As outras duas aulas foram respectivamente de inglês e arte. Eu era péssimo desenhando, mas tinha minhas habilidades com a língua estrangeira, embora minha preferência fosse espanhol, obviamente. Ao som do sinal, levantei-me com rapidez, ansioso por chegar em casa e me deitar no sofá. Levar um tiro tinha suas consequências, isso era o que nenhum filme mostrava.
Pude sentir o tempo todo os olhos dela em mim, Ayla me encarou durante todo o meu percurso até o Porsche, onde Luíza me esperava com um sorriso de orelha a orelha. Entrei no carro sentando-me no banco do carona e sendo recepcionado com um beijo na bochecha.
— Não, você não pode dirigi-lo amanhã — pisquei e Luíza revirou os olhos, mas permaneceu sorrindo.
— Nesse caso —acelerou o carro, quase atropelando um garoto do segundo ano.
Gargalhei.
— Você é louca — ela riu e deu de ombros — Vai pagar a multa depois —avisei, mas ela continuou acelerando.
Chegamos em casa em poucos minutos, dona Lucinda nos esperava na calçada, com um olhar de reprovação. Desci do carro, fazendo minha melhor expressão de inocente. Já Luíza simplesmente sorriu, enquanto mamãe lhe dava um puxão de cabelo, como uma repreensão. Era bom estar com elas novamente. Dava-me a sensação de estar protegido, e eu quase podia deixar tudo o que passei para trás.
Para o almoço, minha mãe havia feito arroz e lasanha. Lasanha era o nosso prato favorito, meu e de Luíza, desde sempre. Mamãe sempre fizera nos fins de semana, mesmo nos tempos mais difíceis. Ela sempre cuidara de nós.
Comemos como nunca antes, após tanto tempo longe, tanto tempo sem provar daqueles temperos que só minha mãe sabia usar, os sabores que só ela poderia reproduzir. Após o almoço, eu lavei a louça e minha irmã secou.
Já no sofá, fui alvo de inúmeras perguntas das duas mulheres famintas por uma fofoca. As perguntas eram sempre as mesmas. Como estavam minhas notas no colégio, se eu havia feito algum amigo, e claro, se eu estava interessado em alguma garota.
— Talvez — dei de ombros.
Aquilo foi a minha condenação a mais uma série de perguntas, é claro. Perguntas essas que eu me neguei a responder a todo custo, simplesmente para deixá-las curiosas. Funcionou muito bem, exatamente como eu esperava.
Eu sabia que pelas próximas semanas elas iriam investigar cada passo meu, mas decidi me divertir um pouco com aquilo. Seria bom fazermos algo tão normal como especulação, pelo menos uma vez na vida.
Quando a tarde chegou, envolvi Lorde com a coleira, e saímos somente nós dois para um passeio. Um passeio que logo se transformou em uma ida até a floricultura, onde eu comprei duas rosas cor de rosa e uma tulipa vermelha. Não conseguiria carregar três buquês.
Em um ato impulsivo, fui até a casa de Ayla. Não era difícil saber onde ela morava, em cidades pequenas, os comentários se espalham com o vento, até para uma pessoa tão odiada como eu.
Bati palmas no portão, não havia campainha. A garota saiu de dentro da casa com um lenço amarelo amarrado ao redor da cabeça, pijama de bolinhas e chinelos nos pés. Sorri de lado ao vê-la. Ela tentou demonstrar seriedade, o que era impossível com aquele pijama, mas eu não quis que ela soubesse, é claro, deixei-a atuar até o final.
— Boa noite — saudou-me, abrindo uma frecha do portão — Você quer entrar?
Considerei fazê-lo, mas optei por tornar minha estadia o mais curta possível, apesar de minha sincera vontade de permanecer em sua presença. Balancei a cabeça negativamente e estendi-lhe a tulipa vermelha, que a garota pegou com perplexidade. Lorde lhe deu um presente também, lambeu o tornozelo desnudo da garota, que assumiu uma expressão carinhosa, acariciando-o com um sorriso.
Ela se voltou para mim novamente, parecendo medir cada palavra que diria a seguir.
— Obrigada, mas... há uma razão para eu receber isso? — indagou.
— É apenas uma lembrança, por você ter ido me ver no hospital — respondi.
