Capítulo 35

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Eu: você quer a história longa ou a resumida?
Mãe: temos muito tempo aqui.
Eu: ok então. Leo, que é o meu chefe, foi o primeiro que eu conheci. Sempre me tratou muito bem, cuida de mim, me ajudou a chegar aqui, é um ótimo amigo, me dá autonomia no trabalho e sempre quer me ver feliz. É o tipo de homem que eu sei que é o certo para mim.
Mãe: mas...
Eu: mas tinha o Liam, o irmão grosseiro, mandão, irônico, que deixa meus nervos a flor da pele, me atrai para ele, o qual me deixou confusa sobre os meus sentimentos.
Mãe: tinha?
Eu: é...a senhora sabe dos meus sonhos e projetos e Liam não compartilhava alguns deles.
Mãe: quais?
Eu: o de formar uma família. Depois de um acontecido onde ele me confessou que não queria uma família completa com filhos, acabei me afastando sem dar satisfações e ontem na viagem ele confirmou que não seria capaz de fazer isso.
Mãe: e você decidiu que a melhor opção é ficar com o Leo.
Eu: sim - não era uma pergunta, mas mesmo assim confirmei.
Mãe: filha, saiba muito bem o que está fazendo, não se trata somente dos seus sentimentos, e sim, de outras pessoas que se importa muito com você, não tome essa decisão se ainda tem dúvidas sobre o Liam.

Onde eu tinha me metido?

Eu: sim, mãe. Obrigada!
Mãe: não agradeça, apenas quero o seu melhor.
Eu: agora a senhora precisa descansar, viu?

Ela sorriu, encerrou a ligação e virou para o lado para dormir.

4 semanas depois...

   Hoje faz 1 semana que minha mãe recebeu alta e está em casa, ainda tomando remédios e se recuperando, mas bem o suficiente para poder voltar ao seu lar, nem posso explicar o tamanho da minha felicidade por isso.
Leo disse que eu poderia ficar o tempo que fosse necessário e que eu não me preocupasse com o trabalho, pois tudo estava sob controle e que a prioridade era a saúde da minha mãe, quase chorei quando ele disse isso, estou imensamente grata ao Leo por isso, mas eu já estava planejando a minha volta.
Estava, pois um fato que me ocorreu à dois dias e me fez ficar angustiada o bastante para repensar sobre essa possibilidade. À dois dias eu me dei conta que a minha menstruação estava atrasada quase 1 mês e vários acontecimentos reforçaram o meu medo: durante esse tempo senti alguns episódios de tonturas e enjoos, mas atribuí os fatos à correria que eu estava vivendo com a minha mãe no hospital, pois eu mal me alimentava, estava sempre alerta e dormia muito pouco. E durante esses dois dias eu estava negando a possibilidade de uma gravidez e evitando a impulsividade de comprar um teste, mas hoje eu não pude me conter, fui à farmácia mais próxima e comprei dois testes de gravidez. Me tranquei no quarto e fiquei encarando aqueles palitinhos, entrei no banheiro, fiz xixi em um potinho e coloquei os dois teste, esperei o tempo recomendado e fiz algo que não era muito habitual: rezei para que desse negativo.
E lá estava, os dois traços confirmando o que eu mais temia. Eu estava grávida!
Preciso realizar um exame para saber o tempo de gestação, mas quando Liam e eu transamos no avião não usamos camisinha, mas eu não me preocupei, pois sempre tomei anticoncepcional, mas pelo jeito eu era aquela margem de erro de todo método contraceptivo. Mas o pior era saber que essa criança seria indesejada pelo pai, que seria rejeitada e esquecida por alguém que deveria lhe dar amor, mas eu nunca permitiria que isso acontecesse. Eu vivi na pele o que é ser deixada pelo próprio pai, minha mãe se envolveu com um homem norte-americano em sua adolescência, foi o seu primeiro amor e jurava que era o homem da sua vida, até que ela engravidou, ele disse que iria assumir, acompanhou a gravidez, me viu nascer, me registrou com seu nome, mas logo depois a deixou sozinha e com uma criança, sem casa, sem dinheiro, sem deixar contato, sem ao menos dar satisfações, apenas deixou uma carta dizendo que não queria uma criança na vida dele naquele momento e que só registrou no seu nome para garantir que eu não sofresse, como se adiantasse de algo.
Essa história não irá se repetir com meu filho, ele terá todo amor e carinho, assim como minha mãe fez comigo. Ficarei na França e Liam nunca saberá que tem um filho, assim, poupará de seu desgosto.

