《2.4》

154 17 14
                                    

_Não precisa ficar ai, olhando de longe.

Lauren se assustou com a voz. Ela estava um tanto distraída, olhando Ally através do vidro. Desde que o médico permitiu a entrada de parentes, Ally não tinha saído do lado do pai, e Lauren não tinha saído da parede de vidro.

_Acha que vai acabar tudo bem? - Perguntou a Patrícia, que se juntou a ela.

_Eu não sei. - Ela sorriu. - Jerry já está cansado, não sei se tem forças pra continuar.

Lauren bufou baixo, e voltou seu olhar para Ally. Ela estava sentada ao lado do pai, segurando sua mão e sussurrando algo que Lauren não conseguia ouvir.

Por mais que não aparentasse, ela imaginava a dor que Ally estava sentindo, e queria poder impedir que ela sofresse.

_Ela gosta muito de você. - Patrícia sussurrou.

_Duvido muito. - Retrucou, se lembrando da ameaça que recebeu mais cedo.

_Não deveria duvidar. - Ela disse, depois de uns segundos de silêncio. - Ally só tem um jeito torto de amar, não quer dizer que ela não ame.

Lauren olhou para Patrícia, e logo voltou a olhar para dentro do quarto.

Ally a amava?

Parecia um tanto improvável para ela. Que ela gostava, ou sentia algo por ela, era óbvio, mas amar?

Então Lauren se fez uma pergunta.

O que era amor?

Ela amava Ally?

A resposta veio no momento em que seus olhares se cruzaram.

Sim.

Ela amava a mulher decidida dos olhos tristes. Ela amava o jeito que ela torcia os lábios, quando algo não a agradava. Quando ela a arranhava na hora do prazer, ou quando erguia a sobrancelha.

O sorriso discreto, o debochado, o malicioso, e o que ela mais gostava, o sorriso sincero. Aquele que ela raramente mostrava, e que a deixava tão linda.

Ela era fodidamente apaixonada por Allyson.

_Eu amo a sua filha. - Ela admitiu, fazendo Patrícia sorrir de maneira maternal.

_Por que não diz isso a ela? - Perguntou, dando uma batida leve no vidro. - Leva ela pra se distrair um pouco.

Ally saiu do quarto, bem contrariada, mas obedeceu a mãe.

Ela parecia muito cansada, estava com uma expressão estranha no rosto e umas olheiras enormes.

_Vai com a Lauren. - Patrícia disse para a filha. - Está tarde, você precisa descansar.

_Eu vou ficar, não preciso descansar. - Disse, fazendo pirraça.

_Allyson, está decidido - Patrícia falou, com delicadeza e seriedade - Eu fico com seu pai, e você vai pra casa.

Ally queria dizer não, e ficar ao lado do pai. Queria gritar com Patrícia, dizer que não era mais uma criança e que não seguiria ordens. Mas viu o sofrimento da mãe, o cansaço que abatia, a sempre perfeita, senhora Brooke. Ela não queria causar mais problemas, então aceitou as ordens da mãe.

_Me liga. - Pediu. - Qualquer coisa, um espirro, me liga. Por favor.

_Pode ficar tranquila, amor. - Patrícia abraçou a filha. - Vai ficar tudo bem.

Lauren acompanhou Ally até em casa, e novamente, o caminho foi feito em silêncio. Ela preferiu prestar atenção na estrada, e Ally estava perdida em pensamentos.

Ally parecia perturbada, como se algo, além do estado do pai, a estivesse atormentando.

_Está entregue. - Disse, assim que chegaram ao apartamento de Ally. - Você vai ficar bem?

Ela não respondeu, porque não sabia o que responder. Não sabia se tudo ficaria bem, se ela ficaria bem. Ela queria acordar, e ver que estava num pesadelo horrível, mas que não passava de um sonho ruim.

Ela não convidou Lauren para ficar, mas também não disse pra ela ir. Na verdade, ela não disse nada, e isso a preocupou. Ela estava quieta demais, e para o momento que estava vivendo, isso era ruim.

Ally pareceu não se importar com a presença de Lauren, ela correu para o seu quarto e agarrou Teddy.

Se sentia com cinco anos novamente, via alguém que amava partir, e não podia fazer nada.

Ela não queria sair do hospital, porque da última vez que deixou alguém, recebeu uma notícia ruim depois.

Foi assim com Susan, estava sendo assim com Jerry. Ela estava vivendo um inferno, e parecia que não ia parar nunca, que ela nunca teria paz.
Por que Jerry tinha que ter ido atrás de Alejandro?

Por que não deixou que Ally resolvesse?

Ela se sentia culpada, pensava que se não tivesse contado ao pai, ele ainda estaria ali, cheio de vida ao lado dela e da mãe.

_A culpa é minha. - Ela sussurrou pra si mesma.

_Ou, não se torture tanto.

Lauren estava observando ela, viu quando ela se agarrou ao velho urso e a ouviu se culpar pela situação do pai.

_Essa nem parece a Ally, que me ameaçou no hospital. - Ela sorriu, tentando animá-la e falhando miseravelmente.

_Você não me conhece, não sabe nada sobre mim.

Ela revirou os olhos, reconhecendo a tática dela. Aquele era o jeito dela se defender, atacando e mantendo as pessoas longe. Não funcionaria, não naquela noite.

_Bom, eu conheço um pouquinho. - Disse, se juntando a ela na cama. - Eu sei que sua cor preferida é vermelho, e que você odeia rosa.

Ally olhou para ela, que sorriu e continuou :

_Sua comida preferida é lasanha, você ama paçoca e é alérgica a abacaxi.
Eu sei que odeia filmes de romance, poque acha bobo. E prefere o frio ao calor.Você odeia flores, mas adora ursos e filhotes.

Ally sorriu melancólica, ouvindo Lauren contar detalhes da vida dela, coisas que quase ninguém sabia.
Mesmo mostrando saber muito, Lauren não sabia de nada. Ela queria contar as mesmas coisas que contou a Jerry, mas não teve coragem.
Simplesmente não conseguiu dizer a ela, que aquela mulher que ela conhecia tão bem, não existia. Que ela não passava de uma casca, usada para esconder uma menina indefesa e rancorosa. Lauren era a única capaz de fazer com que se sentisse bem, a única que a entendia e ela não queria perder isso.

_Laur...

_Eu sei que está sendo difícil, mesmo você fazendo questão de esconder. Eu te conheço, sei quando...

_Não. - A interrompeu. - Você não me conhece.

Ally pulou da cama e voltou a vestir o smoking de Lauren.

_Aonde você vai a essa hora? - Ela perguntou, seguindo-a pela casa.

_Eu não. Nós. - Falou, pegando as chaves e abrindo a porta do apartamento. - Tenho que te mostrar uma coisa.

_Precisa ser agora?

_Precisa. - Ela a puxou para fora, trancando a porta atrás de si. - Hoje você vai conhecer Lara Almeida.

RevengeOnde histórias criam vida. Descubra agora