XII° Fragmento - Elloran

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A mobilização de volta para a cidade fora feita sob escolta. Quase não vi Emmett, já que ele quem liderou a equipe de extração, levando todos da aldeia, evacuando-a completamente. Todos estavam muitos assustados, uma vez que tinham presenciado os acontecimentos recentes e também sentiam a tristeza que emanava do líder deles.
Gael estava num luto silencioso e dolorido. Ele não se dirigia a ninguém, não respondia a ninguém, sequer olhava para quem passava perto. Havia uma escolta apenas para ele e para os quatro ursos que carregavam a maca onde minha irmã estava deitada. Eu o acompanhava lado a lado, uma vez que estava sem meu companheiro por perto.
Mamãe Seraphina pareceu prever o desastre pois preparou tudo para nos receber, desde abrigo para os recém chegado, como atendimento médico para os feridos e para minha irmã, que foi imediatamente removida para o hospital, sob a companhia de Gael.
Emmett estava comandando tudo, como sub-chefe que ele era, tinha suas responsabilidades. Suspirei cansado, a caminhada havia sido longa e sem pausas, tensas em todos os segundos do percurso. Não havia mais ameaça, mas estávamos feridos e alertas a qualquer ataque surpresa. Olhei para os lados procurando um taxi ou algum policial que me levasse em casa, porém minha carona me encontrou primeiro.

_como você esta meu filho? – senti uma coberta ser posta em meus ombros, e seu braço me envolver, abraçando-me, antes de me encarar sereno.

_bem... – respondi. Bradley podia ser um alfa, mas parecia ser feito de mel por dentro.

_soube que você se transformou num urso enorme e feroz! – piscou para mim.

_é... – concordei – infelizmente não fui de grande ajuda... – resmunguei infeliz.

_se você não tivesse tirado sua irmã dali a tempo, nós teríamos perdido mais de uma vida! – enfatizou.

_queria ter feito mais! – declarei sendo o mais sincero que pude – consegui atacar um dos homens que tentavam acertar Zahira, mas isso não impediu que ela fosse atingida...

_infelizmente não temos como ter o controle dessas situações! O que aconteceu hoje, foi de uma infelicidade imensurável, mas ninguém é culpado disso! – declarou afagando meus braços – aliás, se podemos culpar alguém, seria a mãe da filha de Emmett!

Engoli em seco ao lembrar-me do estado em que Valquíria se encontrava durante a volta. Ela tinha sido achada histérica, junto ao corpo da mãe, os homens tiveram que amarrá-la por uma grande parte da viagem. Emmett gritou alguma coisa pra ela, que a fez se controlar e seguir a viagem, já desamarrada. Ela seria levada para os abrigos junto com os demais ursos realocados, até que as coisas pudessem se ajeitar.

_venha, vamos para casa! Emmett virá buscá-lo assim que terminar de alojar os recém-chegados! – meu pai gentilmente me conduziu ao carro.

Não percebi o quanto estava cansado, até entrar no carro e relaxar sobre o banco. Acordei quando o carro parou, sai ainda sonolento, indo direto para dentro de casa, mas não sem antes passar por uma inspeção rigorosa de uma ruiva energizada.

_ele esta bem, meu amor! Deixe-o descansar agora! – meu pai sugeriu enquanto me conduzia pelo corredor – pode descansar, eu cuido da sua mãe!

Entrei no meu quarto, indo direto para o banheiro. Ninguém me incomodaria por algum tempo, então aproveitei para tomar um longo banho, vestindo a primeira Box da gaveta e uma calça de moletom, sem energia para mais nada, parti rumo à cama.
Acordei horas depois, ao sentir um peso na cama. Não reconheci o cheiro de primeira, mas ainda sim, era familiar. O toque em minha cabeça era firme, mas não agressivo. Sua mão era quente e causava uma sensação de bem estar e tranquilidade. Como o toque de um pai na cabeça do filho.

_se não fosse por você, pequeno, eu teria perdido a minha razão de viver... – falou com voz branda e grave – jamais terei como expressar minha gratidão...

_somos todos família... – murmurei ainda sonolento, sem sentir a necessidade de abrir os olhos para descobrir quem estava ali, porque no fundo eu sabia quem era.

_sim, pequeno, somos todos família, e eu vou cuidar de você até o meu ultimo fôlego de vida! – declarou, dando-me uma sensação de paz e tranqüilidade, que me fez voltar a dormir.

Não sabia ao certo quanto tempo tinha se passado, quando acordei faminto. Resmungando tentei levantar da cama, notando que eu estava preso ali, e que não era o único deitado na pequena cama de solteiro. Haviam braços grandes e fortes me segurado ali, e bastou respirar fundo para sentir seu cheiro.

_Emmett?! – exclamei ao vê-lo ali, com a aparência abatida e cansada.

_não queria ter acordado você! – resmungou – estava dormindo tão tranquilo...

_desculpe não ter esperado você! Meu pai apareceu e me trouxe para casa! – falei virando-me de frente para ele, notando-o tão espremido e desconfortável naquele espaço pequenino.

_eu quem devo me desculpar por ter deixado você desamparado! Acabei colocando minhas responsabilidades acima de você e isso é inaceitável! Você quem deveria ser minha prioridade, mas como sempre, só estou cometendo erro atrás de erro! – declarou infeliz.

_aquelas pessoas precisavam de ajuda e você era o único que poderia ajudá-las! – rebati – vamos para casa, você esta fazendo contorcionismo para caber nessa cama!

_não tem problema... – falou, mas não ia me convencer tão facilmente.

_vou avisar que estamos indo! – soltei-me de seus braços e me estiquei, antes de partir para a sala, onde encontrei meus pais de saída – estão indo? – mamãe assentiu vindo até mim, abraçando-me.

_sim! Vamos averiguar os recém-chegados e ver o que precisa ser resolvido! – meu pai falou – o turno de Emmett acabou, ele veio direto para você! Devem descansar os dois!

_não queríamos deixá-lo sozinho, então esperamos Emmett chegar para podermos ir! – mamãe explicou.

_nós vamos para o apartamento! Emmett insiste em dizer que cabe na minha cama, mas todos sabemos que não é verdade! – ambos concordaram sorrindo.

_mas eu disse que estava tudo bem! – ele rebateu chegando à sala – Ane e Thom?

_estão descansando! Sugiro que façam o mesmo! – mamãe falou – todos nós temos de ser fortes por Gael e Zahira, para que eles saibam que podem contar conosco!

_esse é o nosso momento de curarmos as feridas e nos prepararmos para a retaliação! – papai falou sério, num tom fora do comum para ele.

É claro que haveria uma retaliação, ninguém era tolo ao ponto de pensar que aquilo ficaria daquela forma. Sangue por sangue.
Quebrando o clima de tensão da sala, meu estomago roncou tão alto, que eu quis me enterrar de vergonha.

_acho que alguém esta com fome! – minha mãe comentou virando-se e puxando meu pai pelo braço – tem comida na cozinha! – avisou – e eu saberei se vocês não comerem! – declarou por fim estreitando os olhos ameaçadoramente – até mais tarde!

_ela me assusta! – Emmett comentou – é melhor você comer! – alertou.

_“vocês”, ela usou o plural! – enfatizei – é melhor nós irmos comer, antes que ela volte.

Como todas as vezes que fui naquela cozinha atrás de comida, encontrei tudo abarrotado por todos os lados. Era obvio, pois ursos comiam duas vezes mais do que um ser humano comum, então tudo tinha que ser no mínimo dobrado para atender as necessidades de um urso. Imagino como deveria ser ali, uma vez que Ane e Thom almoçavam e jantavam ali, experimentando a comidinha caseira que mamãe fazia.
Comemos a vontade, antes de partirmos para “nossa” casa. Eu passava mais tempo lá do que com meus pais. Emmett era um amor, do jeito dele meio estabanado e bruto, afinal ele era um urso grande e desajeitado. Fazia sentido eu ser tão delicado e miúdo, afinal, se os dois fossem grandes e brutos, teríamos de viver em uma caverna.
Conseguia observar seus gestos cuidadosos, seus receios perto de mim. Ele temia me pressionar e me machucar de alguma forma, mas estava tudo bem. Era ELE. Tudo com ele estava bem, gostava do jeito bruto e desajeitado dele. Como minha irmã dizia, eu estava muito apaixonado.

