Capítulo Quinto

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Não sabendo se todo aquele silêncio da casa significava a tão esperada paz ou um afastamento repentino dos rapazes, o senhor Joestar decidiu observá-los mais a ficar enfiando-se nos papeis. Afinal de contas, hora ou outra, o Brando ajudaria-o e podiam até terminar mais rápido.
Mary estava servindo o jantar enquanto Jonathan entretia-se com algumas rosas na janela. Determinado a saber o porquê daquela taciturnidade toda, George resolveu puxar assunto com o filho.

— São príncipes negros — assentiu, enquanto parava ao lado do rapaz de olhos azuis. Costumava ver a vida emanar deles, diferente dos seus foscos, mas parecia haver algo de errado no brilho dos olhos de Jonathan.

— Sim e são muito belas. Lembram-me... — pausou, sentindo as portas da janela fecharem-se em seu peito; as aves batiam as asas com desespero. — Lembram-me do quão traiçoeiras as pessoas podem ser.

— E o que pensas ao dizer isso, Jojo? — um bocado incomodado com a insinuação séria e repentina do filho, questionou. Os lábios que costumavam carregar os sorrisos mais belos da casa estavam cerrados, amargando-se nas curvas.

— É que as rosas são de grande beleza, apaixonantes aos olhos de qualquer criatura — Jonathan passou os dedos pela superfície cor de vinho das pétalas, com um olhar apaixonado. —, mas escondem fatalidades a quem ousa aproximar-se — levou os dedos até as folhas grandes, ásperas e escuras. Forçou a mão entre os caules finos e cortou-se, logo levando o vermelho de seu sangue aos olhos velhos do pai. — Veja. E se amaste uma rosa, como aproximaria-te dela com toda essa relutância espinhenta? Cortaria-se? Cortaria-a?

— Decerto que existem coisas a demandar cuidado, Jonathan. Essas pessoas traiçoeiras podem ter sofrido, como as rosas sem espinho sofrem com ataques. Não só as rosas espinhentas como também as pessoas traiçoeiras também possuem pontos fracos — George traçou um caminho por baixo das pétalas, onde forçou até ouvir um estalo. Partira a rosa com dois dedos, sem sequer cortar-se. Jonathan olhava-o, incrédulo. — Entretanto, não se deve atacar a fragilidade traiçoeira com truques maldosos, como quebrar uma rosa espinhenta pelo pescoço ou arrancar-lhe os espinhos. Talvez deva fazer com que seu caule seque e as armas caiam, talvez deva força-la baixar a guarda.

— Eu não entendo, pai — confuso, acabou calando-se em seu âmago. A única causa de toda aquela confusão em si era uma rosa espinhenta, que crescia silenciosamente no interior de suas janelas fechadas e que cortava impiedosamente as asas frágeis de suas aves. O gato desconhecia-a, mas o céu acolhia-a debaixo de suas cores e cobria-a com suas nuvens tempestuosas. — Mas creio ter de aprender a lidar.

— É certo que sim — finalizou a conversa, deixando no bolso do filho a rosa fragilizada. O aroma adocicado remetia às memórias de Jonathan para algo desconhecido, mas já admirado.

— O jantar está posto, querem algo mais? — Mary questionou, fazendo uma breve reverência.

— Mary, pode separar as ervilhas e pôr um prato a mais na mesa? — o pedido do filho surpreendeu a empregada e o pai, que olhavam-o atônitos.

— S-sim, senhor — retirou-se rapidamente, vendo que seu tempo estava curto; ouvira a porta do quarto de Dio abrir-se.

George cogitou que o silêncio da casa realmente fosse sinônimo de paz. Contudo, ainda havia algo em Jonathan que deixava-o incomodado, receoso.

Quando Mary terminou de organizar a mesa, viu a presença de Dio aproximar-se. O rapaz estava muito bem vestido, como sempre, mas tinha algo de diferente ali. Sentou-se de frente para Jonathan, como de costume, e serviu-se silenciosamente. Antes de iniciarem, George fez uma pequena reza e logo começaram a comer. Notava que os rapazes entreolhavam-se muito e imaginava que estavam pregando uma peça em sua velha pessoa. Desfez todo aquele ambiente sério que vinha dos dois com uma afirmação simples.

Um Gato Pulando A JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora