Fake Bandit ▸ Chanyeol

14.

    Acordei ouvindo Chanyeol conversar com alguém, abri os olhos e me sentei na cama, passei as mãos nos cabelos os colocando pra trás e, olhando o rapaz falando ao celular enquanto andava de um lado para o outro. Seus cabelos estavam bagunçados e, seus olhos inchados, pra mim era uma visão adorável.

      Ele havia passado a noite comigo, embora parecesse precipitado mesmo pra somente dormir, eu não tinha do que reclamar, ele acalmou meu coração. Sonhar e lembrar do seu sangue em minhas mãos havia sido aterrorizante, eu não conseguiria descansar sem ele no meu campo de visão. Então como ele prometeu, estava aqui quando adormeci e, quando acordei.

   Quando percebeu que eu havia acordado e que o observava, sorriu e fez sinal pra que eu aguardasse um pouco. Me levantei, iria escovar os dentes e lavar o rosto enquanto ele terminava a conversa.  

    Ao voltar o rapaz estava sentado sobre a cama ainda mexendo no celular, ele bocejava. Me aproximei dele o que fez ele deixar o celular de lado imediatamente.

— Bom dia! – Seu tom de voz era animado. — Dormiu bem? Teve outros pesadelos? – Sorri e me sentei ao seu lado na cama.

— Bom Dia! – Disse tentando ser animada mesmo tendo acabado de acordar. — Dormi sim e, não tive outros pesadelos, graças à você! Obrigada. – Chanyeol sorriu sem graça enquanto murmurava algo como "que isso, não fiz nada". — E você?

— Muito bem, até demais. – Voltei a sorrir. — Eu consegui uma casa pra gente ficar por esses dias, é bem de frente pro mar e é enorme. – Falou animado com gestos exagerados. — Acho que podemos ficar mais a vontade do que aqui, o que acha?

— Acho ótimo mas, não vai ser caro? Você tá pagando tudo sozinho, Chanyeol, não quero te dar muitas despesas. – Falei tímida encarando as mãos sobre o colo, eu estava me aproveitando demais dele já.

    Park então colocou uma de suas mãos sobre a minha e entrelaçou nossos dedos.

— Não se preocupe, eu tenho minhas economias. – Suspirei, imaginando de onde essas economias vinham. — O que foi? Você ficou estranha de repente.

— Suas economias provém do seu trabalho como subordinado daquele agiota, não é? – Perguntei esperando que sua resposta fosse sim.

— Não, eu não pego o dinheiro sujo daquele cara. – O encarei confusa, se não, como ele mantinha suas despesas? — Eu sou formado, ganho dinheiro com a minha profissão – Minhas sobrancelhas ergueram-se. — Você tá surpresa, não é? Como um bandido pode ser formado? Foi isso que pensou, não foi?

— Ya! Não foi dessa forma que pensei não, eu só me questionei como alguém que faz o tipo de trabalho que você faz teria formação, geralmente o padrão é não ter terminado nem o ensino médio. – Chanyeol riu nasalado.— Aliás, se formou em que?

— Você não tá errada não, eu só me formei porque precisavam me usar, alguém sempre é preso e eu tenho que me virar pra defender essas pessoas. Direito.

— Então você é um advogado gangster? – Chanyeol riu.

— Sim – Park suspirou parecendo nada contente com isso. — Você tá mesmo certa de que namorar comigo? Tudo sobre mim é ruim. – seus lábios formaram uma linha reta.

— Você não é ruim Chanyeol, é o que importa. Mas tô curiosa sobre algo – Ele me encarou.

— Sobre o que?

— Você tá arrependido? Não quer namorar comigo? – O olhei com os olhos semicerrados.

— Claro que não, eu não estou arrependido, juro – Disse de maneira afobada como o costume. — é só.. insegurança. – Ele encarou nossas mãos entrelaçadas em seu colo. — Eu reconheço a minha situação e, sei que não é fácil alguém especial, atenciosa e batalhadora como você namorar alguém como eu, que faz trabalhos para um agiota e, é problemático.

— Alguém como eu – Ri achando absurdo a forma como ele falava sobre mim, me colocando como alguém muito melhor que ele. — Eu não tenho nada especial, Chanyeol. Não tenho formação, só consegui terminar o ensino médio e, com muito custo. – Suspirei fazendo uma breve pausa — Trabalho desde sempre pra pagar a dívida que meu pai fez e, até parece que fiz isso por ser uma boa filha, pra ajudar, mas, no fim das contas eu só fiz por sentir como se fosse uma obrigação. Não houve um dia em que eu não reclamei de tudo e, fantasiei uma vida sem dívidas. Agora eu tenho ainda mais ódio por ter me desgastado tanto enquanto meu pai alimentava o vício dele e, nos afundava. Eu não sou especial, sou só uma garota com uma vida ferrada que encontrou alguém realmente especial, que apesar de fazer algumas coisas erradas, ainda mantêm o coração puro e livre de negatividade.

    Chanyeol ao mesmo tempo em que era a solução também poderia ser a piora para os meus problemas.

— Se eu soubesse que você era tão amável, eu teria me aproximado antes. – Chanyeol levou nossas mãos entrelaçadas até os lábios e deixou um beijo na minha mão. Minhas bochechas coraram com seu comentário, ele também parecia sem graça.

— Engano seu, eu não sou tão amável assim e, se tivesse se aproximado antes, eu não teria lhe dado atenção – Brinquei e Chanyeol me lançou uma carranca, em seguida manteve um biquinho frustrado nos lábios. — Não sou uma garota fácil, Chanyeol.

— Sim, sim… – Ele fingiu concordar — Pensando bem, você não é mesmo – Se deu por vencido — Ainda não me conformo que você não se lembrava de mim ou, que nunca me notou no parque. – Chanyeol cruzou os braços como uma criança mimada.

— Eu só sentia que te conhecia mas, não me lembrava. E como queria que eu te notasse? Na minha cabeça só existia dois pensamentos: a dívida que crescia todos os dias e, trabalhar. Ia para o parque espairecer, ficava imersa em meus desenhos. Sem tempo pra distrações. – Chanyeol voltou a fazer seu biquinho.

— Sabe, foi um choque pra mim te encontrar naquela casa. – Park descruzou os braços e, se voltou pra mim. O olhei interessada. — Só pensei "uau, adeus chances de um dia me aproximar dela". Foi uma maldita coincidência.

— Quando penso nisso, não vejo como algo ruim. Graças à você, muita coisa foi evitada e amenizada. – E se Chanyeol não aparecesse lá? E se nossos caminhos não continuassem se cruzando?

    Começou como uma coincidência infeliz mas, como dizem "há males que vem para o bem" e, conhecê-lo – embora em uma situação não muito boa – foi para o bem.

    As coisas teriam sido muito mais caóticas sem ele.