23 de Agosto de 1957

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Não havia muitas coisas na agenda do The Quarrymen, então eu acabava sempre em casa, ouvindo minha mãe falar sobre bailes e festas da alta classe que estavam acontecendo por Liverpool inteira e meu pai ficava na fábrica e quando chegava em casa me dava um beijo na testa e ia para seu escritório. Sobre Paul, ainda não tinha voltado do acampamento, eu estava meio triste pois mal conheci ele e ele já sumiu. John não estava me visitando muito pois tia Mimi iria o colocar em uma faculdade de arte e tudo na vida dele estava nessa função, mas hoje havia um show em um local estranho, o club era no subsolo e seu nome é Cavern Club, era um local de jazz clássico e o Quarrymen foi chamado pois tocava Skiffle que é considerado uma vertente do jazz. Era um grande avanço para os meninos, mas o ruim era Paul não esta participando de tudo isso. Minha cabeça sempre voltava ao Paul, não tinha como não pensar, acredito que qualquer garota ficaria assim, é o efeito que McCartney tinha em garotas com aqueles olhos. Bom, de qualquer jeito o The Quarrymen vai tocar ao meio-dia, o gerente do Cavern disse que era o horário mais cheio pois o pessoal que trabalhava na volta iam almoçar e iam ao Cavern para escutar jazz enquanto almoçavam. O Cavern ficava perto da NEMS e eu tinha que ir até lá para comprar alguns LP's. Me arrumei como sempre, vestido rodado, sapatilha e o cabelo amarrado, peguei minha câmera e desci rápido as escadas e já abrindo a porta para não ver minha mãe, Jim estava lá, pedi para ele me levar ao NEMS. A NEMS era um local simpático administrado pela família Epstein, eles são conhecidos do meu pai, eram pessoas ótimas e tinham a melhor loja de Liverpool. Entrei na NEMS e como sempre estava cheio, as cabines para escutar os LP's estavam cheias, eles sempre tinham a loja impecável e sempre atualizada com novidades daqui e dos EUA. Fui até a parte destinada ao Rock, peguei um LP do Little Richard e um do Elvis e fui no caixa e vi Brian Epstein, filho do dono da NEMS e gerente do departamento, Brian foi para Londres em 56 fazer faculdade de artes cênicas, todos diziam coisas sobre Brian, mas eu não ligo.

— Se não é a filha dos Campbell

— Olá Senhor Epstein, como vai?

Bem e você? Como vai seus pais?

— Sim, meus pais também estão bem, obrigada. Quando vai ver o The Quarrymen?

— Algum dia querida, você é fotografa deles né? - assenti com a cabeça - espero que dê tudo certo para você

— Obrigada Senhor Epstein, eu tenho que ir

Me despedi do Senhor Epstein e fui até o caixa pagar meus LP's. Jim estava me esperando na porta da NEMS e me levou até perto do Cavern. Desci as escadas do Cavern e encontrei os meninos no bar tomando um pint

— E aí Mari - Colin falou, os outros apenas levantaram o copo, John estava quieto

— Oi Lennon - falei me sentando ao seu lado

— Oi Mari

— O que aconteceu?

— Nada, só pensando nas ideias que apareceram hoje no café da manhã

— E o que foi?

— Minha mãe deu a ideia de eu ir morar com ela

—Isso é ótimo John

— Sim, mas eu sinto que sou um problema

— Para John, é sua família

— Mas as vezes eu não sinto isso

— É por causa do seu padrasto?

— Meio que é isso

— Tá tudo bem sentir isso

O gerente veio e os chamou para subir ao palco, como sempre sentei perto do palco. O local tinha até bastante gente

— Boa tarde Cavern, nós somos o The Quarrymen e vamos animar seu almoço careta

Eles tocaram várias musicas até que começam a tocar "Don't be cruel" do Elvis Presley e o gerente veio correndo com um papel nas mãos e entregou para John que parou imediatamente de tocar Skiffle até a última música e saíram do palco

— O que aconteceu quando vocês começaram a tocar Elvis - sai correndo para ficar ao lado de John que estava entrando em um corredor onde fica o camarim

— O gerente  disse para "pararmos com a droga do rock n roll"

— Que ridículo, essas pessoas de hoje em dia, o rock é o que os jovens querem, ninguém quer jazz - revirei os olhos

— Ah, fazer o que né? - John disse

— Até parece que John Lennon vai deixar por isso mesmo - Colin disse

— Você tem razão, nunca deixaria por isso mesmo - John disse saindo do camarim indo até o gerente do Cavern

— John para, não faz isso - falei e fui atrás do John

— Por que você é tão careta - John chegou falando assim com o gerente e eu parei bem atrás dele

— Me desculpe?

— O Senhor pede para nós pararmos com o rock n roll que é algo que chama atenção dos jovens, você é idiota?

— Você não tem direito de falar assim comigo, saia já

— Com todo o prazer, mas você vai ver que quando ficarmos famosos vamos tocar aqui e trazer várias pessoas e você vai ver como o rock n roll domina o mundo e é o futuro - John me puxou pela mão para fora do Cavern

— John, que loucura. Por que você fez isso?

— Fiquei afim e não falei mais que a verdade - John virou para mim - Quer que eu te leve para casa?

— Não precisa, o Jim tá aqui

Nos despedimos e voltei para casa, esse dia foi bem legal e de novo me peguei pensando no Paul. Ele nem deve pensar em mim e eu como uma boba apaixonada pensava nele a todo momento. Onde será que ele está?

Two of usOnde histórias criam vida. Descubra agora