Capítulo 17

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   Eu deixei o moleton que ele levava no carro em cima da cama e coloquei café em uma xícara. Quando voltei para o quarto ele estava com os cotovelos apoiados nas coxas e com a cabeça abaixada, me aproximei e lhe entreguei o café.

- Obrigado.

Dei a volta na cama e sentei no lado oposto de Leo, eu não sabia o que falar ou fazer.

- Desculpa pelo modo como eu falei, você não é uma qualquer.
- Ok.

Ele passou um bom tempo em silêncio tomando pequenos gole de café e olhando para o nada.

- Por que você o beijou?
- O que?
- Por que você beijou o Liam?
- Não sei.
- Você só sentiu vontade e foi?
- Não, não foi assim. Estávamos brigando, ele se aproximava e nos beijamos.

Vi que ele apertou a xícara com força e fechou os olhos.

- O que você sente por ele?
- Nada!
- Aaa vamos lá Jhulia, VOCÊ não beija qualquer pessoa por sentir nada.
- É só atração, o fevor da briga eu acho.
- Se fosse qualquer outra mulher eu teria ficado bem, apenas terminaria e partiria para outra, mas agora é diferente, com você foi diferente desde o início, mas o que não entra na minha cabeça é o fato do Liam estar interessado em você, ele nunca olhou para nenhuma das minhas namoradas, as chamava de bonequinhas sem cérebro, mas aí você chegou, eu senti algo diferente e aparentemente, ele também.
- Ele não sente nada. - falei.

Ele riu sem humor e passou a mão nos cabelos.

- Eu nasci, cresci e convivi com meu irmão gêmeo, ele pode ter a personalidade forte e ser mais fechado, mas eu o conheço, ele nunca diria que gosta de você se não fosse verdade, ainda mais na frente de todos.
- Mas eu não o quero!
- Será mesmo? Talvez lá no fundo você esteja um pouco indecisa, só não se dá conta.

Fiquei em silêncio, eu não sabia o que dizer, não sabia o que exatamente estava sentindo. Será mesmo que o Leo tinha razão? Os beijos com Liam foram diferentes, intensos, algo que eu nunca havia sentido antes. Mas com Leo também era diferente, carinhoso, a segurança.

- Descanse, foi um dia longo. - falei.
- E você?
- Não consigo dormir.

Ele deitou e alguns minutos pegou no sono, eu por outro lado, fiquei pensando no que ele havia dito.

   Acordei e um braço forte estava ao redor da minha cintura, eu sentia uma respiração regular na minha nuca. Olhei no relógio e passava das 10, me virei ainda de olhos fechados e me estiquei, a pessoa ao meu lado também se mexeu, abri os olhos e tudo voltou a minha mente, toda a briga e confusão, o Leo bêbado na madrugada, a conversa. Ele abriu os olhos e logo focou em mim, ficamos observando um ao outros sem falar nada, depois da briga aqui estamos nós, compartilhando a mesma cama, olhando nos olhos e sem saber do que será de nós daqui pra frente.

- Bom dia. - ele falou sério.
- Bom dia.

Leo levantou-se e grunhiu de dor, a ressaca estava batendo na porta.

- Ai que dor de cabeça!

Levantei para ir ao banheiro para pegar um remédio e água na cozinha, levei para ele que estava com os olhos fechados e claramente com muita dor.

- Aqui.
- Obrigado.

Leo pegou o remédio e a água e tomou.

- Vou lavar o rosto. - ele disse.

Fui para a cozinha para fazer um café e panquecas, uma refeição seria bom para melhorar a ressaca. Leo apareceu na cozinha de moleton e a camisa da noite passada, um pouco menos abatido, mas bem diferente do Leo de sempre.

- Quer comer algo? - perguntei resseosa.
- Não obrigado, acho que já vou. Desculpa ter aparecido assim na sua casa bêbado, não sei o que deu em mim.
- Sem problema.
- Até amanhã, Jhulia.
- Até.

Ele pegou as chaves do carro e a calça jeans e quando estava na porta não aguentei.

- Leo!
- Sim?
- E nós?

Seu olhar de tristeza pesou sobre mim.

- Eu não sei, Jhulia. Não agora.

Liam

   Eu devo estar fora de mim mesmo, não estou me reconhecendo. Admito que fui um cretino ao querer a Jhulia por perto chantageando-a, mas eu senti algo diferente quando ela estava na minha casa, jantando ao meu lado, até quando falava sobre trabalho. Ela derrubou as minha muralhas desde o momento em que eu a vi e a tratei mal para tentar mantê-las de pé quando na verdade eu queria que ela entrasse. Por um tempo achei que estava sonhando sozinho, mas durante nossos beijos percebi que ela sentia o mesmo que eu, quando ela retribuía estava se entregando a mim também, e isso fazia meu coração acelerar com a esperança, mas logo lembrava que ela estava ao lado do Leo e não ao meu.

   Estou na porta do apartamento do Leo no clube, vou tentar conversar com o meu irmão e resolver as coisas, Jhulia disse que hoje ele estaria mais tranquilo e assim espero. Bati na porta e em alguns segundos ele abriu, pelo o que eu vi ele não estava muito bem: olheiras escuras abaixo dos olhos, cabelo desarrumado, apenas de moleton e com uma expressão bem triste. Droga!

- O que você quer, Liam?
- Conversar irmão.
- Não estou com saco para as suas conversas.
- Vamos lá Leo, quanto mais rápido isso acontecer, mais rápido irá se resolver.

Ele bufou e abriu mais a porta para que eu pudesse entrar, fui até a cozinha para pegar um pouco de água e sentei no banco em frente ao balcão, ele também pegou uma água, mas ficou em pé do lado oposto. Isso não era bom.

- Comece Liam.
- Huuum...desculpa?

Ele ergueu uma sobrancelha em surpresa e eu revirei os olhos, tudo bem que eu não pedia desculpas com frequência, mas ele poderia ajudar, certo?

- Foi um erro ter beijado a sua namora...a Jhulia.
- Você acha? - ele debochou.

Um Leo amargurado e debochado é algo novo.

- Acho Leo, eu não deveria ter feito isso, ela está com você e eu deveria ter respeitado.
- Um Liam ético é algo novo.
- Eu gosto dela tá legal? E percebi que ela nunca iria se aproximar se eu continuasse a ser um idiota.

Foi quando eu terminei que dei conta do que eu acabara de admitir. Eu gosto dela.

- E por que você acha que ela vai se aproximar de você agora?
- Você não entende o que aconteceu, não foi um simples beijo, tem algo a mais.

Ele gargalhou sem humor e arrumou o cabelo antes de socar o balcão na nossa frente.

- Você, o misterioso Liam sonhando com um beijo como um virgem na adolescência. Cara, você não teve um terço do que a doce Jhulia pode oferecer. - ele riu novamente.

Eu vim aqui para tentar resolver essa confusão com meu irmão, mas ele estava me tirando do sério sendo um babaca. Ele estava jogando ao vento que teve mais com a Jhulia do que eu poderia imaginar. Filho da puta!

- Eu vi aqui resolver as coisas Leo, por favor colabore. Vamos deixar que ELA escolha.
- Tudo bem. - assentiu com dificuldade.

Eu levantei e fui em direção a porta, finalmente conseguimos entrar em um acordo.

- Mas fique sabendo que você está em desvantagem. - Leo cuspiu rindo.

Ok, ele merece. Parei, dei meia volta e soquei a cara dele e saí do apartamento.

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