《2.3》

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O caminho até o hospital, foi feito em absoluto silêncio. Ally estava bem quieta, encolhida no seu canto, perdida em seus pensamentos. Lauren queria poder abraçá-la, olhar em seus olhos, e dizer que tudo ficaria bem, mas não podia. No fundo, ela sentia que nada ficaria bem, e isso a assustava. Ela tinha medo do que poderia acontecer com Ally, ela era tão agarrada ao pai. Ela também estava preocupada com Alejandro, e a família Cabello. Se Ally descobrisse o que Alejandro fez, o que Sinuhe fez... Não, ela não queria pensar sobre aquilo.

Não quando estava começando a ver Ally de outra maneira, do outro lado da linha, como uma pessoa boa e com sentimentos.

Ao chegarem no hospital, Ally correu para dentro, sem nem se importar com os trajes que usava.
Saíram de casa tão rápido, que Lauren não tinha notado que ela estava com seu pijama de bruxinhas. Pijama que se resumia, a um shortinho de ceda roxo, e uma blusinha da mesma cor, ambos estampados com pequenos chapéus de bruxa.

Podia parecer infantil, mas Lauren se incomodou, e muito, com os olhares que Ally recebeu pelo caminho.
Aqueles homens não tinham o direito, de olhar para ela daquela maneira.
Lauren correu até ela, e jogou seu paletó por cima do pijama. Não era muita coisa, mas por ela ser mais alta, o paletó cobriu boa parte de suas coxas. Ally a encarou com um olhar sugestivo, mas não disse nada e correu até a recepcionista.

_Eu gostaria de saber sobre um paciente. - Ally falou apressadamente, enquanto tentava não pular na recepcionista - O nome dele é...

_Ally...

Ela se virou, e viu a figura da mãe.
Patrícia estava pra lá de abalada. Seus cabelos castanhos, sempre tão arrumados, estavam uma bagunça. Assim como o rosto, manchado com a maquiagem. Pela postura de Patrícia,  dava para imaginar o estado de Jerry, já que ela parecia carregar o mundo nas costas.

Ally correu até a mãe, e a abraçou forte, desejando não ter que sair dali e encarar a verdade.

Lauren observava a cena de longe, e com certa emoção. Seria muito bonito, se não fosse a ocasião. Ela estranhou, o fato de Ally não derramar uma lágrima.

Lauren havia chorado, Patrícia mal se aguentava em pé, mas ela não... Ally mantinha a mesma postura de sempre, e se não fosse o desespero em seus olhos, Lauren juraria que ela não estava preocupada.

_Minha filha. - Patrícia soluçou.

Patrícia queria dizer algo que confortasse a filha, ou a si mesma, mas lhe faltou palavras. Ela acompanhou de perto o problema de Jerry, as idas ao médico e as pequenas crises... Ela sabia que o marido não suportaria uma crise mais forte, e por isso, orava para ter sido algo mais leve.

_O que aconteceu, mãe? - Ela perguntou. - Você estava com ele?

_Não, não. - Patrícia tentou se acalmar. - Ele tinha saído, disse que tinha negócios para resolver... Depois recebi a ligação da Laur e...

_Laur? - Ally se intrigou. - O que a Lauren estava fazendo com o papai?

_Eu não sei.

Ally procurou Lauren pela recepção do hospital, e a encontrou perto da porta, encostada em uma pilastra e com o olhar perdido.

Algo se acendeu dentro de Ally, e uma raiva imensa tomou seu corpo. Jerry não tinha negócios relacionados a Lauren, eles não tinham por quê estar juntos... A não ser, que...

Ally foi até ela, e a despertou com um tapa ardido em seu braço :

_O que você não me contou?

Os olhos castanhos, praticamente cuspiam fogo, e os punhos fechados, mostravam que ela já sabia a resposta.

Lauren não queria que ela soubesse, não enquanto estivesse tão nervosa, mas como sempre, não conseguia esconder nada dela :

_Te contei tudo o que...

_Eu não sou idiota. - Rosnou, dando outro tapa nela. - Ou você me conta, ou eu descubro sozinha.

Lauren bufou derrotada, ela não podia medir forças com Ally.

_Ele estava na casa do Alejandro.

Lauren chegou a pensar que Ally explodiria na frente dela, ainda mais depois de seu rosto adquirir um tom forte de vermelho.

Novamente Alejandro.

Era quase engraçado, como tudo que acontecia de ruim na vida de Ally, passava, de algum modo, pela família Cabello. Ela queria pegar o revólver em baixo do seu colchão, ir até a casa daquele maldito e explodir aquela cabeça oca.

Simples assim.

Mas não podia, não enquanto o pai estava no hospital, lutando pela vida.

_Diz alguma coisa, vai. - Lauren a sacudiu, tirando-a do transe.

Ally sorriu de lado e olhou nos olhos de Lauren, de uma maneira um tanto assustadora :

_Se acontecer algo de ruim com meu pai, eu vou atrás dele. - Disse pausadamente. - E depois mato você.

Naquele momento, Lauren desejou que ela não tivesse dito nada. Não que acreditasse nas palavras vazias de Ally, mas porquê não queria ter recebido aquele olhar ameaçador.

_Está me ameaçando? - Ela sorriu.

_Eu não ameaço. - Ela falou, virando as costas e indo na direção da mãe. - Eu cumpro.

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