Príncipe

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Enquanto descia para o primeiro andar, Millie pensava em como poderia ela estar tão bonita quanto estava naquele momento. A roupa realçava suas curvas milimetricamente perfeitas, ajeitando-se incrivelmente ao seu corpo.
Uma das coisas que a jovem não sabia, era que, você poderia sim, se vestir de forma apresentável, e nada mudaria em seu eu interno. Ela estava aflorando sua beleza física com roupas, mas a sua beleza interna, já havia saído do casulo há muito tempo.
Bobby Brown sempre fora uma garota simpática que colocava as necessidades dos outros, acima das suas, mesmo que isso lhe custasse a saúde mental ou que isso a magoasse, ela sempre desejava fazer as coisas para outras pessoas, ao invés de fazer para si, e essa era de longe, a característica mais bonita da garota e de seu coração.
Ao chegar à porta da sala, avistou sua mentora sentada em um dos sofás de couro. Mary sempre fora uma pessoa muito sensitiva, então não demorou para perceber que havia companhia. Ergueu brevemente os olhos para a garota e logo os voltou para a revista Vogue que a mesma folheava. Mas, espere aí... subiu novamente o olhar para a moça parada a sua frente. Aquela era mesmo Millie Bobby Brown? Aquele mesmo patinho feio que havia chegado ontem em sua casa? O que uma repaginada no visual não fazia com uma pessoa, não é mesmo?
"Finalmente eu vejo a luz no fim do túnel", pensava ela, "em pensar que ela só precisava de um trato nas unhas, depilação, mudança no visual e hidratação no cabelo", acrescentava ainda mentalmente.
Brown sentiu suas bochechas ferverem, sinal de que sua pele estava enrubescida.
— Meu Deus! Você está linda, Millie! – exclamou a mais velha, em um notável som de admiração.
A garota sorriu, ainda envergonhada.
— Você acha, tia?
— Com certeza, minha querida. Você não acha, Finn? – perguntou ao filho que estava descendo as escadas.
Millie engoliu em seco, aquilo era sério?
— O que, mamãe?
— Que Millie está linda.
Ele analisou a garota, melhor do que havia feito minutos antes no corredor. Sentiu algo em seu peito se aquecer, mas deixou isso de lado.
— Machadão, até que você não está nada mal.
— Isso foi um elogio?
— Bom, entenda como quiser, eu que não vou desenhar pra você.
— Finn Wolfhard! – repreendeu sua mãe.
Ele deu de ombros e bufou.
— Só falei a verdade, mamãe. Ela não está tudo isso. Não serão roupas novas e maquiagem que a deixaram mais amigável e menos estranha.
Mary negou com gestos de cabeça.
— Você não tem jeito, Finn!
Brown se segurava para não xinga-lo até sua última geração. Devia isso a Mary, visto que ela havia disposto de suas preciosas férias, para treiná-la.
— Não ligue para ele, tia – disse a menina. – Ele não sabe o que diz.
O rapaz a encarou incrédulo.
— Está certa, meu bem – concordou a mãe dele.
— Teremos mais lições para hoje, tia?
— Hm, vejo que alguém está pegando gosto por esse aprendizado.
A morena deu de ombros.
— É o jeito né, tia? – disse.
A mulher riu.
— Tem razão, mas por hoje é só, você já teve uma transformação incrível, amanhã continuaremos. Aproveite para conhecer o resto da casa.

[...]

Enquanto andava pelo quintal, pôde ver as lindas e bem cuidadas orquídeas da dona da casa. Haviam de várias espécies, uma mais linda do que a outra, algumas com cheiro e outras não. Notou o gramado verde e vivo que estava por debaixo de suas sapatilhas menta.
Se abaixou por breves segundos, para que pudesse observar com mais atenção os detalhes de cada flor disposta por aquele imenso jardim. Quando estava prestes a se levantar, sentiu um peso na lateral de seu corpo, e logo em seguida tombou para o lado.
Recebia inúmeras lambidas no rosto e braços. Havia avistado o causador de sua queda, era nada mais, nada menos, do que um labrador de cor mel e olhos castanhos.
— Príncipe! – ela ouviu uma voz máscula gritar, sabia que não pertencia ao filho dos donos daquele lugar.
O cachorro saiu de cima da moça.
— Mil desculpas. – ele pediu enquanto ajudava Millie a se levantar.
— Sem problemas – sorriu para o rapaz de cabelos loiros e olhos verdes, que estava parado a sua frente.
Pela mãe dos bofes bonitos, quem era aquele cara? Ele tinha um corpo malhado e um rosto perfeito, sorriso bonito e era extremamente simpático. Algo de errado não estava certo, não mesmo. De onde caiu esse anjo?
— Senhor...?
— Odair. Hector Odair – completou, enquanto estendia a mão para cumprimentá-la.
— Prazer, senhor Odair, sou Millie Bobby Brown. – apertou a mão do moço.
— Senhorita Brown, parece que o Príncipe gostou de você – pontuou.
— Que isso, né garotão? – falou ela, enquanto abaixava-se novamente e passava suas pequenas mãos pelos densos pelos do cachorro.
Príncipe a olhava e colocava sua patinha em cima da mão da garota.
— Ele nunca age assim quando conhece alguém, falo por experiência própria.
— Eu o conheço desde criança, não é mesmo, meninão?
Ele balançava o rabinho de um lado para o outro, mostrando sua felicidade e satisfação.
— É mesmo? – perguntou o rapaz, interessado.
— Sim, eu e Finn escolhemos o nome dele juntos.
Hector ficou surpreso.
— Belo nome.
— Na época eu achava isso, mas hoje em dia parece tão tosco, porém ainda acho que combina com ele. Eu nunca pude ter um animal de estimação, de modo que quando os pais de Finn deram o Príncipe a ele, eu fiquei extremamente feliz, parecia até que era meu – falou sorrindo ao se recordar.
— Mas é um bom nome para ele, ele é muito educado, como um príncipe.
— Talvez ele seja, mas o dono dele não é nem um pouco.
Odair riu das palavras da moça e de sua careta jocosa enquanto falava do filho dos seus chefes.
— Tenho que terminar de treinar ele, senhorita Brown – disse a contragosto, pois havia gostado da conversa com a morena. Ela era muito envolvente e fácil de conversar. Doce e engraçada ao mesmo tempo.
— Tudo bem, senhor Odair. Mas, por favor, não me chame de "senhorita Brown" – fez aspas com os dedos. – Somente Millie já me basta.
Ele assentiu com a cabeça.
— Tudo bem, Millie – mandou-lhe um sorriso galanteador.
Oh céus! Aquele cara era quente como o inferno.
Bobby Brown sentiu uma respiração atrás de si.
— Francamente, Brown. Só foi mudar um pouquinho seu modo de se vestir, que já está agindo igual a uma vagabunda? Dando em cima até do adestrador do Príncipe?
Ele estava falando sério? Ela rezava para que não, pois se aquilo fosse verdade não se importaria nem um pouco de estragar suas francesinhas ao grudar suas unhas na pele daquele cara.
— Me erra, Wolfhard – fora a única coisa que ela havia dito, antes de deixá-lo a sós.

Une Belle Rebelle - FillieOnde histórias criam vida. Descubra agora