Capítulo 11

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Quando Raphael aproximou sua mão da porta do carro para abri-la, seu celular tocou. Era aquele toque em especial, ele indicava problemas, colocado exclusivamente para aquele contato. Meu amigo suspirou, me encarando com receio. Fechei os olhos, massageando as têmporas.
— Alô.
Quarenta segundos de silêncio de Raphael. O celular foi desligado.
— Lado norte da floresta — Murmurou ele para mim, voltando a colocar o cinto.
Gritei com toda a força, socando o volante. Era um código, significava um lugar, uma parte da floresta destinada para quando um de nós estivesse com problemas. Aquilo não podia significar nada de bom.
Dei partida no carro, aumentando a velocidade conforme nos afastávamos da civilização. Chegamos na floresta em poucos minutos. Lado norte, na realidade significava que deveríamos ir até próximo do pequeno riacho que passava por ela, onde havia uma pequena clareira.
Abri o porta malas do Porsche, encarando as diversas armas que ali se encontravam. Peguei duas adagas e uma pistola com silenciador. Raphael pegou uma pistola como a minha e um bastão de choque. Estávamos preparados para qualquer imprevisto. Ou era o que achávamos.
Chegamos na clareira em quinze minutos, a pé. Nós fomos em silêncio, observando a área. Ambos tínhamos lanternas em mãos e nos atentávamos tentando perceber qualquer movimento não animal na floresta.
Já no espaço de encontro, permanecemos calados. A adrenalina de repente corria por meu corpo, mantendo-me em estado de alerta durante todo o tempo. Ele enfim apareceu, com seu casaco preto, uniforme do exército por baixo, como se pudesse disfarçar o que era de verdade.
— Olá rapazes.
Acenamos com a cabeça, mas nada além disso.
— Vou ser direto. Tem alguém tentando me matar, e não vai demorar muito para conseguir — ele estava mais sério que o normal, parecia tenso também — Lorenzo?
Dei um passo à frente.
— Tem um policial disfarçado chegando na cidade, você deve encontra-lo amanhã na cafeteria "Bom Aroma" às dez e meia, não sabemos se estarão sendo vigiados, então sorria e trate-o como um amigo, enquanto lhe passa as próximas instruções.
Ele retirou um anel do bolso, entregando-o a mim.
— Você é o novo líder agora, tome cuidado com isso.
— O que? — pronunciei-me pela primeira vez — Não, eu não quero isso!
— Você não tem escolha.
Dito isso, um forte barulho atravessou a clareira. Era um tiro, e a pessoa que o disparou não estava nem um pouco preocupada em manter a discrição. Arregalei os olhos, vendo o corpo de Antônio cair sem forças no chão. Antes que qualquer emoção pudesse tomar conta de mim, eu e Raphael já estávamos atravessando a floresta, correndo como loucos, fugindo das próximas balas disparadas.
Entramos no carro ofegantes, chegando em minha casa mais rápido do que nunca. Eu desci do carro, jogando as chaves para Raphael, ele as pegou no ar, voltando para dentro do veículo e indo para sua casa como um foguete.
Abri a porta, encontrando minha mãe e Luíza na maior calma do mundo, deitadas no sofá enquanto assistiam a um programa de televisão. Elas se assustaram comigo quando entrei, ficando imediatamente em estado de alerta ao verem minha expressão. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, elas já estavam correndo para seus respectivos quartos e arrumando as malas.

— Aqui — entreguei para Luíza minha arma e munição e para minha mãe, um bastão de choque — Tomem muito cuidado.
Elas assentiram, entrando na caminhonete que estava na garagem, acompanhada de mais duas motos.
— Nós te amamos — mamãe beijou meu rosto, deixando algumas lágrimas escaparem de seus olhos — Tome cuidado.
— Vocês também — pressionei os lábios, soltando um suspiro — Eu amo muito vocês, com a minha vida.
Dito isso, Luíza arrancou com o carro, jogando-me um beijo e prometendo que ficariam seguras. Eu estava sozinho novamente...
Naquela noite, fui dormir com duas armas sob o travesseiro.

Acordei com o som de repetidas batidas na porta. Franzi o cenho, conseguindo pensar em apenas uma possibilidade. Eles me encontraram. Levantei-me da cama em um pulo, segurando minhas duas armas em mãos. Andei sorrateiramente até a sala. A pessoa continuava batendo, com insistência. Apoiei o cano de uma das pistolas na madeira da porta, ela seria atravessada por uma bala se necessário.
Abri a porta de vagar.
— Oi.
— Por Deus, Ayla!
Exasperei-me, puxando-a para dentro rapidamente. Ela arregalou os olhos ao ver amas as armas em minhas mãos.
— Por que você tem essas coisas? — perguntou, assustada.
— Minha mãe tem porte de armas — sibilei as primeiras palavras que me vieram em mente, trancando a porta e depositando as pistolas na poltrona.
— Isso não é nem um pouco estranho — revirou os olhos com sarcasmo.
— Eu nunca disse que éramos normais — dei de ombros.
Ela suspirou, sentando-se no sofá da sala. Ficou lá, em silêncio por vários e vários segundos que pareceram horas.
— O que te trouxe aqui? — quebrei o silêncio.
— Eu só vim ver se você está bem depois de ontem... — deu de ombros — Você parecia bem machucado.
Mal sabia ela.
— Foi só uma briga de bar, já passou.
— Desculpa por ter sido grossa com você — murmurou com muito custo.
Dei de ombros, sentando-me ao seu lado.
— Não vai falar nada? — pareceu um tanto quanto indignada — Eu vim até aqui te pedir desculpas, sendo que você também foi um babaca comigo!
— Olha, não é uma boa hora para você aparecer por aqui Ayla, eu estou com alguns problemas...
Ela revirou os olhos, abrindo a boca para provavelmente falar algo sobre eu ser um idiota, mas eu a cortei antes que emitisse qualquer som.
— Eu vou ser bem claro. Tem pessoas atrás de mim, elas estão querendo me matar. Não é seguro para você ser vista comigo agora. E... Sinto muito se te chateei ontem, não foi a minha intenção.
— Como assim tem pessoas querendo te matar?! O que você fez? — fulminante, era a palavra para descrevê- la naquele momento.
— Ayla, eu não fiz nada de ruim. É exatamente por isso que estão atrás de mim, porque eu salvei algumas pessoas e teve gente que não gostou disso.
Ela engoliu em seco.
— Eu não tenho medo, posso ficar aqui com você, o meu pai é...
— Ayla, eu preciso que vá embora.
— Mas...
— AGORA — exaltei-me, aumentando a voz, ela precisava ir, eu não poderia deixar que corresse perigo.
A garota se levantou do sofá com os braços cruzados sobre o peito, andando até a porta sem me dirigir um único olhar. Aquilo seria engraçado se a situação não fosse tão perigosa como era.
Antes que ela pudesse abrir a porta, eu a puxei pelo braço, forçando-a a olhar nos meus olhos. Ela era tão linda. Acariciei sua bochecha com o polegar, encarando-a com intensidade. Em um impulso, juntei nossos lábios, beijando-a. Minha língua passeou por seus lábios e por sua boca como um todo, entrelaçando-se na dela. Meus dedos se envolveram em seu cabelo, ela mantinha a respiração acelerada enquanto nos beijávamos. Separei-me dela com uma mordidinha em seu lábio inferior.
— Tome cuidado — sussurrei.
Observei-a enquanto ela desaparecia pela calçada, levando meu coração apertado consigo.

Olá leitores. Tiveram um bom dia? Talvez sim, talvez não. Mas... o importante é estarmos vivos, não é?
Façam uma boa leitura, esse é um presentinho extra para vocês, três capítulos em uma única semana. Aproveitem!!! Beijos 😊👼

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