50.

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Fora o tempo que passei no celular, vendo aquelas postagens feministas que tem em algumas pastas do Pinterest, eu resolvi conversar com o moço do uber, porque sim.

— Agora me fala, seu Antônio: ela tá certa? — faço uma pergunta muito retórica, indignadíssima — Claro que não! Ela tinha ciúmes de uma coisa que nem existia, só foi existir bem depois dela se mandar... — resmungo, não dando oportunidade pro seu Antônio falar.

— Olha, fia: vocês podiam conversar e entrar num acordo, não acha? — seu Antônio questiona, antes de olhar pro retrovisor. — Quem sabe até viram amigas.

— Ela nunca vai querer ser minha amiga. E eu também não. — dou de ombros, e não digo mais nada.

Ao chegarmos no prédio, tomo uma decisão. Vou entregar as roupas de boa pra moça e sair sem falar muita coisa. Controla essa boca, Lúcia...

Subo de elevador até o andar onde ela mora, e preparo o psicológico antes de tocar a campainha. Me pergunto se foi uma boa ter pedido por mensagem ao Pedro o endereço dela. Eu to pressentindo que ela vai encher a minha paciência falando merda.

— Olha só se não é a piranha que roubou o meu homem. — Bianca enrola uma mecha do seu cabelo assim que me atende.

— Suas roupas, querida. — eu estendo *com dificuldade a sacola cheia de roupas pra ela.

— Nossa, achei que você fosse querer roubar elas de mim, também. — ela pega o saco.

— Eu não roubei nada, você perdeu. O homem, e quase as roupas. Toma cuidado da próxima vez... — eu sorrio, dando meia volta.

— Espera aí, Lúcia. É Lúcia, né? Desculpa eu não me preocupo em lembrar de certas criaturas... — ela diz, sonsa.

Volto à posição de ataque *ou anti-ataque.

— É Lúcia. — olho pro teto.

— Lúcia, você tá de guerrinha comigo, por acaso? Quem tem que ficar irritada sou eu, já que a talarica aqui é você. — ela cruza os braços, me encarando, ansiosa por uma resposta.

Respiro fundo, coloco as mãos pra trás.

— Primeiro: não somos amigas pra eu ser talarica. Segundo: não tô de guerrinha, só vim ser um bom ser humano e entregar suas coisas. — digo tentando me manter calma. — E terceiro: de você só quero distância.

— Devia pensar em distância antes de roubar o meu namorado. — ela aponta o dedo no meu peito *que quase não existe.

— Olha aqui! — respiro fundo, perplexa — Bianca, quantos namorados você já teve?

— Alguns, por que? — ela diz, convencida.

— Quando você terminou com esses caras, e eles começaram a namorar outras pessoas, não significa que essas pessoas roubaram eles de você! — digo, rapidamente.

— E o que significa, sabichona? — ela debocha.

— Significa que ninguém liga pra você. — explodo — Tá todo mundo preocupado em ter seus relacionamentos de boa, então pra você entender: o mundo não gira em torno da sua buceta! — eu exclamo, e ela arregala os olhos.

— Você acha que eu sou burra? Eu ainda estaria namorando o Pedro, se você não tivesse entrado no apartamento dele, aquele dia! — ela exclama.

— Claro que sim. — eu rio, sarcástica — E eu estaria fazendo compras com a Kylie Jenner, agora.

— Quer saber? Se você estiver mesmo namorando ele, eu espero que alguém roube ele de você. Isso se esse alguém não for eu, né? — ela ri — Aquele boy me ama ainda, só tá hipnotizado pela sua feiúra.

— Querida, tenha noção e lide com a realidade que com certeza não é essa! A vida é uma calcinha enfiada no cu às vezes, mas fazer o que? Não gostou, chora no banho!

— Agora vai me dizer o que eu tenho que fazer, sua piranha? Vai se fuder! — ela grita.

— Eu não ia fazer isso, mas já que vai te irritar eu faço, tá? Vamo começar pela parte em que você para de ser biscate-

— Eu não te suporto mais, garota! — Bianca me interrompe, e depois dá um tapa na minha cara.

Eu paraliso onde o tapa me levou, e pouco tempo depois meu rosto volta devagar aonde estava.

— Ah, desgraçada! Paquita do capeta! — grito, dando-lhe um tapa exatamente no mesmo lugar.

Após o tapa, Bianca volta à sua posição e me puxa pelo cabelo pra dentro do apartamento. Eu a empurro no chão, e começo a bater em seu rosto. Com dificuldade, ela consegue trocar de lugar comigo e faz o mesmo que eu, enquanto eu tento segurar seus braços e xingo ela de diversas formas.

Dou uma joelhada na barriga dela, o que a faz se distanciar de mim, e isso me dá espaço pra levantar do chão. Me sinto uma personagem de filme de boxe, só que na versão idiota e estúpida.

Ela se rasteja até o sofá, enquanto eu me levanto com dificuldade e coloco a mão no rosto. Sinto algo pingar no mesmo, e aí percebo que não conseguiria continuar a briga, pois estou sangrando para dedéu.

Vou até a porta, mancando um pouco. Olho uma última vez pra Bianca, e percebo que ela tosse e ri ao mesmo tempo. Que criatura estranha. Como eu queria ficar presa em um supermercado vazio agora, pra não ter que dar satisfação desses machucados à ninguém.

Inferno.

E essa criatura, hein? Tenho certeza que a certidão de nascimento dela é um pedido de desculpas da fábrica de preservativo.

dinner [orochinho]Onde histórias criam vida. Descubra agora