— Oh, aquilo... — ela pareceu meio decepcionada por um segundo, como se esperasse por uma resposta diferente daquela, mas depois, voltou a assumir uma postura mais séria — Não precisa me agradecer, como eu disse, você me salvou, era o mínimo que eu podia fazer.
— Bom — segurei sua mão, sentindo o corpo dela estremecer. Sorri, depositando um beijo sobre seus dedos — Hasta mañana, señorita.
Virei-me de costas, andando a passos largos em direção a minha casa, que era a poucos minutos dali, e deixando para traz a garota totalmente perplexa. Ainda pude ouvir seu grito, após ela se recuperar da surpresa.
— EU NÃO SEI ESPANHOL.
Gargalhei, seguindo meu percurso. Por alguma razão desconhecida, eu me sentia mais leve perto dela, como se pudesse ser eu mesmo, sem me preocupar com sua reação.
As duas mulheres da minha vida me esperavam no portão de casa, ambas com sorrisos maliciosos no rosto.
— Vocês viram, não é? — balancei a cabeça, entregando uma rosa para cada uma delas.
Elas apenas riram e me puxaram para dentro, enquanto eu me preparava para mais uma chuva de perguntas."Corri como um louco, adentrando a casa enorme. Ele me esperava com um olhar repressor, o cigarro apagado na boca, isqueiro na mão. Dirigi-me até sua frente, com a cabeça baixa. Ele tirou o cigarro da boca, jogando-o no chão da sala.
— Você me decepcionou novamente, Lorenzo.
Estremeci, vendo o isqueiro cair ao lado do cigarro. A fivela de seu cinto tilintou enquanto ele o retirava da cintura. Fechei os olhos, não me atrevendo a levantar a cabeça.
— Olhe para mim, criança imbecil — comecei a tremer, ainda de olhos fechados, tentando pensar em coisas boas, como Lucinda havia me sugerido no dia anterior — OLHE PARA MIM.
Abri os olhos, bem a tempo de levar um tapa na bochecha. Ouvi a gargalhada dela enquanto descia as escadas. Logo ela estava a minha frente também, seu cigarro, ao contrário do dele, estava aceso. Ela abaixou-se ao meu lado, sussurrando em meu ouvido.
— Garoto estúpido.
O que se seguiu foi parte de uma rotina com a qual eu nunca me acostumaria. Três cintadas. Uma na perna, duas nas costas. Eu não gritei, não chorei, simplesmente permaneci imóvel, sentindo a dor se espalhar por meu corpo, a ardência. Sabia que ao mínimo sinal de lágrimas ou reclamações, seria pior para mim.
— Agora suba, querido — os cabelos dourados dela estavam em minha linha de visão quando ela se abaixou ao meu lado, depositando um beijo em minha bochecha que ainda ardia pelo tapa — Tenha uma boa noite de sono — sibilou, como uma cobra.
O homem nada disse, apenas colocou novamente o cinto, pegou o cigarro e o isqueiro do chão e caminhou em direção à cozinha."
Acordei em um pulo.
— É só um sonho — Luíza murmurou, me abraçando.
Ela e minha mãe estavam ao meu lado na cama. As duas tinham lágrimas nos olhos.
— O que fazem aqui? — franzi o cenho.
— Você estava gritando.Boa noite, gente. As minhas férias estão quase acabando, mas eu vim deixar esse presentinho para vocês antes de tudo virar "psicologia" e livros sobre entrevista.
Espero que tenham uma experiência extasiante com o livro, e que se sintam a vontade para escrever comentários e votar em cada capítulo.
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Um enorme abraço para vocês. Um beijo de Lorenzo para os que gostam de garotos, e um de Ayla para os que gostam de garotas. Ou, um de ambos para quem curte os dois kkkk. Bye.
P.S: Um beijo só meu para o meu namorado lindo, Gabriel, que eu sei que está lendo esse capítulo 🌚❤.
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Nenhum de Nós
RomanceViver isolado do resto das pessoas era uma tarefa fácil para Lorenzo Bitencourt. Pelo menos até a chegada de Ayla. Contrariando tudo e a todos, o destino dos dois parece insistir em se cruzar, mesmo contra todos os esforços de ambos. Enzo não fazia...