VII° Fragmento - Emmett

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A revelação de Elloran tinha no mínimo me deixado sem saber o que pensar a seguir. Não conseguia imaginar como era não saber nada sobre si mesmo, e duvidar do que era capaz de lembrar. E isso era o que me deixava ainda mais preocupado, pois aquele maldito tinha um laboratório de genética avançada de primeira linha, com materiais de ponta para qualquer tipo de alquimia maluca que ele estivesse coordenando naquele lugar.

_podemos parar um pouco? – Elloran perguntou baixinho, tirando-me de meus devaneios. Olhei para seu rosto corado, ele ofegava levemente.

_é claro! – assenti – Thom, pode ir na frente com Ane, para não atrasarmos! Seguimos depois!

_como quiser! – ele deu de ombros e seguiu caminhando.

_hum, danadinhos, já vão fazer indecências no mato... – Ane cantarolou diabolicamente, deixando Elloran ainda mais vermelho.

_você quer água? – ofereci uma garrafinha, tirada da mochila, mas ele negou.

_apenas respirar um pouco! Minhas pernas estão ardendo! – comentou sem graça.

_vamos sentar um pouco, não falta muito para chegarmos! – olhei ao redor, mas não tinha um tronco sequer caído no chão, porém ao voltar meu olhar para Elloran, ele já se encontrava sentado no chão, encostado na arvore mais próxima – bem pratico!

_não quero ser um peso para ninguém! – falou com um sorriso pequeno, mascarando sua real sensação, pois eu sentia seu coração bater forte, e seu corpo tenso.

_você não é um peso para ninguém! – enfatizei rapidamente – para nenhum de nós, seus pais, Gael, principalmente para mim! Tire isso da sua cabeça e não diga bobagens!

_desculpe...

Permanecemos em silencio por um longo período, sem saber ao certo o que dizer ou como dizer. Então com um pouco de esforço pude ouvir o barulho da aldeia, e assim um sorriso brotou no meu rosto, junto com uma súbita preocupação, ao lembrar de algo que precisava ser dito de qualquer maneira. Não havia mais como protelar, de todas as formas que imaginei para lhe contar, na tentativa de não lhe magoar, de nada tinha me adiantado, e o tempo passava e aquela verdade precisava ser dita, se eu quisesse sonhar com um final feliz.

_Elloran! – o chamei ganhando sua atenção – você sabe que eu te amo, não é? – agachei-me na sua frente, encarando seus olhinhos confusos.

_sim...

_sabe que eu morreria por você, faria qualquer coisa que você me pedisse! Não sabe? – engoli em seco, tentando raciocinar a próxima frase.

_sei...

_lembra o que eu falei com você sobre filhos? – ele pareceu puxar na memória, mas acabou negando – nenhum pouco? – interpelei.

_só algumas coisas...

_lembra que eu lhe disse que de alguma forma, o universo estava me preparando para ter um companheiro homem, que não iria me dar filhos, tirando de mim o instinto mais primitivo de ursos sobre ter suas crias? – isso pareceu clarear sua mente.

_isso eu lembro! – disparou, me fazendo sorrir – mas porque tudo isso agora? – questionou-me.

_na aldeia, nós vamos encontrar uma pessoa, uma criança na verdade! – comecei com uma metade da verdade.

_ela é filha de algum amigo seu? – indagou curioso.

_não, mas esta está com um grande amigo meu, ao qual vou lhe apresentar, com toda certeza! – isso pareceu deixa-lo nervoso.

_será que vão gostar de mim? – indagou aflito.

_isso é obvio, mas ainda não é esse o ponto... – engoli em seco, sentindo a adrenalina em meu sangue subir a um nível alarmante.

Alma de Urso - Livro II - Série Amores IndomáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora