Capítulo 16

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Ayla estava sentada no sofá da sala, ela havia permanecido ali após nosso beijo, pensativa

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Ayla estava sentada no sofá da sala, ela havia permanecido ali após nosso beijo, pensativa. Mantinha seus olhos fixos em mim a todo momento, como se estivesse comprovando que aquilo foi real.
— Preciso te contar a história toda sobre o que houve comigo — falei de repente — Devo isso a você.
— Você não precisa... — murmurou.
— Tenho que contar... — mordi o lábio — Só, tenta entender tudo, okay? Eu só peço isso, não me julgue antes de saber a história toda.
Ela assentiu com a cabeça.
Pensei na melhor forma de contar tudo, olhando para o nada por um tempo, sem emitir som algum. A verdade é que não havia jeito fácil de contar aquilo.
— Bom — vaguei pela sala, sem saber ao certo por onde exatamente começar — Meus pais biológicos não queriam me ter, foi um acidente. Então minha mãe quis fazer um aborto, mas o meu pai não deixou, ele disse que seria bom, assim ninguém desconfiaria de como eles eram de verdade e do que faziam, pareceria apenas que éramos uma família feliz como qualquer outra — suspirei — Eu cresci, fui criado pela minha avó materna até os sete anos de idade, foi quando ela morreu, e Lucinda foi contratada para cuidar de mim.
— Acontece que, nos momentos em que ela não estava comigo, meus pais me maltratavam. Eles me assustavam, falavam coisas, como, que eu não era nada para eles, que só me tiveram para manter a farsa. Eles me agrediam fisicamente também — ergui a manga de minha camiseta, mostrando-lhe minha tatuagem no braço — Aqui tinha uma cicatriz, de um dia em que eu estava dormindo e o meu pai me acordou, queimando meu braço com um cigarro. Eles sempre tinham alguma desculpa para quem perguntava sobre meus ferimentos, diziam que eu era um garoto muito agitado, e por isso me machucava frequentemente.
Passei os dedos entre os cabelos.
— Certa vez, minha mãe segurou meu braço tão forte, que as marcas dos dedos dela ficaram ali por mais de uma semana. Para que ninguém soubesse, ela não me mandou para a escola durante um tempo, disse a todos que eu estava doente. Quando Lucinda descobriu o que faziam comigo, ela quis denunciá-los, mas não sabia como me proteger. Meus pais tinham muito dinheiro, sempre davam um jeito de escapar de pagar por seus crimes. Seria fácil para eles se safarem dessa, então, a única coisa que ela pôde fazer foi passar o máximo de tempo que conseguia comigo, porque enquanto estava com ela, eles não me machucavam.
Meus olhos começaram a lacrimejar. Eu não tinha vergonha, não tinha vergonha de mostrar esse meu lado para ela, só tinha medo de qual seria sua reação ao saber de tudo.
— Um dia, quando eu tinha treze anos, cheguei em casa depois da escola, minha mãe estava me esperando com um sorriso no rosto. Eu tinha demorado cinco minutos a mais do que deveria para chegar, e ela adorava quando coisas assim aconteciam, para que pudesse me culpar por estar me machucando, como se fosse motivo o suficiente.
Não me atrevi a olhar em seus olhos enquanto falava, aquilo tudo era doloroso demais para mim. A pior parte da minha vida foi aquela.
— A intenção dela era me levar para o jardim, ela fazia isso toda semana, me levava lá e me fazia segurar suas rosas, cobertas por espinhos. Acontece que naquele dia o meu pai chegou mais cedo da empresa, e quando ele me viu calado enquanto ela me puxava pelo braço, a fez voltar. Ele tirou o cinto, e me bateu. Bateu em minhas mãos primeiro, depois em minhas costas, três vezes. Minha mãe falava o tempo todo, enquanto ele me batia, sobre o quanto aquilo era minha culpa. Acontece que eles não sabiam, mas Lucinda havia chegado em silêncio e presenciado a cena, ela ligou para a polícia. Estava com Luíza naquele dia, e não podia impedir meus pais, porque eles poderiam acabar machucando as duas também.
Suspirei.
— Acontece que ela não aguentou me ver naquela situação, então levou Luíza para a casa da vizinha, para que ela não presenciasse aquela cena horrível. Quando minha mãe, Lucinda, voltou, a polícia já estava lá, e meus pais tinham me estuprado.
Respirei fundo.
— Eu fiquei na casa lar depois disso. Minha mãe biológica se suicidou no primeiro dia na prisão, já meu pai, bom, você sabe o que fazem com estupradores na cadeia... — dei de ombros — não durou nem uma semana. No tempo que passei na casa lar, conheci Raphael, ele me ensinou como me defender. Depois nós ficamos alguns anos separados, quando a minha mãe Lucinda conseguiu me adotar.
Agora viria a outra parte da história, a parte pela qual ela devia estar tão confusa.
— Eu não tenho só dezessete anos como você, já estou com vinte e dois. Terminei o ensino médio e fui para o exército, foi lá que reencontrei Raphael, e também foi lá que uma organização secreta do governo nos recrutou para uma missão, nós estamos aqui disfarçados, ninguém da cidade sabe o que realmente fazemos. A Êxodo, que é a organização para a qual eu trabalho, me infiltrou aqui, me deu documentos falsos para que pudesse fazer o colegial novamente, é o jeito que encontraram para que eu não levantasse suspeitas, mas como pode ver, não resolveu muita coisa.
Ela não dizia uma palavra.
— Nossa missão é acabar com a OR, a Organização dos Resistentes, eles traficam pessoas e drogas, mas ninguém nunca consegue encontrar uma forma de provar tudo isso, nunca conseguiram fazê-los pagar. E agora eu sou o chefe da minha organização — despejei tudo rapidamente, querendo me livrar logo daquele fardo que era mentir — Foi por isso que te sequestraram.
Fiquei olhando para o chão, em silêncio. Não conseguia criar coragem para olhá-la nos olhos por mais que quisesse. Ayla se levantou do sofá, envolvendo seus braços em meu pescoço. Foi então que seus soluços ficaram incontroláveis. Ela chorava desesperadamente, suas lágrimas quentes escorrendo por meu pescoço. Fechei os olhos, abraçando-a com força.
— Eu sinto muito — sussurrou entre um soluço e outro — Sinto muito.
— Shhhh — alisei seus cabelos, beijando sua bochecha — Já passou... Já passou.
— Você era só uma criança...
— Eu sei — murmurei — Hey, está tudo bem agora, minha mãe nunca mais deixou que ninguém me ferisse, ela me amou e ainda ama o suficiente para compensar o tanto que meus pais biológicos me odiavam.
— Psicopatas... — murmurou — Não é justo.
Afrouxei nosso abraço, de modo a encará-la.
— Nada é justo — beijei sua testa — Mas eu tenho muitas pessoas que fariam tudo por mim agora. Tenho uma família de verdade, e é isso o que importa, o passado já passou. Não vou deixar que ele me assuste mais, nunca mais.

Oi gente, tudo bem? Agora que eu estou de férias os capítulos vão ser escritos e postados com mais frequência, okay?
Obrigada pelo apoio e compreensão de todos durante o ano, foi difícil escrever e fazer faculdade ao mesmo tempo.
Mas, graças a vocês, eu ainda tenho uma intensa paixão pela escrita, não vão se livrar de mim tão fácil!! 💕🌻

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