Capítulo Terceiro

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Após notar a figura felídia observar atentamente o céu, Dio entreteu-se por curtos segundos. O que queria um gato, olhando para o céu? Não podia voar e, daquela janela, era bastante difícil que conseguisse alcançar o pinheiro que ficava ali em frente. Caso tentasse um pulo, cairia provavelmente machucado, morto na pior das hipóteses. Era tolamente sonhador, almejando um impossível, e isso também irritava-o. Deixou que a pequena criatura ficasse ali e desceu, esquecendo-se completamente de seus segundos de reflexão inútil e internamente questionando-se do porquê tê-lo deixado ficar.

Na sala, Jonathan e George terminavam seu café quando Dio desceu. Os olhares dos rapazes encontram-se e o pai de Jojo podia jurar que iam matar um ao outro, não fosse um cumprimento deveras agradável do loiro para com os demais.

— Bom dia — disse, ainda inconformado de ter deixado-se levar pela laia de Jojo; desconhecia aquele lado persuasivo dele.

— Bom dia, por que não toma café conosco hoje? Ou acompanhe-nos neste final, pelo menos — o azulado pediu, falhando em deixar o rubor facial escondido. O pai notou aquela nova intimidade dos rapazes e fez um elogio.

— Vejo que estão dando-se melhor, detestaria ter que tomar alguma providência mais séria com vocês — da divisa com a copa, Dio ainda olhava-os de relance. Estava apoiado na parede, consultando alguns livros que estavam por ali. — Bem, hoje precisarei ir até a cidade resolver com a empresa sobre o caso de meu funcionário. Devo voltar para o jantar. Não se matem pelas minhas costas.

O mais velho levantou-se, deixando um toque íntimo nos ombros do Jojo. Passou por Dio e fez o mesmo, recebendo um olhar anormalmente calmo. Pediu que Mary adiantasse um pouquinho o almoço para que pudesse descansar durante a tarde e logo partir. A casa ficou em silêncio.

— Pretendo ler um pouco, se precisar de minha ajuda, bata na porta — Jonathan disse, evitando certo contato visual. Era estranho vê-lo arredio daquela maneira, mas Dio decidiu relevar. Afinal, era apto à calmaria e ao sossego.

Subiram juntos pela escada, esquecendo-se que os quartos eram lado a lado. A timidez de Jonathan ocasionou um nervosismo descomunal, fazendo-o esbarrar no loiro uma porção de vezes. As mãos chocaram-se logo após os ombos e o corpo do azulado respondeu com um rubor impulsivo. Dio sequer percebeu ou, se o fez, relevou. Assim que estiveram de frente para seus respectivos quartos, Jonathan esperou que o outro entrasse, para garantir que não olharia para trás ou algo do tipo. Estava ficando louco ou o quê?

Toda aquela personalidade anuviada e tempestuosa de Dio encantava-o, fazia-o agir sem pensar. Não entendia os arrepios, os rubores e muito menos o nervosismo; seu corpo reagia estranhamente à figura impassível de Dio Brando. E lá estava ele, admirando o céu para tentar entender o que passava-se na cabeça do gato. O felino balançava a cauda sinuosamente, com os olhos colados nos movimentos das nuvens. O céu estava aberto, diferente da cabeça do loiro, que ainda negava-se de ter aceitado um acordo tão tolo. Queria e podia ir embora quando quisesse, mas algo prendia-o ali bem como o par de olhos azuis do gato prendiam a imagem do céu em seus interiores.

Quando deu-se, estava na porta de Jonathan, com o gato atrás de si, largando em suas calças um cheiro de mato e alguns pelos brancos.

— Jojo — murmurou, não dando o braço a torcer de que estava a ponto de pedir ajuda ao Joestar. Por fim, bateu na porta e o gato entrou correndo.

— O que há? Algum livro falta? — era segredo seu, mas Jonathan não contava que os livros perdidos sempre iam para seu quarto. Gostava de ler o que o outro lia, tinha até certo interesse. Tais livros passavam bom tempo sumidos e, quando Dio dava falta, eles, magicamente, apreciam de volta no lugar.

— Não. É essa criatura, deve haver algo de errado com ela — emburrou-se como uma criança descontente. O felino agora esfregava-se carinhosamente nas mãos de Jojo, que havia abaixado-se por ele.

— E por que diz isso? — Jonathan questionou. Dio tinha sérios problemas com animais, quaisquer sejam, e com o gatinho não seria diferente. Entretanto, ele parecia preocupado não por pura birra, mas por realmente haver algo de diferente no bichano.

— Ele entrou no quarto hoje cedo, você viu. Mas quando saíste, pulou na janela e ficou observando o céu até que eu voltasse do café. Será que pensa que pode voar, amejando o céu assim? — parecia realmente um caso grave, mas Jonathan viu ali uma tentativa boba do loiro para aproximar-se dele. — Imagino que isso faça mal a ele. Se ele cisma de pular e se machuca não me importarei, todavia; ele será o prejudicado da história.

— Você peocupa-se com futilidades — Jojo riu e sinalizou para que o loiro entrasse. — Minha mãe era veterinária e, uma vez, vi um gatinho olhar muito para o alto de uma árvore, tentando alcança-lo.Gatos não vão a lugares altos sem um objetivo. Veja, se há um muro, ele certamente buscará lá em cima o abrigo de um cão raivoso, um local quieto para uma soneca ou apenas um banho de sol. Todavia, se ele olha para baixo, pode estar pensando nas dificuldades de um objetivo ou então o abandonando um deles, ela disse-me.

— Mas o que poderia encontrar no céu senão nuvens? As únicas aves que consegue pegar não voam tão alto, então por que ele continua a almeja-lo? Isso é ridículo.

— Não é — retrucou, amaciando o pelo do felino entre os dedos. — Acontece que as criaturas também têm segredos e, talvez, o segredo desse gato seja algo que ele vê no céu. Nunca saberemos e, se o fizermos, imagino que a irrelevância será evidente.

— Tsc. Fique com ele aí, não quero que ele morra sob minha janela — saiu, a aproximação de Jojo fora um fracasso. Sentia-o distante ainda que estivesse bem ali. O felino seguiu-o até alcançar a janela. — Por que insiste em voltar para o meu quarto?

É que o céu visto daqui é mais bonito, os olhos profundamente azuis responderam em sua própria língua e Dio notou algo muito familiar naquele gato. Os pelos brancos logo penduravam-se na janela e a cauda balançava com os possíveis desequilíbrios. O felino olhou mais uma vez avidamente para o céu e para o dono do quarto, com olhos de quem muito sonha, e atirou-se janela abaixo. Colérico, Dio fechou a janela e evitou olhar para baixo. É como se já sentisse aquela vida esvair juntamente com seu desejo tolo pelo céu. Quem sabe assim ele aprende a lição, pensou.

Um Gato Pulando A JanelaOnde histórias criam vida. Descubra agora