Capítulo 12

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Vesti uma calça jeans e uma camisa preta, calçando um par de tênis qualquer. Escovei meu cabelo e passei um pouco de perfume. Quando já estava na porta, voltei para trás, Lorde me encarava com curiosidade.
— Melhor protegido demais, do que de menos, não é amigão? — sorri para ele, pegando duas adagas de meu guarda roupas.
Uma delas coloquei em meu tênis, era pequena o suficiente para ficar escondida, e grande o suficiente para fazer um estrago com quem pudesse tentar me matar. A outra coloquei no bolso falso de minha jaqueta de couro. Vesti-a, despedindo-me de meu cachorro e indo até a garagem.
— Hora de ver se você é tão boa quanto cara — murmurei para uma das duas motos na garagem.
Poderia dizer que ela valeu cada centavo. Cheguei na cafeteria as dez em ponto. Eu não sabia quem era o policial disfarçado, mas supus que ele soubesse quem eu era. Sentei-me em uma mesa para dois, pedindo um suco de laranja e um pão de queijo, já deixando-os pagos. Eu sequer estava com fome, mas tinha que parecer o mais comum possível, apenas um cara qualquer tomando o café da manhã.
Não demorou muito até que ele chegasse. Um sorriso de orelha a orelha tomou conta de sua face e ele abriu os braços como se me conhecesse há muito tempo. Eu ficaria surpreso se não houvesse sido treinado para mentir tão bem quanto ele.
— Lorenzo!
Levantei-me, abrindo meu próprio sorriso e abraçando-o com força.
— Eu sou o chefe — sussurrei enquanto encenava a minha felicidade por ver um estranho cujo nem o nome eu sabia.
Nós nos sentamos em nossos respectivos lugares e ele pediu apenas um café, que logo foi levado pela garçonete. O policial era um homem alto, mas não mais do que eu. Ele tinha entre 35 e 40 anos, cabelos loiros e olhos escuros, uma cicatriz no pescoço, que eu supus ser de uma ferida por faca. Exceto pela cicatriz, ele era como qualquer outro morador da cidade. Roupas simples, cabelo repartido e curto. Simplesmente normal.
— Bom, acho que devo me reportar exclusivamente a você agora, então — ele dizia as palavras com uma expressão amigável, sorrindo as vezes, como se falássemos sobre qualquer coisa do dia a dia. Conversa fiada.
— Exatamente — tal como ele, minhas expressões eram sempre as de uma conversa casual e animada — Antônio foi assassinado.
Ele assentiu, tomando um gole de café e parecendo não estar nem um pouco surpreso.
— Qual é o nosso próximo passo, agora que ele se foi?
Suspirei.
— Temos que agir com calma e pensar bem em cada decisão. Somos nós na mira da O.R agora, qualquer passo em falso e estamos mortos. Até onde eu sei, eles podem estar cientes de nossas identidades agora.
Ele assentiu novamente.
— Onde nos veremos de novo? — indagou.
— Ligue no número amanhã às oito da noite — levantei-me, tomando o resto do suco — Raphael te dirá o suficiente para saber o próximo local.
Dito isso, acenei para ele com um sorriso e saí do estabelecimento, sem saber se estaria vivo até o outro dia para encontra-lo.

Quando cheguei em casa, meu Porsche estava na garagem e ao lado dele estava Raphael, me esperando. Respirei fundo, aproximando-me dele.
— Olá, chefe — sorriu, mas seu sorriso estava mais para uma lástima. Ele sabia tanto quanto eu que os "felizardos" a receberem o cargo de chefe não costumavam durar mais que um ano antes de serem mortos pela OR.
— Olá — sorri de volta, com pouca animação.
— Deu tudo certo na cafeteria?
Dei de ombros.
— Por ora — suspirei, adentrando minha casa e ele veio logo atrás — Mas não temos como saber se estamos na mira ou não, esses caras são perigosos. Temos que tomar muito cuidado.
— Você contou para Ayla o que está acontecendo? — encarou-me com cuidado — Ela pode ser um dos alvos deles também, se souberem do envolvimento de vocês dois.
— Não contei — minha face se contorceu — Há muitas coisas sobre mim que ela ainda não sabe, e isso tudo iria assustá-la demais.
Ele ponderou, colocando uma mão sobre meu ombro e me encarando fixamente. Eu sabia que devia ter contado a ela, mas contar não iria melhorar as coisas. Ela estava em perigo pelo simples fato de ter me conhecido, como eu poderia dizer-lhe isso? Como poderia explicar todas as coisas bizarras da minha vida e esperar que não saísse correndo de mim?
— Ela tem o direito de saber, você entende isso, não é? — deu tapinhas em minhas costas.
— Eu sei — foi a única coisa que consegui pronunciar.
Ele foi embora logo, dessa vez foi com uma das motos, eu havia dado a ele. Fiquei parado na janela por um tempo, um longo tempo. Lorde me encarava como se soubesse tudo o que estava acontecendo, ele estava um tanto triste também, deitado no tapete com a cabeça apoiada nas patinhas.
Fiquei pensando em minha vida. Eu sabia que devia contar para Ayla tudo o que estava acontecendo. Tentei juntar toda a coragem que me restava para isso, mas eu simplesmente não conseguia achar um meio de despejar tudo aquilo que guardava para mim por tanto tempo, para alguém que havia conhecido a tão pouco. Ela merecia saber, mas eu não sabia se poderia contar.
Peguei o celular, discando seu número. Decidi marcar de nos encontrarmos, assim eu poderia decidir se contaria ou não, enquanto conversava com ela. Talvez assim eu decidisse fazer o que seria melhor para a segurança da garota.
A ligação chamou e chamou, até que caiu na caixa postal. Revirei os olhos. Já não foi fácil tomar coragem para ligar da primeira vez, e agora eu precisaria ligar novamente. Antes que eu terminasse de discar todos os números, o celular tocou. Era ela.
— Alô? — eu estava nervoso. Não houve resposta, nenhum som sequer — Alô? Ayla?
— Alô, Lorenzo.
Minha espinha gelou. Corri até o quarto com o coração acelerado. Abri o guarda-roupas depressa, tomando minha pistola em mãos.
— Suponho que não esteja muito feliz em ouvir minha voz.
— O que você quer? — sibilei.
Não era Ayla. Era uma voz masculina. Eu não a reconhecia, mas sabia muito bem de onde vinha. Era a voz de um dos membros da O.R, disso não havia a menor dúvida.
— Eu quero o anel, Lorenzo — sua voz era áspera — Se não me entregar ele hoje de livre e espontânea vontade, eu vou matar a sua garota, e arrancar seu dedo para toma-lo.
— NÃO — bradei.
— Você é quem sabe — desligou.

Boa tarde, leitores. Como estão? Eis mais um capítulo para vocês. Espero que gostem, foi feito com imenso carinho!!🌷♥

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