Caí de joelhos no chão, com meus olhos fechados. Por um momento, tudo ficou turvo. Eu estava perdido, sentia-me sem rumo, sem saber o que fazer. Um passo em falso e eu sabia que nós dois morreríamos. Na realidade, nos matariam de qualquer forma, isso era fato. Ninguém passava um tempo com eles e depois era liberado. Todos os que os viam, acabavam mortos em algum buraco. Dito isso, eu sabia que entregar o anel não iria salvar a vida de Ayla.
Levantei-me do chão, sentindo uma súbita raiva subir por meu corpo. Eu tinha que salvá-la, não importava como. Disquei o número de Raphael em meu celular. Ele atendeu no segundo toque. Antes que pudesse pronunciar qualquer palavra, eu já estava falando feito uma metralhadora.
— Levaram Ayla, eu preciso que arranje o contato do policial disfarçado e que vocês dois me encontrem na floresta às três da tarde.
— Estaremos lá.— Precisamos entrar — insisti.
— Não podemos, é perigoso demais, eles são dezenas e nós somos apenas três — argumentou o policial.
— Podemos bolar uma estratégia — ponderou Raphael — Uma que nos permita entrar e sair sem ser vistos.
— Isso é ridículo — o policial voltou a contrariar-nos — Vamos morrer lá — ele estava agitado demais — Quem é a garota presa? Ela é tão importante assim para valer a pena arriscarmos nossas vidas?
— Eu morreria para salvar a Ayla — pronunciei-me — Ela não merecia estar lá.
Os olhos dele se arregalaram e ele engoliu em seco. Pareceu ainda mais nervoso do que já estava.
— O que? Ayla? Ayla Arantes?
— Sim — murmurei.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Como isso foi acontecer? — balançou a cabeça — Como vocês deixaram a minha filha ser pega?
Franzi o cenho, confuso. Como assim, filha? Como se não desse para piorar mais, ela ainda tinha que ser filha do homem que estava sob meu comando. Ótimo jeito de conhecer o pai da garota que você gosta.
— Então suponho que irá concordar em bolar uma estratégia agora — Raphael o encarou com seriedade.
— Que seja — o homem respondeu, limpando suas lágrimas que caíam frenéticas por suas bochechas. Agora eram óbvias as semelhanças entre ele e Ayla, a forma como ele franzia as sobrancelhas de um jeito diferente do normal, exatamente como ela, ou os lábios praticamente identicos — Vamos tirá-la de lá hoje mesmo.
Ficamos lá por um tempo, olhando um para o outro, sem saber o que pensar, ou o que fazer. Tudo o que planejavamos parecia ser falho, sempre havia um buraco grande demais em nossas estratégias para ser deixado de lado. Estávamos em um numero terrivelmente pequeno, não tínhamos conhecimento sobre o espaço interno do território inimigo, não sabíamos exatamente a quantidade de lutadores que nos esperava e muito menos onde exatamente estavam mantendo Ayla.
— É uma receita para o sucesso — murmurou Raphael, desenhando na terra com um graveto.
— Você não precisa se arriscar assim se não quiser — dei de ombros — Eu vou entender se não for conosco.
Ele levantou os olhos do chão, me encarando fixamente. Aquele olhar era o mesmo de sempre que estávamos em perigo. O olhar de determinação, olhar de soldado destemido.
— Eu nunca iria ficar fora dessa — ergueu-se em um movimento brusco, tirando da bota uma faca e a atirando em uma árvore a uns sete metros de distância — Não iremos falhar.
— Vamos ataca-los com tudo — bradei.Onze horas da noite, lá estávamos nós. Roupas pretas, armados até os dentes e usando colete a prova de balas. Estávamos no jipe blindado de Raphael, trabalhar para o Governo tinha realmente suas vantagens.
Fomos o caminho todo em silêncio, estávamos com medo, como qualquer outro ser humano teria ao se colocar frente a morte. Nos preparávamos mentalmente para a batalha, exatamente como fomos ensinados a fazer. Em poucos minutos, lá estávamos nós, A poucos metros da enorme construção da OR. Não havia câmeras lá, essa era a única coisa da qual tínhamos certeza.
