Capítulo 5

38 2 0
                                    

   Penso duas vezes antes de me levantar da cama. Gostaria de poder ficar aqui o dia todo, me isolando de tudo e de todos, fingindo que a situação atual da minha vida foi apenas um pesadelo terrível que tive pela noite, mas sei que não posso fugir da realidade, pois logo ouço uma leve batida na porta, me tirando de pensamentos ruins. Minha amiga coloca a cabeça para dentro, lançando-me um sorriso acolhedor.

— Já está acordada? — sua voz soa do outro lado do quarto. O único som no ambiente silencioso.

Minha voz matinal sai baixa por causa da rouquidão.

— Estou.

Ela sorri.

— Fiz panquecas!

Um sorrisinho verdadeiro se forma em meu rosto.

— Com mirtilos e framboesas. — ela acrescenta — E um café fresquinho, do jeito que você gosta.

Não consigo sorrir, por mais que eu queira. Chorei muito antes de finalmente cair no sono, lamentando todos os planos que fiz antes de me mudar, em tudo que almejei quando tive a ideia de vir para os Estados Unidos e recomeçar do zero, sozinha, sem conhecer ninguém e sem emprego, praticamente sem dinheiro. Depois que meu relacionamento acabou, eu nem havia pensado em me envolver com alguém quando eu chegasse aqui nem tão cedo, pelo menos. Meus planos eram outros, minhas prioridades eram outras. Eu estava disposta a não deixar absolutamente nada desviar meu foco para me estabelecer bem aqui e viver uma vida estável, segura, focar em minha carreira. Por isso, quando conheci Andrew na boate e fiquei encantada por ele, sabia que entre nós dois seria uma noite só, e que no dia seguinte, cada um iria seguir sua vida como estava e cumprir com suas respectivas responsabilidades.

O plano era esse, mas quando deitei a cabeça no travesseiro, chorei porque uma noite me custou caro demais. Me custou a gravidez de um filho que não posso criar. Um filho que vai depender de mim para absolutamente tudo, tanto financeira quanto emocionalmente, e não tenho para dar a ele. Não sei como vai ser minha vida daqui para frente. Fraldas, roupas (que não são poucas), berço, móveis, roupas de amamentação, bomba de tirar leite, sem contar com as despesas médicas de um pré-natal, exames, ultrassonografias e consultas quando o bebê nascer, com um pediatra para acompanhar seu desenvolvimento. Só de pensar em tudo isso, chorei como se não houvesse amanhã. Não sei quando exatamente eu caí no sono, mas minhas últimas lembranças da noite passada eram baseadas em lágrimas e preocupação.

Nasci com uma mãe obstetra, sei toda a jornada de uma mulher grávida e o que vem depois. E sei que não é fácil. Criar um filho, ser mãe, doar-se para um outro ser dependente de você.

A horas atrás, eu pensava em meu futuro e me sentia esperançosa sobre ele. Sonhava acordada sobre minha própria casa, meu emprego, uma vida estável, até conseguir viajar mais com a Meg. Conseguia me enxergar chegando onde eu gostaria, onde planejava e é totalmente diferente agora. Foi tudo por água abaixo e agora preciso repensar em tudo. Quando penso sobre meu futuro, preciso pensar em alguém além de mim mesma, e me dói saber que provavelmente as coisas na minha vida demorarão um pouco mais para estarem onde eu planejei. Só de pensar, meu coração bate mais forte dentro do peito e sinto que ele vai sair pela boca a qualquer momento, porque tenho esse emprego por mais cinco meses e até lá, ninguém vai querer me contratar. Não é vantajoso. Nunca vi ninguém dar emprego a uma mulher grávida.

Andrew, o cara que passei apenas uma noite, sem sentimento nem compromisso, que tem uma vida da qual eu desconheço, me vem à cabeça diversas vezes desde ontem. O que ele faria se soubesse que a noite com uma mulher bêbada resultou numa gravidez indesejada? Com certeza seria uma situação muito desagradável para ele, assim como está sendo para mim. Talvez até mais para mim, que não tenho nem onde cair morta. Ao contrário dele, que provelmente já está com a vida ganha e uma pessoa a mais para sustentar não seria problema a algum.

While We WaitOnde histórias criam vida. Descubra agora