_você esta fazendo uma expressão bonitinha e engraçada! – comentou assim que descemos do carro em frente de casa.

_não é nada demais! – falei dando de ombros – estava pensando em algo que Zahira me disse!

_ah é, e eu posso saber? – indagou abrindo a porta.

_segredo de irmãos! – brinquei passando por ele, rindo de seu bico.

_assim eu fico com ciúmes! – resmungou baixinho fechando a porta e me acompanhando até o quarto.

_estávamos falando de tamanhos! – gesticulei com as mãos dando a entender ao que eu estava me referindo – sabe, comparando...

_desde quando vocês ficam comparando tamanhos? – indagou surpreso.

_ora desde que nós entramos no cio! – falei vendo-o estreitar os olhos – ela disse que Gael é enorme...

_você não precisa saber do tamanho dele! – resmungou irritado, parando na minha frente, de braços cruzados.

_ah, mas foi divertido na hora! – me defendi – só que eu não me importo com tamanhos... – o encarei diretamente, deixando-o desarmado – você é perfeito para mim, e é tudo o que me importa! – declarei o deixando com o rosto corado – mas foi divertido! – joguei-me na cama, me esticando ali mesmo, chutando as sandálias para fora dos pés.

_você não pode dizer uma coisas dessas assim e depois mudar de assunto! – ele reclamou ainda com o rosto rosado – Elloran! Isso não se faz!

_deixe de conversa, você ainda tem algo para fazer? Estou te esperando aqui! – agarrei-me a um travesseiro e fiquei olhando-o da cama.

_eu nem lembro o que ia fazer! – puxou os cabelos agoniado, tentando lembrar.

_então ande logo, venha pra cama! Esta frio aqui! – reclamei.

_e eu tenho cara de cobertor? – rebateu colocando as mãos na cintura.

_sim! Um cobertor natural feito de pele de urso, quentinho! Ao vivo e a cores! – rebati bem humorado, o deixando sem resposta – venha, Emmett! Quero dormir enquanto temos tempo!

_tudo bem...

Ele suspirou, e após despir-se da camisa e dos sapatos, deitou-se na cama comigo, confortavelmente, esperto como eu era, tratei de me enrolar ao redor dele, apreciando seu calor.

_teremos de nos mudar, quando Valquíria vier morar conosco! – falei ouvindo seu coração.

_não sei se ela vai querer morar conosco...

_as coisas vão se ajeitar Emmett! Vai dar tudo certo! – o encorajei – creio que o pior já passou!

_nisso devo concordar com você! Porém apenas em parte, o pior do momento já passou, mas ainda teremos alguns obstáculos pela frente! – ele concluiu.

_Emmett? – o chamei depois de algum tempo.

_sim?

_podemos ter um cachorro? – perguntei.

_um cachorro?

_eu nunca tive nenhum bicho de estimação, Zahira disse que é como ter um filho, e bem, eu não vou gerar um filho dentro de mim! – conclui meu pensamento rapidamente, tendo uma curva no meu passado – parando pra pensar, eu era como um bicho de estimação que vivia acorrentado! – comentei sem pensar, fazendo-o ficar tenso, e alarmado ao meu lado – Emmett?

_vamos sair! – ele tentou levantar-se, mas com um pouco de força, o mantive deitado.

_sair por quê? O que deu em você? – indaguei sentando-me na cama.

_vamos comprar quantos cachorros você quiser! E vamos procurar uma casa maior, pra todos correrem livres! Nada de correntes! Pra ninguém! – enfatizou exaltado, me fazendo sorrir, e empurrá-lo para cama, deitando com a cabeça em seu peito.

_isso pode esperar! Só queria ter sua permissão primeiro!

_você não precisa da minha permissão para nada, meu pequeno! – ele afagou meus cabelos.

_mas eu gosto, é como fazer parte de algo! Vai ser o nosso cachorro, então é bom estarmos em consenso! – falei por fim.

_olhe para você, tão maduro e crescido... Tão lindo, tão fofinho... – apertou-me contra seu corpo esculpido num abraço esmagador de urso – não quero te soltar nunca mais!

_então não solte! – me agarrei a ele, deixando-o me ninar.

Afinal, eu estava onde deveria estar: nos braços dele. No meu lar.


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Alma de Urso - Livro II - Série Amores IndomáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora