Capítulo 6-Traje a rigor

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Jaime se sentia estranho, se contorcia incomodado, roçando a calça nova no banco de couro do carro. Havia um bom tempo que ele não possuía roupas novas. Ele conhecia um padre simpático das vielas com o qual colhia algumas roupas usadas no inverno, esse era seu shopping Center, uma velha igreja ocupada por mendigos.

Quando acordou, Akemi e Choun não estavam mais em casa. A mansão vazia era sem dúvidas assustadora, porém em um bom sentido. Após alguns minutos perdido, lá estava ele, o velho Yun usando seu smoking elegante o esperando na sala de jantar para servi-lo o café da manhã, e em apenas dois dias Jaime sentiu como se tivesse devorado toda comida que havia na casa.

Yun aconselhou que Jaime fosse até o chofer da mansão. Entrando no carro o motorista o levou a uma sofisticada loja de roupas, onde assim como Choun na noite passada, mandou ele renovar seu inventário de vestimentas. Sem querer criticar as doações da igreja mas Jaime sem dúvidas nunca havia visto roupas como aquelas. Após escolher as mais despojadas e esportivas da loja, o motorista se encarregou de quitar sua conta, a qual atingiu um valor atmosférico, devido ao padrão do estabelecimento.

Algumas horas depois e lá estava ele, sentado no banco de trás do carro preto, usando roupas novas e indo a um destino ainda desconhecido. O motorista, um homem forte, alto e moreno– ao qual tratou Jaime com extrema formalidade desde que se conheceram–, preferiu não revela-lo para onde estavam dirigindo. "Ordens de mestre Choun" disse ele.

Mestre? Parecia até que todos naquela casa tratavam Choun como algum ancião sagrado, isso definitivamente ia colocar uma cereja nesse estranho bolo de situações que foram os últimos dias.

O carro estacionou, parando bruscamente no meio fio enquanto o trânsito continuava na avenida. Jaime despertou de seu pequeno transe quando notou que a viagem havia acabado. O garoto abriu a porta rapidamente, impedindo o chofer de abrir passagem para ele como fez quando foram comprar suas roupas. Ficava desconfortável com tais mordomias, e constantemente durante aquele dia negou certas cortesias exageradas.

Quando saiu do carro o jovem se deu conta do ambiente em que estava. Em sua frente havia um enorme prédio, intimidador e emblemático, rompendo o céu límpido da manhã com seu comprimento. A calçada em frente ao edifício estava movimentada, com inúmeras pessoas bem vestidas e com portes de formalidade correndo em direção a entrada enquanto levavam maletas e pastas com documentos. Sem dúvidas o centro de Greenmile era completamente diferente das vielas. Era muito raro ver alguém na rua que não esteja usando terno e gravata, até mesmo as mulheres correndo com seus saltos alto esbanjavam elegância com roupas sofisticadas, enquanto saiam de carros caros de nobreza.

— Mestre Choun está a sua espera.– disse o chofer, fechando a porta atrás de Jaime— Eu levarei suas coisas para mansão e as deixarei no quarto. Pode seguir até a recepção e pedir um passe para subir.

— Subir? Perai onde ele está?– perguntou o jovem rodeando com os olhos o ambiente conturbado, estampando em sua face uma expressão de desolação e confusão.

A resposta para sua pergunta foi um simples apontar de dedos. O motorista subiu o braço levando a mão acima da cabeça e então apontou para o topo do prédio. Jaime estendeu a mão até a testa, tampando a luz do sol forte que batia em seu rosto apenas para observar o alto da estrutura, onde avistou com dificuldade a grande fachada do prédio, um telão suspenso no topo, onde era escrito com letras vivas a palavra "D.N.A".

Enquanto estava distraído identificando seu destino, Jaime foi surpreendido pelo arrancar do carro, que deu partida pela estrada o deixando desolado no meio fio. Ainda desnorteado frente à situação, ele simplesmente ajeitou sua singela mochila nas costas e então prosseguiu, indo em direção ao edifício.

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