Capítulo 5-Perai, isso é um flashback?

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"Ok, do começo então. Eu odiaria contar uma história triste pra vocês, sobre algum órfão desolado e suas buscas sem sucesso para encontrar os pais. Sobres suas noites passando fome, ou suas aventuras pelas ruas criminosas, entre confusões e perigos. Admita, isso é chato pra caralho! Mas fazer o que? É a minha vida...

Quando eu tinha menos de 5 anos fui largado na porta do Orfanato Mãe Mary Molis, com nada mais que um nome e uma data de nascimento escrita em um papel. O orfanato católico era um lugar rígido, nos obrigavam a levantar as 6 da manhã para partirmos aos salões da catedral onde levávamos o chão e os bancos antes da missa. Na verdade hoje em dia eu realmente percebo que Mãe Mary não era tão cruel quanto eu pensava quando pequeno. Eu era uma criança e pra mim lavar o chão, louça e orar toda tarde era sem dúvida uma tortura. Tínhamos que acordar cedo, éramos impedidos de brincar ou praticar travessuras típicas de crianças, mas era tudo para crescermos como pessoas de bem.

No final de tudo, como qualquer criança revoltada eu tramei um plano para fugir. Numa noite fria e escura, eu e outras crianças pulamos o muro de Mary Molis e corremos pelas ruas vazias o mais rápidos que pudermos até nos sentimos seguros. Naquela época eu não possuía pais ou familiares e desconhecia o que era uma família, não sabia onde meus pais estavam ou quem eram, ou porque me abandonaram, mesmo assim eu não estava completamente sozinho, eu não sabia o que ter uma família significava porém naqueles meses sombrios em que passei nas ruas, roubando frutas nas feiras e produtos nos mercados, correndo de comerciantes furiosos ou guardas de trânsito, eu possuía algo que podia chamar de família. Os garotos do orfanato com os quais fugi foram meus únicos companheiros durante aquele período da minha vida. Dividimos momentos difíceis juntos. Comida, abrigo, e mesmo tendo idades diferente podemos finalmente ser crianças enquanto vivemos na rua.

Com o tempo boa parte de meus amigos foram sumindo entre as guarras cruéis da cidade. Alguns aderiram à uma vida mais arriscada, caíram nas armadilhas da criminalidade, drogas e outras diversas coisas. No final, quando eu olhei para o lado só uma pessoa ainda estava comigo, Edward, meu melhor amigo durante os anos que passei em Mary Molis. Eu nunca fui uma criança propicia a violência ou atitude, quando me metia em encrenca no orfanato, era Edward que me ajudava, ele sempre esteve lá por mim, como um irmão, como a única família que eu tinha.

Eu e Edward passamos meses na rua vivendo um sonho de liberdade fantasioso que logo foi confrontado pelas dificuldades da vida. Nós passamos fome nas vielas industriais, dormindo em relento sobre as tempestades que caiam em Greenmile. Sem mais esperanças de uma melhora em nossos sonhos infantis, Edward acabou caindo em enfermidades, adoecendo durante os dias que passamos vivendo em um pequeno beco nas extremidades da cidade. Eu saia às ruas tentando trazer algo para comer porém a maioria dos comerciantes já conheciam minhas técnicas, decorrente das inúmeras vezes em que lhes passei a perna.

Certa manhã nublada eu corria entre a multidão apática, fugindo com algo que nem me recordo mais, porém me lembro que eu era rápido, me movia entre as pessoas com extrema agilidade, seguido constantemente pelos gritos furiosos do dono da mercearia. Quando sai finalmente do mar de gente que cobria as ruas, tive que cessar meu passos quando me trombei com um desconhecido, que andava com uma sacola de pano em sua mão. Eu tentei continuar meu caminho e despistar novamente meu perseguidor, porém logo fui confrontado pelo estranho que agarrou meu braço enquanto me fuzilava com seus olhares de estranhamento.

— Onde vai garoto?– disse o homem asiático já com certa idade, com um ar de desaprovação, mas ainda assim me confortando com simpatia com seu sotaque nipônico extremamente forte.

— Me larga velho!

— Ei seu ladrãozinho,– enquanto tentava escapar das mãos pesadas do japonês, o comerciante furioso emergiu entre a população, me encarando com crescente fúria– Esse pivete é seu filho? Ele acabou de roubar minha loja.

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