59.

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— Você tá chorando? — Giovana exclama, preocupada, assim que entra no meu quarto.

— Não. — digo, passando as mãos pelas minhas bochechas sardentas *e molhadas.

— Tinha um cisco no seu olho? — ela debocha, colocando uma mão no meu ombro.

— Não. — reviro os olhos.

— Fala a verdade. — ela se senta ao meu lado na cama e me balança.

— Tá bom. — eu me afasto, impaciente — Eu tava ensaiando pra quando for atriz da Globo. — levanto as sobrancelhas, caindo na gargalhada.

— Sem graça. — ela resmunga, fazendo uma careta.

— Quem tá chorando? — Avon brota do nada no quarto e pergunta, curiosa *até demais.

— A Raquel. — eu digo rapidamente.

Não me julguem. Eu disse mais de uma vez que gostei dela, mas ainda sim é um feto irritante. Não vai me fazer mal nenhum prejudicar um pouco a vida dela hoje.

Afinal, qual será a maior preocupação dela? Com quem pedir o carregador portátil pra não levar choque na tomada? Please.

Nossa, eu tenho probleminhas.

Jaqueline sai do quarto depois de eu mencionar o nome da pirralha. Pelo menos isso vai fazer a minha irmã desgrudar de mim, pelo menos por uns minutos. Não consigo me ver livre de problemas.

Caso você ainda esteja se perguntando *em vez de ir lavar o monte de louça que tem na pia da sua casa, eu estava chorando sim. Fiquei vendo nossas conversas antigas e acabei chorando por sentir saudade dele.

Acho que nem foi saudade, e sim ÓDIO DE MIM MESMA. Ele continua achando que eu viajei pro interior, sendo que eu não coloquei os meus pés pra fora desse apartamento um só fucking dia.

Minha cara tá melhor *meu olho não tá mais roxo aleluia, mas a minha situação só piora. Minha irmã não quis ficar em casa comigo e eu tive sorte dele não ter esbarrado com ela pelo prédio.

E agora eu to desabafando com pessoas que não podem fazer absolutamente nada pra me ajudar. Ou será que podem?

PODEM SIM! Vocês vão me sugerir músicas tristes pra eu ouvir antes de dormir. Pode ser brasileira também, tanto faz. Só quero chorar e me odiar mais e mais. Nossa, que tenso ficou esse clima. Vamo equilibrar? Vamo, tia Lúcia.

Ursos ou pôneis? Essa é difícil. Ou não.

Ok, eu sei que fui eu que me adiantei em ir na casa da Bianca *criatura exótica e ainda me enrosquei no tapa com ela. Mas o que eu podia fazer? A gente sempre julga antes de se tornar o que mais temia.

Dei uma crise de "namoradinha ciumenta e cuidadosa" desnecessária, me meti em merda e agora em mentira. MENTIRA.

Na verdade, só uma. Mas enfim, dá na mesma. Uma mentira vai gerando outras. Eu já expliquei o motivo da minha mentira aqui, então não vamos perder mais tempo. Por que eu to agindo como uma espiã prestes a desarmar uma bomba?

Só para, Lúcia.

— Lúcia. — sou "acordada" por Giovana me cutucando.

Pisco algumas vezes, antes de vê-la apontar pra porta do meu quarto, onde estão Natura e Robô. Uma dupla dinâmica nada parecida.

— Por que você disse que eu tava chorando? — Raquel questiona, cruzando os braços.

Nem me lembrei disso. Tá vendo? Eu to fudida em todos os sentidos.

— Porque ela tá triste. — Giovana não me dá tempo de responder a pergunta da pirralha — Nós vamos sair pra animar essa cara.

— Não. — eu tiro seu braço do meu, e junto as sobrancelhas.

dinner [orochinho]Onde histórias criam vida. Descubra agora