Capítulo 1- Bebida só para maiores

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2031
Greenmile

A manhã morna em Greenmile castigava os cidadãos das vielas com o bafo quente que saia das fábricas industriais, rodeando a região com um cinzento aspecto de servidão.

Greenmile era uma cidade límpida e bela aos olhos do mundo externo. Seus grandes e sofisticados prédios davam uma estonteante visão quando vista da costa, grandes janelas azuladas com a cor do céu e belas casas, com um ar clássico sempre mesclado ao moderno pelas ruas movimentadas. Era a representação do futuro com um leve toque de realismo.

Greenmile sempre foi uma cidade privilegiada, o grande interesse das indústrias trouxe renda e prosperidade para a cidade, a dominando com empresas e indústrias de produção. O centro sempre belo e harmonioso, contracenava com a imagem cinza e movimentada das vielas industriais, onde grandes armazéns dominavam o ambiente, poluindo o ar com fumaça e cinzas.

Era horário de pico, as ruas estavam movimentadas e os carros se apertavam entre as pessoas para passar pelos becos apertados, entre os trabalhadores de macacão cinza e amarronzados. Jaime passava pela multidão com sua mochila azul avantajada, usando sua jaqueta vermelha e cobrindo sua cabeça com o capuz negro. Ele entrou em mais um beco estreito, onde os ratos passavam pelo chão sujo e as latas de lixo ocupavam todo pouco espaço que restava. Ele subiu em uma das grandes caçambas e pulou em uma das paredes, até pegar impulso com sua perna para saltar até a construção paralela, atingindo com maestria a janela quebrada mais acima no prédio.

Entrando no edifício abandonado, Jaime larga sua mochila no chão e segue em direção ao velho armário encostado na parede. O quarto estava completamente quebrado, havia uma goteira no teto e mesmo que não estivesse chovendo ainda pingava. Os poucos móveis estavam surrados ou quebrados, já a pequena TV estava apoiada em um caixa de frente à um colchão rasgado, ao qual ele usava de cama para dormir as noites frias que castigavam a cidade.

Ele abriu o armário, trocando sua jaqueta por uma blusa surrada. Ele conferiu as condições da roupa, para garantir que estivesse usável. Adotando agora a nova vestimenta, pegou na parte de baixo um canivete, e o guardou entre a bota e a meia, o disfarçando ao descer a barra da calça até que ficasse imperceptível.

Já pronto, Jaime deu uma última mordida em seu sanduíche matutino e se limpou, saltando da janela até a caçamba novamente. O jovem amorteceu a queda pressionando os joelhos e então prosseguiu com um ar de normalidade, seguindo seu caminho novamente entre a multidão.

Ao anoitecer ele seguiu para frente de um velho bar, esperando pelo momento certo para que finalmente entrasse no estabelecimento. Após certo tempo Jaime adentrou no recinto sem rodeios, e partiu direto até a cadeira de frente ao balcão, onde se sentou escondendo seu rosto na escuridão de seu capuz.

O bar estava cheio de operários dispensados do expediente, e desempregados sustentados pelas esposas. Havia música country ambiente tocando na área porém tudo era abafado pelo alto falatório dos clientes, que gritavam e xingavam animados pela grande quantidade de álcool que haviam claramente ingerido. Jaime observou cada canto do estabelecimento e dirigiu então sua atenção a imagem de um homem forte e rude, que gestuava seus contos inconveniente enquanto gargalhava alto, segurando uma garrafa de cerveja na mão direita.

— Você tem idade para beber garoto?

— O quê? – Disse o jovem surpreso por ser abordado de repente pelo barman.

— Quantos anos você tem, porra? Só vendo bebida pra maiores, nada de pirralhos.

— O que? Não, não, eu tenho 21. – Ele retirou rapidamente a carteira do bolso e revelou a identidade.

RELÂMPAGOOnde histórias criam vida. Descubra agora