Borderline, a máquina (?)

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Morando junto de novo com o odioso amado Oda.
Foi bom? Resolvemos nossas diferenças já na primeira semana, com direito a soco, chutes, pedidos de socorro (por parte dele), facada e tentativa de assassinato (por parte minha).

São detalhes, por inúmeras traições, mentiras, segredos que passamos e eu não aguento mais segurar minhas explosões que se tornam uma implosão avassaladora. Tontura, febre, pressão baixa, arritmia, vômitos...
Tive tantos ataques Borderline nas últimas duas semanas que perdi a conta.
Porém, ele quebrou dois celulares meus. Um que eu já tinha, por conta das conversas dele com a ex que eu passei pro meu celular, e o segundo por clonar o WhatsApp dele. (Whatsweb se chama o aplicativo, simples e gratuito).
Eu própria procurei brigar. Não aguentei fazer em silêncio, com frieza. Tive que esfregar na cara dele e o provocar até que virasse briga física.

Porém após tudo isso... Virei o cachorro dele. E devo admitir, gosto muito mais disso do que ser a traída, a corna.
Nosso relacionamento desde o começo não era normal, e ele admitiu que é isso que ele gosta.
Noites atrás ele me deu um tapa de leve no rosto frente a muitas pessoas, funcionários dele. Estávamos conversando e eu estava de mal humor.
Aí ele deu o tapa, tanto para ver minha reação, se fosse agressiva, ele afirmaria para todos que eu era louca, porém reagi de forma submissa, não respondi, não me demonstrei afetada.
Para ser sincera, após a vida que levei, isso era um carinho ao meu ver.
E ele gostou da expressão de inconformidade e medo na cara de seus funcionários e de seu filho, Stevan, que tem 25 anos.
Ninguém podia fazer nada, além de ser um gênio nos negócios, ele é um leão em força física.
Ele afirmou seu poder e seu prazer em ter uma menina submissa a ele e que, se ele faz isso com quem ele "gosta", imagina com quem entrar em seu desgosto.
Ele gosta dos inúmeros elogios que ganha a partir de mim e meus sentimentos por ele.
Eu, sinceramente, não me importo com a opinião que os demais tem sobre mim quando estou perto dele.
Eu todas as manhãs sento no chão frente ao sofá e coloco suas meias e seu calçado, amarro o cadarço, as vezes o ajudo a se vestir após ele tomar banho.
Ele recebeu inúmeros elogios quando tinhamos visita e eu, recém banhada, maquiada e arrumada, estava fazendo os pés dele, cuidadosamente cortando e lixando cada unha, cuidando de tirar os calos e massageando no final com creme hidratante.
"Nenhuma mulher faria isso por um cara", "você tem muita sorte", "da valor nela." Foram algumas das palavras.
Minha vontade foi de chorar como está sendo agora ao escrever isso.
Minha natureza é essa. Eu amo servir, amo cuidar de cada detalhe. Arrumar a casa do meu jeito, decorar cada espaço, e principalmente; amo cuidar de quem eu gosto. Fazer massagem, cuidar das mãos, dos pés, cada pelo corporal quero cuidar.
Para mim é um prazer pessoal vestir quem eu amo, até dar banho, por isso sempre tenho animais de estimação, pois neles posso exercer tudo isso.
A única coisa que eu pedi em troca de todos meus serviços é: sinceridade.
Nada além disso. Não me esconda nada, não minta. Eu não consigo suportar isso.

Porém descobri que ele também me teme e me admira de certa forma.
Por isso provavelmente testa o tempo todo se estou submissa ou prestes a ter uma explosão.
Fomos conversar de forma informal com uma pastora.
Ele contou que eu sou excessivamente ciumenta, e de certa forma paranóica e ela, mulher que trabalhou inúmeros anos na vara infantil, conviveu muito com meninas imaturas. Aí vai ela ouvir que uma moça, com cara de quinze, é excessivamente ciumenta e o acompanha a todas partes para se sentir mais tranquila.
Ela quis me dar sermões e ensinamentos sobre relacionamento e confiança e que ciúmes são isso e aquilo...
Antes dela começar, quando vi que ela ia falar essas baboseiras para, hoje em dia, meninas de 12 anos servem, eu a interrompi e expliquei como minha visão sobre as coisas são.
Disse que atenção, amor e fidelidade não se cobram. São coisas que devem partir da pessoa de forma natural ou você está no lugar errado.
Que ele vendeu e vende a imagem de moço correto e certinho, então é essa imagem que eu insistia e era a razão de eu o perseguir e nós brigarmos.
Que eu entendia que cada pessoa tinha sua natureza e eu podia falar de experiência que eu não sou uma pessoa ciumenta, máximo alguém que gostava de ter atenção, pois eu ficava com um cara (o dono) que tinha mais de 20 mulheres e ele me contava de todas e eu e ele duramos durante 8 meses sem problemas.
Expliquei que meu problema é unicamente a falta de sinceridade por parte dele, pois eu não aceitava que o homem do meu lado que devia ser meu amigo, companheiro e confidente me tinha segredos e me mentia na cara dura.

Após isso, ela se virou pra ele e disse; ela é madura e pronta pra um relacionamento sério. Você tem uma pessoa inteligente ao lado, devia dar valor."
Aí ele respondeu.
"Sim, mas ela me da medo, ela é muito inteligente, entende tudo como mexer no celular, recupera arquivos, conversas inteiras, imagens eliminadas, clona o celular..."
Ele pegou o celular, entrou em uma conversa, passou na frente da minha cara por um segundo e escondeu o celular.
"O que tava escrito?" Ele perguntou.
Eu respondi o nome do contato, e o conteúdo da conversa que vi na tela.
"Está vendo? Em um segundo ela lê tudo, até se tiver de ladinho o celular. Senha, você faz uma vez na frente dela e ela já memoriza."
"Eu vi, na hora que ela agendou meu contato, na velocidade que ela fez." Disse a pastora. "Bom, pelo que a mãe dela já me relatou sobre ela, pelos desenhos dela que eu já vi, você tem um enorme potencial nas mãos, ela é uma máquina, você só não está investindo nela. Ela tem tantos dons, já podia estar fazendo tantas coisas."
Nessa hora eu levantei pra ir embora. Percebi que eu já não fazia parte da conversa e que eles se esqueceram de uma coisa.
"Eu posso até ser tudo isso..." Falei. "Porém, sou Borderline. E isso vai me empatar pelo resto da vida."
"Mas porquê?" Disse a pastora.
"Meu raciocínio é um. Tudo isso que vocês falaram. Mas minha emoção é outra."
A pastora só acenou e nós fomos embora.
Eu, um pouco mais quente no coração. Tudo isso que o odioso amado falou sobre mim. Ele me considerando um gênio...
"Porque você contou a ela que eu te bati?" Me tirou o odioso dos meus pensamentos. "Você precisa as vezes levar uns tapas pra se indireitar."
E ele me puxou para a mesinha no meio da camioneta entre os assentos para eu ficar de cabeça deitada sobre isso enquanto ele pousava a mão encima pra me submeter de novo. Suspirei. Nada mais vai mudar, né?

Borderline... e agora?Onde histórias criam vida. Descubra agora