Vivendo no limite

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Borderline tem uma característica que seu nome já da a interpretar. Entre a sanidade e a loucura.
E eu pairo sobre isso sempre. Ultimamente ainda mais.
Chega um momento onde varias coisas vão acontecer ao mesmo tempo. Duas ou três coisas ruins que te tiram do sério.
Ou uma situação ruim se arrastra por extremamente muito tempo até você se desesperar e teu cerebro bugar.
Isso ocorre com todos e qualquer um. São situações da vida e ninguém escapa disso. Agora imagina quando isso ocorre com alguém que tem as emoções sempre ao máximo e além disso nasceu com uma deficiência para lidar com a própria frustração.

Creio que ja tive outras psicoses, mas não as lembro mais, só lembro dessas que me marcaram para o resto de minha vida.

Em uma noite eu peguei uma faca na cozinha e risquei com letras grandes, e cada palavra foi uma no antebraço, a outra no braço e a outra no outro braço com as seguintes palavras: Anta, Burra e Troxa.
Eu estava com os braços e mãos tão ensanguentados que sequer se podia ver o que escrevi.
Ai do nada veio uma ideia sobre mim que acabou salvando minha vida:
Eu queria plateia pro ato final.
Eu fui ate o quarto escuro e pedi ao meu marido seu celular para tirar foto sobre algo que tinha na cozinha.
Na saída eu não achei o trinco da porta e prendi por poucos segundos a luz para ver o trinco.
Nisso meu marido, deitado na cama e sonolento, viu o vermelho e após alguns segundos me seguiu até a cozinha para presenciar com horror aquela cena de filme de terror.
A mesa ensanguentada. As cadeiras e o chão ensanguentados, sem contar o rasto de sangue da cozinha até o quarto e de volta.
Eu estava sentada tranqüila à mesa e tirando sal de um pote para esfregar nos braços bem onde eu havia me cortado.
Peguei o celular e tirei várias fotos.
Ele não se alterou, controlou a voz e chegou manso em mim, perguntando o que havia ocorrido, pedindo pra eu acompanhar ele ate o banheiro para se limpar, pois minha roupa estava suja de sangue e, como ele explicava, assim eu não podia ir deitar na cama.
Eu o acompanhei até o banheiro.
Ele tirou minhas roupas e delicadamente lavou meus braços e o meu corpo até tirar o sangue.
Enquanto ele achava que eu me secava e tinha ido ao quarto buscar roupas, e eu, mesmo molhada, vesti as roupas sujas e corri de volta para a cozinha e me tranquei nela, pois a cozinha ficava isolada da casa com a porta para fora. Eu a tranquei com um cadeado e uma corrente, grande o suficiente para ter uma abertura para ficar olhando para dentro.
Peguei água e coloquei para ferver.
Eu andava em círculos como um felino enjaulado, impaciente para a água ferver.
Só de imaginar derramando a água quando estivesse fervendo sobre meu corpo me deixava eufórica.
Mas algo dentro de mim gritou que eu precisava acordar. Accionar o freio. Voltar para a realidade.
Eu vi os cigarros da minha mãe sobre a mesa e o isqueiro.
Peguei e encendi um cigarro.
Quando isso meu marido chegou e tentou abrir a porta, sem sucesso.
Ele pediu para eu abrir, mas agora eu me tornei sarcástica e sádica.
Eu pegava o cigarro acesso e apertava a cabeça contra o braço. Me dava arrepios. Sensação de dor e prazer.
Após me queimar quatro vezes, ouvindo ele pedir para mim abrir a porta e para não me queimar, eu olhava direto nos olhos dele enquanto eu apagava o cigarro no braço.
Ele começou a forçar a porta e eu ria a gargalhadas.
A porta cedeu de um estralo grande.
Ai eu acordei.
Ele apagou o fogão, fomos para o quarto, ele trancou a porta e guardou a chave e fomos dormir.

Borderline... e agora?Onde histórias criam vida. Descubra agora