Fora o tempo que passei no celular, vendo aquelas postagens feministas que tem em algumas pastas do Pinterest, eu resolvi conversar com o moço do uber, porque sim.
— Agora me fala, seu Antônio: ela tá certa? — faço uma pergunta muito retórica, indignadíssima — Claro que não! Ela tinha ciúmes de uma coisa que nem existia, só foi existir bem depois dela se mandar... — resmungo, não dando oportunidade pro seu Antônio falar.
— Olha, fia: vocês podiam conversar e entrar num acordo, não acha? — seu Antônio questiona, antes de olhar pro retrovisor. — Quem sabe até viram amigas.
— Ela nunca vai querer ser minha amiga. E eu também não. — dou de ombros, e não digo mais nada.
Ao chegarmos no prédio, tomo uma decisão. Vou entregar as roupas de boa pra moça e sair sem falar muita coisa. Controla essa boca, Lúcia...
Subo de elevador até o andar onde ela mora, e preparo o psicológico antes de tocar a campainha. Me pergunto se foi uma boa ter pedido por mensagem ao Pedro o endereço dela. Eu to pressentindo que ela vai encher a minha paciência falando merda.
— Olha só se não é a piranha que roubou o meu homem. — Bianca enrola uma mecha do seu cabelo assim que me atende.
— Suas roupas, querida. — eu estendo *com dificuldade a sacola cheia de roupas pra ela.
— Nossa, achei que você fosse querer roubar elas de mim, também. — ela pega o saco.
— Eu não roubei nada, você perdeu. O homem, e quase as roupas. Toma cuidado da próxima vez... — eu sorrio, dando meia volta.
— Espera aí, Lúcia. É Lúcia, né? Desculpa eu não me preocupo em lembrar de certas criaturas... — ela diz, sonsa.
Volto à posição de ataque *ou anti-ataque.
— É Lúcia. — olho pro teto.
— Lúcia, você tá de guerrinha comigo, por acaso? Quem tem que ficar irritada sou eu, já que a talarica aqui é você. — ela cruza os braços, me encarando, ansiosa por uma resposta.
Respiro fundo, coloco as mãos pra trás.
— Primeiro: não somos amigas pra eu ser talarica. Segundo: não tô de guerrinha, só vim ser um bom ser humano e entregar suas coisas. — digo tentando me manter calma. — E terceiro: de você só quero distância.
— Devia pensar em distância antes de roubar o meu namorado. — ela aponta o dedo no meu peito *que quase não existe.
— Olha aqui! — respiro fundo, perplexa — Bianca, quantos namorados você já teve?
— Alguns, por que? — ela diz, convencida.
— Quando você terminou com esses caras, e eles começaram a namorar outras pessoas, não significa que essas pessoas roubaram eles de você! — digo, rapidamente.
— E o que significa, sabichona? — ela debocha.
— Significa que ninguém liga pra você. — explodo — Tá todo mundo preocupado em ter seus relacionamentos de boa, então pra você entender: o mundo não gira em torno da sua buceta! — eu exclamo, e ela arregala os olhos.
— Você acha que eu sou burra? Eu ainda estaria namorando o Pedro, se você não tivesse entrado no apartamento dele, aquele dia! — ela exclama.
— Claro que sim. — eu rio, sarcástica — E eu estaria fazendo compras com a Kylie Jenner, agora.
— Quer saber? Se você estiver mesmo namorando ele, eu espero que alguém roube ele de você. Isso se esse alguém não for eu, né? — ela ri — Aquele boy me ama ainda, só tá hipnotizado pela sua feiúra.
— Querida, tenha noção e lide com a realidade que com certeza não é essa! A vida é uma calcinha enfiada no cu às vezes, mas fazer o que? Não gostou, chora no banho!
— Agora vai me dizer o que eu tenho que fazer, sua piranha? Vai se fuder! — ela grita.
— Eu não ia fazer isso, mas já que vai te irritar eu faço, tá? Vamo começar pela parte em que você para de ser biscate-
— Eu não te suporto mais, garota! — Bianca me interrompe, e depois dá um tapa na minha cara.
Eu paraliso onde o tapa me levou, e pouco tempo depois meu rosto volta devagar aonde estava.
— Ah, desgraçada! Paquita do capeta! — grito, dando-lhe um tapa exatamente no mesmo lugar.
Após o tapa, Bianca volta à sua posição e me puxa pelo cabelo pra dentro do apartamento. Eu a empurro no chão, e começo a bater em seu rosto. Com dificuldade, ela consegue trocar de lugar comigo e faz o mesmo que eu, enquanto eu tento segurar seus braços e xingo ela de diversas formas.
Dou uma joelhada na barriga dela, o que a faz se distanciar de mim, e isso me dá espaço pra levantar do chão. Me sinto uma personagem de filme de boxe, só que na versão idiota e estúpida.
Ela se rasteja até o sofá, enquanto eu me levanto com dificuldade e coloco a mão no rosto. Sinto algo pingar no mesmo, e aí percebo que não conseguiria continuar a briga, pois estou sangrando para dedéu.
Vou até a porta, mancando um pouco. Olho uma última vez pra Bianca, e percebo que ela tosse e ri ao mesmo tempo. Que criatura estranha. Como eu queria ficar presa em um supermercado vazio agora, pra não ter que dar satisfação desses machucados à ninguém.
Inferno.
E essa criatura, hein? Tenho certeza que a certidão de nascimento dela é um pedido de desculpas da fábrica de preservativo.