— Vocês estão prontos? — indaguei.
Ambos assentiram, pegando seus explosivos.
— Vamos acabar com eles.
Aproximamo-nos com cuidado do local. Havia dez homens cercando a construção. Era uma espécie de galpão. Nós nos separamos, cada um com duas pistolas com silenciador. Naquela ocasião, não havia escolha, tínhamos que matar toda e qualquer pessoa que pudesse alertar nossa chegada.
Aproximei-me de um dos guardas, ele estava longe dos outros, sentado em uma cadeira com seu celular em mãos. Escondi-me atrás de uma árvore, a cerca de cinco metros de distância dele. Estava distraído demais, era o alvo perfeito. Mirei em sua cabeça ao longe, ele não estava se movimentando, o que facilitava o processo. Em poucos segundos eu destravei a arma e atirei. Não houve barulho, o silenciador era uma vantagem das armas que tínhamos. No momento seguinte, o guarda estava morto.
Havia mais um chegando, ele arregalou os olhos ao ver seu companheiro morto. Antes que pudesse fazer qualquer movimento, atirei nele também, vendo seu corpo cair como um saco de areia no chão. Corri até onde seus corpos estavam, olhando de esguelha para o lado direito do galpão. Mais três homens vinham em minha direção, mas aquilo não era realmente um problema.
Em meu bolso, havia quatro shurikens. Eu ainda não era muito bom com eles, mas dava para o gasto. Lancei o primeiro, mirando no pescoço de um deles, foi por pouco, mas o acertou. Ele caiu agonizando no chão. Os outros dois se assustaram, encarando-o. Um deles correu, mas ele foi o próximo a ser acertado. Já o último, procurou atentamente com os olhos o local de onde vieram as armas. Ele estava com sua arma levantada, pronto para atirar. Quando finalmente me avistou, acertei o terceiro shuriken em seu peito e o ultimo em seu pescoço. Poderia tê-lo economizado, se não fosse tão meia boca em atirá-los.
Não havia mais nenhum guarda por perto, então eu pude finalmente adentrar o galpão, na esperança de que meus companheiros houvessem se saído tão bem quanto eu. A partir daquele momento, eu deveria ser o mais rápido possível.
Atravessei a porta lateral do galpão, dando de cara com uma enorme sala. Não havia ninguém ali. Suspirei, caminhando cuidadosa e atentamente, tentando não emitir som algum. Eu não era nenhum tipo de ninja, mas também não era de todo ruim.
Havia no fim da sala, um corredor com seis portas. Suspirei, sem saber em qual delas entrar. Fechei as mãos em punho, sabendo que se desse um passo em falso, ia acabar morto, ou pior, torturado. Okay, pensei, vai dar tudo certo. Coloquei a mão sobre o trinco da primeira porta, prestes a abri-la. Foi quando eu ouvi, era um grito, um grito dela. Vinha da última porta.
Andei sorrateiramente até lá. Ao abri-la, quinze pares de olhos me encararam, mas foi como se eu só visse um deles. Lá estava ela, amarrada em uma cadeira. Um de seus olhos estava roxo e escorria sangue por seus singelos lábios rosados.
— Lorenzo — sua voz aveludada me atingiu, triste e amedrontada.
No segundo seguinte eu estava sendo atacado.
Olá, meus leitores, tudo bom? Eis aqui mais um capitulindo para vocês. Espero que aproveitem ao máximo. Mal posso esperar para ter tempo de escrever o próximo capítulo.
Um abraço, tenham um bom fim de semana 💕♥
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Nenhum de Nós
RomanceViver isolado do resto das pessoas era uma tarefa fácil para Lorenzo Bitencourt. Pelo menos até a chegada de Ayla. Contrariando tudo e a todos, o destino dos dois parece insistir em se cruzar, mesmo contra todos os esforços de ambos. Enzo não fazia...