OLIVIA
Na televisão, o rosto aflito da protagonista está congelado na tela grande. O cheiro de comida fresca e especiarias que vem da cozinha começa a ficar mais forte, junto com o barulho de alguma coisa sendo refogada.
Olho para onde Meg está mexendo em algo cheiroso na panela. Consigo sentir o aroma daqui. Páprica e pimenta da Jamaica, temperos que eu adoro. Também consigo sentir o cheiro de tomate e azeite de oliva.
— Está quase pronto. Se quiser dar continuidade no filme, já estou chegando aí com nosso jantar. — ela grita quando nota que estou olhando.
Acho o controle remoto debaixo da manta que nos aquece. Aperto o play em direção a TV. Megan aparece segundos depois com dois pratos cheios de uma comida que cheira incrivelmente bem e quando vejo o que está fumegando dentro da porcelana, meu estômago se pronuncia como se eu estivesse a dias sem comer direito, o que não é verdade.
Ele têm sido um mentiroso fingido e não estou gostando nada disso.
— O que é isso?
— Faço quando estou com pressa, não tem um nome, só junto o que tem na geladeira. É um molho com leite de côco e extrato de tomate, batata doce que eu já tinha cozido ontem, espinafre e grão de bico. Claro que tem alguns temperos também, mas se eu lhe passar todos os ingredientes, não vai ter graça.
Levo a primeira garfada à boca. É extremamente delicioso e sei que estou condenada a gostar disso para sempre. Na terceira garfada da comida, sei que absolutamente amo grão de bico.
Terminamos de assistir o filme enquanto comemos, no aconchego das mantas e com o estômago cheio. A dias não tenho conseguido comer tanto assim.
Meg vira para mim de repente, apertando minha mão por debaixo da manta.
— Está se sentindo melhor agora?
— Muito bem, na verdade. Não sei porquê passei mal.
— Hmm... Acho que deveria ir ao médico, fazer alguns exames e ver se está tudo bem. Talvez clima daqui não tenha te feito bem, é muita poluição.
— Oh, não. Está tudo bem, não tem nada a ver com o clima, tenho certeza.
— Pode ser estresse também. Trabalho, ansiedade...
Concordo com ela, mas ainda não irei procurar um médico.
— Então vou comprar chá de erva-doce ou camomila amanhã quando estiver no horário de almoço. Vou ficar bem, você vai ver.
Dou um sorrisinho para tranquiliza-la e o filme acaba logo depois, que no fim das contas acabo classificando como sinistro, mas é legal, pelo menos. Iniciamos o segundo filme e vejo que Meg não toca mais no assunto de exame, médicos e minha saúde. Ela apaga as luzes da sala, deixando o ambiente mais aconchegante ainda.
O filme é um clássico que já declarei meu amor a anos atrás, ainda na infância, e já devo ter visto um par de vezes antes, mas sinto meus olhos pesarem a medida que os minutos vão se passando, e acabo deixando o cansaço me vencer, meus olhos pesados se fecham lentamente e adormeço ali mesmo no sofá, com a voz de Richard Gere no fundo.
∴
Acordo na cama enorme de Meg. O quarto está bem escuro por conta da cortina escura, mas pelas pequenas luzes saindo dos lados, sei que já amanheceu o dia. Me levanto e rapidamente percebo que estou tão disposta que poderia correr uma maratona, o que me surpreende, já que não tenho me sentido assim durante toda a semana. Chego a me perguntar se pode ter sido o jantar nutritivo que Meg nos preparou ou a cama dela, mas como não faço a menor ideia.
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While We Wait
RomanceEu nunca gostei de clichês, além do fato de serem mal elaborados, ainda havia a questão de que o mocinho nem sempre de fato é um mocinho, porém, eu havia de concordar que, enquanto todos os meus planos vinham por água a baixo e desaceleravam ao mes...