E mais uma vez esse menino usa frases maliciosas. Ele não entende que estamos em 2019 e tudo é piada? Fico indignada com essas coisas.
Eu fiquei empolgada depois dele ter mencionado um tal lugar "mais divertido", só que não demorou muito pra ele me puxar pelo braço até a entrada e dizer um rápido "tchau" antes de quase fechar a porta.
Sim, eu falei "quase". Porque como eu sou uma ninja desaforada, segurei a porta pra impedir que ele fechasse.
— Eu não vou embora. — digo, óbvia.
Acho que ele já imaginava que eu faria isso, porque ficou me encarando de maneira estranha. Qual o problema desse garoto? Ele tá agindo como se eu não fosse a amiga que ficou bêbada e dormiu na mesma cama que ele pouco tempo atrás.
— Você tem comida pra entregar e tá aqui falando comigo? — ele abre a porta por inteira e se encosta da parede, cruzando os braços.
— Querido, não tenho tempo pra ficar falando de comida, tá? A minha tia provavelmente ainda tá lá deitada no sofá assistindo Damares e a Natura no banco, então eu preciso aproveitar o tempo que tenho pra fazer alguma coisa legal. Só isso. — eu digo, rapidamente.
Ele respira fundo e torce o nariz.
— Tá bom, tá bom. Mas eu não tenho ideia do que fazer, e antes de qualquer coisa eu quero jantar. — Pedro diz, entrando de volta em seu apartamento.
Eu o sigo até a cozinha, e ele já prepara tudo *no caso a boca e o estômago pra comer. Não acredito que vou ter que esperar ele terminar de jantar pra pensar em algo legal pra fazer.
O bonitinho vai até a sala com o prato na mão e se senta no sofá. Eu o sigo *que nem um cão adestrado.
— Quer? — ele pergunta, de boca cheia, estendendo o prato pra mim, que estou de pé ao lado do sofá.
Eu viro a cabeça e faço uma careta.
— Que lindo você, né? Maravilhoso. — eu brinco, pegando o prato da mão dele com força e me sentando ao seu lado.
— Escrotona. — ele resmunga, entre risos.
— Para! — eu reclamo, sem paciência.
— "Para!" — ele tenta *e falha miseravelmente imitar minha voz.
— Come essa merda logo, antes que eu sente a minha mão na sua cara! — eu digo rindo, o que estraga toda a essência da ameaça.
Ele começa à cantarolar um sertanejo.
— Só os corno com a mão pra cima! — eu grito, entrando no clima.
Nós rimos disso por um longo *longo mesmo tempo.
— E agora? Tá mais felizinho? — eu pergunto, assim que nos recuperamos e terminamos de comer.
Parece que a gente acabou de fuder loucamente no sofá, mas só estávamos numa crise de risos. Por que eu to pensando em sexo? Eu sou uma moça gospel.
— Você devia se vender como "antidepressivo" nas farmácias. Passar um tempo do seu lado é tipo ir num parque de diversões... — Pedro sorri pra mim, e eu acompanho. — Isso foi bem gay.
— É uma honra ser elogiada pelo corno mais amado do Brasil. — eu faço uma voz estranha, e pulo do sofá — Agora vamo fazer alguma coisa legal.
— Tipo? — ele se levanta também, e fica de frente pra mim.
Passei um tempo pensando.
— Já sei! — eu seguro seus ombros, animada — Vamos trolar a tia Martinha.