— Eu vou te bater, Lúcia! — Giovana balança meus ombros.
Não acredito que eu trouxe essa surtada pra minha casa de novo. Eu realmente perdi o juízo. Meus neurônios queimaram na sopinha da tia Martinha.
— Eu te chamei aqui pra isso, foi? — eu me afasto dela, e vou até o espelho do meu quarto, checar meu olho lindo maravilhoso *e roxo.
— Desculpa. — ela me abraça por trás, com uma voz manhosa.
— Sai, menina. Eu hein! — reclamo, me afastando dela mais uma vez, e indo até a porta do quarto.
— O que você quer que eu faça? Eu trouxe minhas malas e a minha prima pra cá. Mas e agora? — ela levanta os braços.
— Você só vai me fazer companhia, porque a Jequiti não para a bunda em casa desde que tiramos férias. — eu bufo.
— Se o Tio Orochi soubesse dessa briga, ele podia vir te fazer companhia também. — ela cruza os braços, me encarando.
— Quantas vezes eu vou ter que repetir pra você entender? Se ele souber, vai querer tirar satisfação com a Bianca e ela não vai nos deixar em paz. — eu tento não soar tão arrogante, mas não deu nem um pouco certo.
— Tá bom, grossa. — ela senta na cama — Só espero que ele não veja você, eu ou a Jaqueline pelo prédio.
— Ele dorme tarde e acorda tarde, isso se conseguir dormir. Por isso eu pedi pra você vir de dia. — explico.
— Mas em algum momento ele vai acabar vendo uma de nós, não acha? — Giovana torce o nariz.
— Não se não estivermos aqui. — faço uma careta.
— A gente vai mesmo pro interior? — ela se empolga.
— Se você pagar, a gente vai agora mesmo. — rio, e Giovana revira os olhos.
— Então onde tá pensando em ir? — ela resmunga baixo.
Ouço batidas na porta do quarto, e xingo baixo antes de abrir a mesma. Já sabia que se tratava de Raquel, a prima de 8 anos da Giovana. Desde que chegou, ela não saiu do sofá. Ficou o tempo todo jogando sei lá o que no IPad rosa dela.
Ela me olha friamente *tipo um gato, séria como uma versão criança e moderna da tia Martinha. Credo.
— O que foi? — resmungo, impaciente.
— Você tem um carregador portátil? — ela pergunta, sem expressão, segurando seu iPad com as duas mãos.
— Você sabe o que é isso? — eu sorrio antes de perguntar.
— Sou criança, não idiota. — ela faz uma careta.
Arregalo meus olhos, e por mais estranho que pareça, senti mais empatia por ela do que jamais sentirei pela tia Martinha. Ponto pra Raquel.
— Eu tenho sérias dúvidas... — resmungo baixo, enquanto pego meu carregador portátil dentro de uma gaveta.
Assim que eu entrego, a garota volta pra sala e eu fico olhando ela enquanto anda. Ela parece um robô do ano de 2038. Gostei dela. (Agora imagina se essa fanfic ainda existir em 2038 e as pessoas lerem essa merda? Tô lascada)
— Ela é uma chata. — Giovana sussurra, enquanto eu me sento ao seu lado na cama e pego meu celular.
— Eu troco a Jaqueline por ela. — gargalho, e Giovana acompanha.
— Do que a gente tava falando, mesmo? — ela pergunta, juntando as sobrancelhas.
Penso um pouco, e assim que me lembro, dou um pulo da cama, como se tivesse levado um choque.
— Não vamos viajar pro interior. — eu digo, e ela gesticula, se lembrando — A gente podia ir pra sua casa, mas eu duvido que a chata da Mary Kay deixe. — bufo, e me deito na cama, de cabeça pra cima.
— Que merda. — Giovana resmunga, também deitando-se na mesma posição.
— Ela disse que eu tenho que ficar "em repouso", pra os ferimentos curarem mais rápido e blá blá blá... — faço aspas com os dedos.
— Mas tem mesmo. Não quero sair na rua com você desse jeito. — Giovana ri, e eu dou-lhe um tapa no braço.
— Sua ridícula! Só não te espanco porque isso pioraria ainda mais minha autoestima. — brinco.
— Lúcifer, não fica assim. — Giovana alisa meu cabelo, rindo — O que eu posso fazer pra te ajudar?
— Pode lamber meu pé. — levanto meus pés e aponto pra eles.
— Nojenta! — ela faz uma careta.
Não demora muito e Jaqueline entra no meu quarto sem bater na porta ou pedir permissão. Ela já chega balançando seu kit de primeiros socorros e uma sacola de coisas que comprou da farmácia, como se tivesse acabado de comprar doces pra uma criança.
Ridícula.
— Trouxe uma pomada nova! — ela sorri, vindo até mim e me puxando pelo braço pra sentar na cama.
— Ah não, eu passei a outra agora a pouco. — reclamo, preguiçosa.
— Tá bom, então eu vou guardar essa pra quando a outra acabar. — ela larga meu braço e vai até a porta — Precisa de alguma coisa agora?
Minha irmã e Giovana me olham, esperando ansiosas por uma resposta. Por que eu to sendo cobrada a todo tempo, como se eu fosse uma idosa de 90 anos?
Saudade da minha vida largada.
— Vocês ficam me perguntando o que é que eu quero, o que eu preciso, mas o que vocês fariam me ajudaria em alguma coisa? Porque eu to claramente fodida. — desabafo.
Elas se entreolham por um tempo, pensativas.
CHORANDO SE FOI, QUEM UM DIA SÓ ME FEZ CHORAAAR...
CHORANDO ESTARÁ, AO LEMBRAR DE UM AMOR RANANANANANANANA!
Lembrei dessa música que fez parte da minha infância de menina sofredora.— Lasanha? — Jaqueline diz, levantando uma sobrancelha.
— Vodka? — Giovana sorri.
— Casem comigo. — choramingo de mentira, e aceito as sugestões.