Ontem à noite eu tava passando um creme estranho nas minhas tatuagens do braço, quando a Jaqueline apareceu que nem uma assombração no meu quarto pra pedir uma escova de cabelo, e com o susto eu acabei derrubando o creme no chão e tive que passar um bom tempo limpando o solo branquinho do meu quarto.
Mas isso não é o mais importante, apesar de que aquele creme era o último em estoque que eu tinha achado no AliExpress. Uma peninha, só nos resta chorar *ou comprar baratas de borracha e colocar no cabelo da Jequiti enquanto ela dorme.
Voltando ao assunto. To muito dispersa hoje.
Enquanto eu limpava super triste o chão do meu quarto, eu resolvi refletir sobre a vida. Ou em outras palavras, esse assunto simplesmente surgiu na minha cabeça sem prévio aviso.
Pedro, sua namorada e a festa não-festa de aniversário.
Quando eu convidei ele, e nós acabamos falando sobre a namorada dele causar na minha festinha, tava tudo de boas pra mim, eu tava levando tudo na brincadeira.
Só que agora eu to torcendo muito pra que ele não tenha falado pra ela sobre a festa. Imagina só, ela chega lá e arma o maior barraco, me puxa pelo cabelo, joga minha cara no meio das pizzas.
Talvez isso animasse a festa, ou fosse engraçado de se assistir. Faz tempo que não me envolvo em brigas físicas, e até que é divertido *quando eu to ganhando.
Mentira gente, eu sou evangélica.
Enfim, vou aproveitar que está quase na hora de entregar o jantar dele e eu pergunto se ele falou pra namorada sobre o convite. Quando nós conversamos sobre isso, ele agiu como se tivesse certeza que ela não iria. Vai saber...
Fora essas paranóias que dão uma dorzinha de cabeça, eu passei o dia entregando comida e ouvindo música enquanto isso. Percebi que trabalhar ouvindo música é muito mais divertido, porque parece que eu to em um daqueles filmes da Disney que a Selena Gomez estrelava.
Uma moça *que usava uma bandana do Bob Esponja até me olhou torto quando percebeu que eu cantarolava Elvis Presley enquanto ela procurava o dinheiro na bolsa.
As pessoas são frias, não fale com elas.
Exagerei um pouco. Preciso ser fofa pra equilibrar: vocês também dormem com bichinhos de pelúcia?
Às vezes eu surto *ou sempre. É melhor eu entregar a comida do bonitinho *Orochinho de uma vez por todas. Quero conversar com ele...
Opa Lúcia querida ele tem uma namorada, que por sinal te odeia! Tá feita na vida, arrasou.
Parei.
— Lúcia! — Pedro praticamente grita, interrompendo uma rápida crise existencial que eu tive agora.
— Por que gritou, desgraça?! — eu exclamo, gritando também — Eu tava...te entregando a comida, não percebeu? — disfarço, estendendo brutalmente o pacote que seguro.
— Pra que agredir?! — ele diz, rindo da minha cara e pegando o pacote da minha mão.
— Agredir, eu? Você cheirou tang, meu filho! — eu brinco, levantando uma sobrancelha — E falando em tang, você por acaso contou pra sua namorada sobre a minha festa? — eu pergunto, meio desesperada pela resposta.
Ele me olha torto, antes de rir. Eu sou realmente boa em juntar um assunto com outro. Ou não.
— Então, sobre isso... — ele enrola um pouco, fingindo se espreguiçar, depois fingindo ter visto alguma coisa estranha na parede, enfim, foi uma vida.