoso,
indomável, apaixonado, haveis de ser minha; porque ninguém me desdenha
impunemente. Ouvis? – disse em tom de ameaça, e depois em meia súplica
ajuntou – Oh! Por Deus, não troqueis a ventura pela dor, e quem sabe pelo!...
Esta ameaça horrível, dita com voz alterada, e em tais horas, eriçaram
os cabelos da moça, que ficou pálida e queda de horror.
— Ide – concluiu ele.
E ela toda agitada e confusa deixou a mata, prometendo a si mesma não
voltar jamais àquele lugar.
E o caçador seguindo-a com os olhos e com o coração, quando a moça
desapareceu numa volta do caminho, com olhos arrasados de lágrimas, disse:
— Mulher! Anjo ou demônio! Tu, a filha de minha irmã! Úrsula, para que
te vi eu? Mulher, para que te amei?!... Muito ódio tive ao homem que foi teu
pai: ele caiu às minhas mãos, e o meu ódio não ficou satisfeito. Odiei-lhe as
cinzas; sim odiei-as até hoje; mas triunfaste do meu coração; confesso-me
vencido, amo-te! Humilhei-me ante uma criança, que desdenhou-me e
parece detestar-me! Hás de amar-me.
Humilhado pedi-te o teu afeto. Maldição! Paulo B. estás vingado!
Tua filha oprime-me com o seu indiferentismo, e esmaga-me com o seu
desprezo, como se me conhecera!
Mulher altiva, hás de pertencer-me ou então o inferno, a desesperação,
a morte serão o resultado da intensa paixão que ateaste em meu peito.

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