A campainha tocou, eu joguei os testes e o pote no lixo, lavei as mãos e limpei as lágrimas que nem havia percebido que tinha deixado cair. Corri para atender a porta e me surpreendi com quem eu vi ali parado bem na minha varanda.

- Oi gata, como você está?
- Leo?

Surpresa não definia nem metade do que eu estava sentindo, Leo estava parado bem na minha porta e eu acabara de descobrir que estava grávida provavelmente do seu irmão. Céus, como vou conseguir esconder essa informação dele se nem eu consegui absorver tudo isso ainda? 23 anos, com a mãe doente em outro país e grávida. Mas saindo do meu estupor, eu tinha que saber o que Leo estava planejando

- O que você está fazendo aqui?
- Poxa Jhulia, te conheci mais educada. - ele sorriu.
- Eu te chamei de filho da puta antes de você me contratar. Entre.

Ele estava com uma mala não muito grande, o que indicava que não iria passar muito tempo aqui.

- Jhulia, tem alguém...Oh, olá. - minha mãe falou.
- Olá senhora Lemarié. Eu sou o Leo, chefe e amigo da sua filha.

Eu revirei os olhos para aquela cena, Leo não era tão formal assim, só em festa que exigia tal comportamento, na verdade ele só estava jogando seu charme para minha mãe.

- Não precisa ser tão formal, me chame de Jane. É um prazer conhecê-lo.
- Vamos para sala para podermos conversar.

Minha mãe foi para cozinha pegar um lanche para todos enquanto Leo e eu ficamos conversando sobre como ele chegou até aqui e o que ele veio fazer.

- Pode começar a explicar.
- Explicar o que?
- O motivo por você está aqui.
- Senti saudades, foi 1 mês longe de você, gata.
- Está falando sério?
- Sim, além de tentar convencê-la a voltar. Sei que falei que você poderia passar o tempo necessário aqui, mas eu estou ficando louco! O Felipe não resolve as coisas como você.
- É claro, ele começou não faz muito tempo.
- Correto, mas preciso de você lá.

Bufei e passei a mão no rosto em um gesto de cansaço. Como eu iria falar para o Leo que talvez não voltaria? Era uma coisa que eu ainda tinha que pensar, mas se eu voltasse todos saberiam da gravidez, até Liam que ligaria os pontos.

- Preciso ver o estado de saúde da minha mãe primeiro, ela está melhor, mas quero garantir que esteja bem o bastante para eu voltar. - isso o acalmaria por hora.
- Certo.

Minha mãe voltou com o lanche e pelo jeito Leo estava com bastante fome, pois atacou seu sanduíche sem pensar no amanhã.

- Onde você vai ficar Leo? - minha mãe perguntou.
- Não sei, desembarquei e vim direto pra cá.
- Posso mostrar uma pousada nos arredores, não é como os hotéis cinco estrelas que você está acostumado.
- Não tem problema.
- Por que você não fica aqui? Temos um quarto de hóspedes, posso arrumá-lo em um instante.

Encarei a minha mãe impressionada com a proposta, como assim ela estava insistindo para que ele fique em nossa casa?

- Não, não quero incomodá-las, a senhora ainda está em recuperação e ter mais uma pessoa em sua casa pode atrapalhar.
- Não será nenhum incômodo, além disso, minha Jhulia anda muito preocupada comigo, quero que ela relaxe.
- Mãe, menos.
- Se estiver tudo bem para a Jhulia, eu fico.

Os dois me olhavam curiosos pela minha resposta e eu revirei os olhos.

- Por mim, tudo bem.

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