3 de Setembro de 1958

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Mari POV

Muitas coisas aconteceram depois da morte de Júlia, eu fiquei muito triste e não aceitava isso. Não participei muito dos ensaios dos meninos, eu estava meio fora de tudo, mas no fim de Julho voltei para os ensaios e John parecia tão grosso comigo, eu estava meio sensível com tudo isso, John sempre foi insensível com todos, mas agora era algo mais forte, não sei explicar. Paul também mudou comigo, para melhor claro, ele sempre foi muito fofo e isso me deixa feliz. Eles começaram a fazer ensaios na faculdade de John e tinha uma menina que assistia tudo, ela tinha escrito no caderno de composições do Paul, não vou mentir, mas estava com ciúmes, tá talvez muito ciúmes, eu nunca tinha visto ela, mas com certeza é uma menina linda. Mimi mandou eles treinarem, como ela dizia, em outro lugar e os ensaios passaram a ser na casa de Paul, mas esse ensaio incluía apenas John e Paul, eles eram os compositores da banda e George era só o guitarrista, o que eu achava ruim, quem disse que ele não poderia escrever algo muito bom? Esses ensaios custavam algo para nós quatro, o irmão do Paul sempre estava lá, que era faltar, Paul nunca tinha faltado nenhuma vez, era como se estivesse fazendo algo louco, o máximo é que era errado, mas Paul queria fazer essa banda dar certo, claro que não só ele, mas John e George também queriam. A sala de Paul era simples, com um sofá e uma poltrona do lado do único telefone da rua, John e Paul pegavam dois banquinhos sem encosto, que renderia uma boa dor nas costas depois de algumas horas, eles sentavam um do lado do outro, mas virados meio que de frente um para o outro e como Paul é canhoto e John destro eles pareciam um espelho

— Bom.... ideias? - Paul perguntou para John, eu e Michael sentamos no sofá os observando

— Não vim com nada pronto para você estragar - John como sempre sendo irônico

— Então vamos escrever um monólogo - Paul disse

Quando Paul e John não tinham ideais para músicas geralmente eles escreviam monólogos ou peças de teatro que nas mãos de John podia ser algo realmente bizarro e brilhante, John fazia um jornal quando tinha 6/7 anos e tinha ótimas crônicas e piadas, John era realmente talentoso com isso

— Eu vou fazer chá para nós - eu disse e fui para a cozinha

Peguei a chaleira para aquecer a água e ouvi passos atrás de mim, eu sabia que era Paul porque eu reconhecia o barulho dos passos de Paul, parecia meio maníaco, mas eu sabia

— Precisa de ajuda? - Paul perguntou

— Não, obrigada - disse

— Eu vim para pegar o cachimbo do meu pai, você vai querer?

— Não, obrigada. Vocês sabem que seu pai sabe disso né?

— Claro que ele não sabe, está tudo certo

— Pais sempre sabem Paul

Paul saiu para a sala e eu coloquei a água para aquecer. Ouvi a porta abrindo e um suspiro, cheguei na sala com a xícara com chá dentro e vi que era o pai do Pal, Jim

— Quando me disseram que vocês dois estavam faltando as aulas eu não quis acreditar, quis vir pessoalmente aqui para ver com os meus próprios olhos - Jim disse olhando para Paul e Michael, depois viu John e me viu - Vocês arrastaram até a Mariana para essa ideia maluca

— Na verdade senhor McCartney, eles não pediram para eu estar aqui, eu quis vir - falei e tomei um gole do meu chá

— Tudo bem, não serei contra isso se quiserem - Jim passou ao lado de Paul e puxou o cachimbo de suas mãos - Eu já sabia que você fazia isso - olhei para o Paul com um olhar que dizia "eu não disse?", Paul apenas balançou os ombros como se não se importasse. Jim se sentou na poltrona e pegou o jornal que ficava ao lado do telefone e ficou quieto durante todo o ensaio, ficou noite e John foi embora, Jim pediu para que eu ficasse mais um pouco

— Eu só queria avisar vocês três, tomem cuidado com o Lennon, ele ainda vai dar problema para vocês

— Pai, nada vai acontecer, está tudo bem  - Paul tocou no ombro de seu pai

— Eu vou indo - eu disse

— Eu te levo até lá fora - Paul disse

— Até lá fora? - Jim deu um olhar para Paul

— Meu motorista está lá fora - disse, me despedi de Jim e Michael

Paul me conduziu até lá fora, mais precisamente até a porta do carro e nos despedimos e não aconteceu nada demais se é algo que está pensando.

Cheguei em casa e minha mãe estava na sala, provavelmente me esperando, minha mãe não era a mãe mais preocupada do mundo, mas sabia que em baixo de tudo aquilo ela me amava, era apenas o modo dela de ser.

— Faltando aula e chegando tarde, é assim que você acha que funciona?

— Não acho que é assim que funciona, só demorei na casa do Paul

— Você estava andando para aquele lado da cidade a essa hora da noite?

— Estava e nada aconteceu

— Podia, aquele lugar é pobre e tem todas as gangues de Liverpool, já disse para o seu pai para voltarmos para Londres, eu sinto falta daqueles ares

— Vou tomar mais cuidado se é isso que tanto quer - dei uma pausa - Você sabe que não voltaremos a Londres até eu finalizar os estudos?

— Então não falte as aulas, não saia com esses rapazes e estude. Não aguento mais essa cidade - minha mãe saiu da sala e subiu as escadas me deixando sozinha na sala, pelo jeito ela quer fazer algo, só tenho medo do que seja

Two of usOnde histórias criam vida. Descubra agora