O despertador soou sem parar, atrapalhando o maravilhoso sono de Brown. Sinceramente, acordar às sete da manhã em uma segunda-feira de férias? Só podia ser brincadeira. Millie soltou um muxoxo e desligou o relógio ao seu lado. Virou-se na cama e voltou a dormir.
Ou pelo menos tentou, pois logo sentiu mãos chacoalharem levemente seus ombros, para cima e para baixa.
— O que foi, mãe? Me deixe dormir – disse ainda sonolenta.
Ouviu uma risada melodiosa. Ok, não era sua progenitora.
— Senhorita Millie, eu não sou sua mãe – reconhecera a voz facilmente, era Edith, a empregada e governanta da casa.
A garota abriu os olhos por breves segundos e custou a se acostumar com a claridade do sol que entrava pelas frestas da cortina.
— Me deixe dormir, por favor Edith, ainda está muito cedo.
— Minha querida, eu bem que gostaria, mas a senhora Wolfhard é extremamente pontual, seria bom se você começasse a se arrumar logo, assim não se atrasaria tanto.
Millie grunhiu. E por fim, suspirou derrotada. Se levantou rapidamente da cama e foi se banhar. Ao terminar, vestiu um vestido rosa soltinho que a até o meio das coxas e nos pés, uma sapatilha na cor menta, tudo em tom pastel. Colocou seus óculos fundo-de-garrafa e apressada desceu as escadas – super educada como era, óbvio que a desceu correndo.
Ao chegar ao pé do último degrau, Mary Wolfhard a esperava com uma expressão de completa insatisfação.
— Millie, querida, a segunda regra para uma dama é: nunca, em hipótese alguma, se atrasar! – disse enquanto seguia dois dedos.
Brown apenas assentiu.
— Meu desculpe, tia – pediu envergonhada.
— Por hoje passa, mas que isso não se repita, meu bem.
Caminharam a passos lentos até a sala de jantar. Millie admirava Mary, sempre com classe, andava com leveza, era como sua mãe, mas esta? Ah! Essa nunca conseguiu domá-la.
— Até que enfim decidiu sair da toca, Brown – ralhou o cacheado que ela bem conhecia.
Bobby nem ao menos se deu o trabalho de respondê-lo, estava em completa paz, e ele não tiraria isso dela.
— Pode se servir – aconselhou a mãe de Finn.
Millie pegou um pedaço de bolo com as mãos e colocou-o na boca, bebendo suco em seguida. E ao terminar, apoiou os cotovelos na mesa. Mary a encarava horrorizada. Aquela garota era uma troglodita.
Finn ria da garota e da carranca que se formaram no rosto sempre tão sereno de sua mãe.
A morena mais velha pigarreou, atraindo para si a atenção de ambos os jovens sentados à mesa. Millie a encarou com seus olhos grandes e achocolatados.
— Querida, cadê seus modos? – se direcionou a garota com doçura.
— Por que, tia? – perguntou sem entender.
— Você não deve comer com as mãos, meu bem, e quando for pegar algo que não está ao seu alcance, peça para quem está mais próximo. Lembre-se: os talheres devem ser usados de acordo com a refeição e sempre de fora para dentro, o guardanapo você deve abri-lo, colocá-lo sob o colo e usá-lo somente se necessário, para limpar as pontas dos dedos e os cantos da boca. Mostre para ela Finn.
Em uma perfeita encenação, o jovem Wolfhard mostrou para sua inimiga como se portar em um jantar ou qualquer outra refeição.
— Entendeu, Brown? – alfinetou ele.
Ela bufou e balançou a cabeça em concordância. Estava disposta a não retrucá-lo.
O fim do desjejum se seguiu calmamente, com algumas alfinetadas da parte do garoto, mas nada que tirasse Bobby Brown do sério.
— Millie, suba ao seu quarto agora, por favor – pediu a amiga de sua mãe.
Ela subiu as escadas e quando parou em frente a quinta porta, entrou. Antes mesmo que pudesse se dar conta do que estava acontecendo, três pessoas já adentravam seu quarto, repletos de maletas e alguns cabides.
Bobby Brown sentou-se na ponta de sua cama, e observou as três figuras a sua frente. Só Deus sabia o que se seguiria.Em seguida, as três pessoas começaram a disparar seus nomes.
Andrew era um cara bonito, mas sem indícios de um músculo se quer, tinha estatura mediana e cabelos ruivos.
Clarke era loira, com pernas esbeltas e compridas, ela provavelmente devia estar na casa dos quarenta anos, porém tinha uma aparência muito bem conservada.
Josie tinha a mesma aparência de Edith, só que ao contrário da empregada dos Wolfhard, Josie era uma mulher de pele negra, excepcionalmente bonita, vale notar. A mulher devia ter seus trinta e poucos anos, e seus dentes perolados chamavam atenção e davam um lindo contraste com a cor de sua pele.
— Millie, querida, você poderia tirar sua roupa? – Clarke pediu.
Brown arregalou os olhos, ninguém nunca havia visto seu corpo nu, não depois de ter se tornado uma adolescente.
— Querida, é parte do processo – explicou Josie.
A contragosto Brown se levantou e começou a se despir ali mesmo, pois fora barrada de ir para o banheiro, vai que a louca fugia, algo que se passava em sua cabeça.
Os três encaravam a garota como se ela fosse um bicho de sete cabeças, e os olhares que recebera, não a deixaram confortável, muito pelo contrário, logo a moça tentou se cobrir a todo o custo.
— Não se cubra, Millie – alertou Andrew.
Millie engoliu em seco e com dificuldade retirou as mãos de suas partes íntimas, revelando seu corpo. Cintura fina, seios medianos, pernas torneadas, bumbum empinado e barriga chapada. Aquela garota era perfeita.
— Bom, teremos um grande trabalho aqui – notou Clarke.
Brown encolheu os ombros.
Em um piscar de olhos, o quarto de Bobby na mansão dos Wolfhard, se tornara um pequeno e luxuoso salão de beleza.
— Deite-se na maca, querida – pediu Andrew, enquanto se aproximava dela com a cera de depilação em mãos.
O primeiro puxão doera muito. Aquilo era o terror! Depilar as pernas era dolorido, mas nada se comparava a dor de depilar sua virilha, a garota literalmente havia visto estrelas. Tentava a todo custo não gritar, ou se não, gritar o mais baixo possível, mas bem, isso era praticamente impossível. Ela ficaria sem andar direito por pelo menos uma semana. Assim que seu corpo se mostrou livre de pelos, o jovem Andrew suspirou, finalmente por ter finalizado seu duro trabalho.
Antes que a garota pudesse levantar da maca, Josie já agarrava seu rosto para fazer-lhe as sobrancelhas, que estavam praticamente grudadas uma na outra.
— Aí! – Millie murmurou assim que sentira o primeiro puxão.
Com a sobrancelha feita, Clarke puxou Millie para a banheira, onde ela havia preparado um maravilhoso banho com pétalas de rosas e sais de banho.
Era estranho o fato de ter alguém lhe dando banho, porém, Brown não ousou abrir a boca. Ela deveria se acostumar, de modo que apenas relaxou e permitiu-se aproveitar o momento.
De banho tomado, secaram o corpo de Millie e a levaram de volta para o quarto. A morena perdeu a conta de quantos cremes entraram em contato com sua pele. Mas teve certeza que teria o corpo extremamente macio quando tudo aquilo terminasse. Esfoliar o corpo, e passar dúzias de cremes, uma massagem maravilhosa, podia estar melhor?
Assim que sua pele terminou de ser massageada e hidratada, Clarke colocou-a sentada em uma cadeira e começou a cortar seu cabelo, sem nem ao menos pedir permissão. As madeixas castanhas e desidratas caiam ao chão. Quando aquilo acabou, Millie não acreditava que era realmente ela que estava em frente ao espelho. Aquele era seu reflexo! Os cabelos que antes batiam na altura da cintura, agora estavam rentes aos ombros. A loira passou mais uma dúzia de cremes no cabelo de Brown, para logo em seguida lavá-lo e secá-lo com o secador.
Estava quase tudo pronto, exceto pela roupa, que ela ainda não usava, ao invés disso, estava vestida com um roupão de seda, e sua maquiagem, ainda não haviam feito.
— Querida, você tem lentes de contato? – Josie perguntou, olhando com desprezo para os óculos da garota, que estava depositado ao lado de todos os produtos que ele faziam uso.
Millie soltou um muxoxo, odiava suas lentes, elas sempre deixavam seus olhos irritados e consequentemente, avermelhados.
— Sim – respondeu em voz baixa.
— Ótimo! – Josie exclamou batendo palmas diversas vezes seguidas.
Forçada a se levantar, Millie se dirigiu ao closet, onde Edith havia guardado o estojo de lentes, ela o pegou nas mãos e voltou para o quarto. Parou em frente ao espelho da penteadeira e colocou suas lentes, piscando algumas vezes.
Antes que pudesse abrir a boca, Josie começou a lhe maquiar, enquanto Andrew e Clarke faziam suas mãos e seus pés, finalizando com uma delicada francesinha. Sua maquiagem ficara clara e natural. Ela nem ao menos se reconhecia.
Brown estava prestes a abrir sua boca para agradecer a equipe, quando Andrew a impediu.
— Não agradeça agora, querida. Espere até estar devidamente vestida – dito isso, entregou-lhe a roupa que estava separa em cima cama.
Millie analisou as roupas, não faziam parte de seu estilo. Mas, já que agora ela deveria ser uma nova Millie, não reclamou, ao invés disso, vestiu-as com gosto.
Um short não tão curto na cor menta, uma blusa de babados branca e nos pés, e a mesma sapatilha de antes, que também era na cor menta. Para finalizar tudo, Millie passou seu perfume favorito.
— Você está um arraso, querida! – Os três exclamaram ao mesmo tempo.
— Obrigada por tudo! – Agradeceu, abraçando-lhes desajeitadamente.
E em um piscar de olhos, era como se eles nem tivessem estado ali. Se não fosse por sua grande mudança, Millie poderia jurar que ninguém nunca estivera ali, de fato.
Enquanto descia as escadas, Brown escutou passos atrás de si. Passos de uma pessoa detestável, que logo fez questão de passar seu braço por cima dos ombros da garota.
— Até que a machadão tem um corpo bonitinho. Cadê suas roupas cafonas?
Millie revirou os olhos instantaneamente. Só podia ser brincadeira. Por que aquele garoto não a deixava em paz? Por que não fez como anos atrás? Ela ainda se perguntava o porquê da grande mudança de comportamento dele, porém, sabia que provavelmente nunca obteria a resposta. E foi com esses pensamentos que ela retirou o braço dele de si e lhe mandou o dedo do meio, descendo as escadas em seguida.
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Une Belle Rebelle - Fillie
RomansaCansada do estilo desleixado e da falta de ética de sua filha, Kelly Brown manda Millie para a casa de veraneio dos Wolfhard. Mal sabe Mary Wolfhard que a garota é um tanto dura na queda e que terá um duro trabalho para mudá-la. A alegria de Kelly...