Capítulo 6

42 3 4
                                    

Na manhã seguinte, no colégio, a cena do intervalo se repetiu. Ayla sentou-se ao meu lado, mas nem tudo estava igual. Ela tirou um pêssego de sua mochila, comeu-o pela metade e então direcionou seus olhos intensos para mim. Dessa vez, não ficou vermelha, não houve sequer uma demonstração de nervosismo em sua voz. Ela apenas pronunciou as palavras, como se fosse simples fazê-lo.
— Vai ter uma festa hoje à noite, o pessoal da nossa turma estava organizando e me chamaram para ir— pigarreou — Disseram que eu poderia levar um acompanhante — explicou-me — Eu pensei em levar você.
— Oh — aquilo sim era uma surpresa, mas como nem todas as surpresas são boas... — Olha, peço desculpas, mas eu não posso.
Ela franziu o cenho, levantando-se da cadeira de pressa. Segurei seu braço, fazendo-a olhar para trás.
— Eu não consigo, não hoje.
Ela deu de ombros.
— Talvez prefira a dona do Porsche.
No mesmo segundo minha expressão mudou completamente. Uma risada escapou por meus lábios. A garota se soltou de meus dedos, e saiu andando a passos largos para longe de mim, chateada.
— Ayla, ela não é...
A garota desapareceu através do corredor, deixando-me sozinho com os pares de olhos que me cercavam, todos direcionados a um único ponto do refeitório, eu.
Levantei-me também, indo atrás da garota, mas ela já havia desaparecido do local. Durante as duas últimas aulas, todas as minhas tentativas de falar com ela foram completamente falhas, e quando o sinal soou, a garota saiu da sala como um raio, deixando-me para trás com minha explicação enroscada na garganta.
Entrei em meu carro, socando o volante. Puxei meus cabelos com força. O que está acontecendo comigo? Eu nunca havia ficado daquela forma por causa de uma garota, muito menos uma que conhecia a tão pouco tempo.
— Parece uma criança birrenta — resmunguei — Uma criança birrenta e chata.
Liguei o carro e ao chegar em casa ignorei todas as perguntas de Luíza, ficando calado durante todo o almoço.
— O que você tem, hein? — minha mãe indagou enquanto recolhia os cacos de vidro do copo que eu havia quebrado enquanto lavava a louça.
— Eu não sei, dona Lucinda — brinquei, mas minha expressão denunciava que eu não estava em um bom dia, muito menos para brincar — Eu não consigo parar...
— Não consegue parar o que? —alisou meu cabelo, depositando um beijo em minha bochecha.
— Não consigo parar de pensar nela — murmurei.
Ela sorriu, como se soubesse de todas as respostas para todas as perguntas do mundo.
— Então vá atrás dela, Enzo.
Suspirei, indo até o meu quarto.
Apaixonado. Era essa a palavra que usavam para nomear o que eu estava sentindo. Eu soube naquele momento, soube que o que eu mais queria era beijar aqueles lábios rosados, beijá-los até o fim do dia.
Pensei nela a tarde toda. Em como seus olhos eram bonitos e escuros. Em como seus cabelos lisos e compridos pareciam ser tão macios. Tive vontade de acariciar suas bochechas rosadas e de estar com ela.
Ayla era uma garota bonita, tinha cílios longos e lábios cheios, mas não de uma forma exagerada. Ela era pequena e frágil perto de mim, com meus 1,80 de altura, em contrapartida com o que eu supus ser seus 1,60. Era magra, mas tinha curvas singelas como as de uma boneca. Sem dúvidas ela se parecia com uma boneca de porcelana.
Resolvi seguir o conselho da minha mãe. Eu havia ouvido na sala de aula que a festa da turma seria na casa do Lio. Não gostava dele, mas sabia onde morava.
Tomei um banho longo e quente, vesti uma calça jeans e minha melhor camisa de botões. Ela era preta, como o tênis que calcei. Arrumei a barba, escovei os dentes, passei gel no cabelo, escovando-o para o lado. E claro, não podiam faltar o desodorante e o perfume doce que havia ganhado de natal, da minha mãe.
Saí do quarto, sendo pego no flagra por Luíza, que me deu uma piscadela e um beijo na bochecha.
— Se não conseguir beijar ela hoje, ninguém mais consegue — sussurrou em meu ouvido.
Sorri de lado, agradecendo-a pelo elogio e depositando um beijo em sua testa.
Peguei a chave do carro no balcão, gritei um "tchau" para as duas mulheres dentro de casa e adentrei meu Porsche, confiante.
Dez minutos depois eu estava na casa de Lio. Eram nove horas da noite, a festa já estava em andamento, mas eu cheguei bem a tempo de ver o que se passava do lado de fora.
Lá estava Ayla pressionada contra o muro da casa. Lio estava em sua frente, segurando-a pelos braços, eles estavam com os rostos muito próximos. Por um segundo, eu quase liguei o carro e voltei para casa, totalmente decepcionado, mas agradeci por não tê-lo feito ao presenciar a cena que se seguiu.
Ele a beijou, mas pude ver os braços dela tentando a todo custo se livrarem de seu aperto. Desci do carro, fulminante, prestes a esfolar o rosto de Lio no muro. Não foi preciso. O garoto a soltou com um xingamento.
— Você me mordeu! — ele parecia incrédulo com a situação.
— O que você acha que eu sou? — a garota estava com a voz alterada.
Lio tentou segurá-la novamente, mas ela lhe deu uma joelhada nas partes íntimas. O garoto urrou de dor.
— NUNCA MAIS TOQUE EM MIM.
Não pude conter o sorriso. Ela não era tão indefesa quanto parecia, fiquei feliz em constatar enquanto via Lio espernear e xingar, curvado sobre seu próprio corpo.
A garota andou em minha direção.
— E você? Do que está rindo?
— De nada, eu vim te ver — esquivei-me das broncas.
— Agora? — ela parecia consumida em ira — Cansou-se da sua prostituta de estimação?
Meu sorriso se fechou no mesmo segundo.
— Não fale assim dela — adverti —Você não sabe quem ela...
— Quem ela é? — revirou os olhos — Você é só mais um idiota mesmo! E eu que pensei que estava gostando de mim — riu com escárnio — Sou mais idiota ainda.
— Ela é minha irmã, Ayla.
— O que?
— A garota que você viu comigo no carro, é minha irmã — expliquei.
— Mas disseram que você não tem família...
Suspirei.
— Entre no carro e eu te explicarei tudo.
Abri a porta do carona para ela, que entrou, evidentemente confusa demais para falar qualquer coisa. Eu liguei o Porsche, levando-a até o meu lugar favorito da cidade, o restaurante japonês. Lá, eu contaria à ela minha história, ou parte dela...



Boa tarde, meus leitores maravilhosos. Como é bom estar aqui, disponibilizando meu livro para vocês ♥.
Contem-me algo: estão gostando? É tudo o que vocês esperavam? Vale a pena ler?
Desejo-lhes uma ótima quinta-feira, e se não nos falarmos no fim de semana, espero que ele seja maravilhoso para cada um de nós.
Um abraço e um beijo e deem sinais de vida kkkk. 😘❤

Nenhum de NósOnde histórias criam vida. Descubra agora