O sol dificulta minha visão assim que menciono abrir os olhos. Abro os braços e apalpo a cama tentando entender onde estou e quando foi que adormeci sem ao menos trocar de roupa. Ergo o corpo e encosto na cabeceira suave da enorme cama king size. Visualizando o luxo ao meu redor, entendo todo esse conforto.
Não estou em casa. Estou no hotel. Os acontecimentos do dia de ontem me atinge como uma pancada na nuca e uma dorzinha de cabeça se inicia de repente. Antes que eu possa começar a praguejar minha vida, tiro e jogo meu tênis para fora da cama. Volto a deitar de costas na cama, bem longe do raio de sol que que antes me acordara. Depois do dia de ontem, apaguei assim que me joguei nessa cama enorme. Não lembro de mais nada. O que não é nenhum pouco improvável com a maciez e conforto dessa cama enorme. Cabe, sem dificuldade nenhuma, mais três ou quatro de mim dormindo nela.
Consigo esboçar alguma surpresa irônica quando entro no enorme banheiro, me dando de cara com uma decoração impecável com muito mármore branco e cinza, espelhos e vidros. A parede no fundo é de vidro do chão ao teto, e em frente dela, uma banheira oval, linda e espaçosa. Parece as banheiras de revista de decoração que tem na recepção da clínica que eu trabalhava. Ainda explorando o banheiro, me deparo com uma expressão boquiaberta no reflexo do espelho gigante em cima da pia. É claro que noto também meu cabelo amassado pelo travesseiro, fazendo jus ao meu rosto inchado e as mesmas roupas de ontem. Depois de me despir, tomo banho na ducha mais potente que já tomei em todos os meus 23 anos. Suspiro ao me enfiar num roupão macio. Hmmm... Posso facilmente me acostumar com isso.
Enrolo uma toalha no cabelo e apoio as mãos na pia. Encaro meus olhos pelo reflexo do espelho e não reconheço aquele olhar em meu rosto. Vou um pouco mais além daquilo que vejo, e noto a confusão e o desespero estampado em cada poro. Meu prédio está interditado e estou hospedada num hotel que eu precisaria trabalhar por mais alguns meses para bancar.
E vou ser mãe, com minha família a muitos quilômetros longe de mim. Com Meg longe, não tenho ninguém nessa enorme e movimentada cidade. O sentimento de solidão é inevitável. De uma hora pra outra, preciso, mais uma vez, rever minha vida dentro de um período curto, mas dessa vez, não tenho muito tempo para pensar. Antes de vir para LA, tive vários meses para me planejar, mas agora preciso ser rápida. Jogo minha escova em qualquer lugar e volto para o quarto.
Há uma pequena sala de estar depois do quarto, com lareira elétrica e TV. Parece que não é uma suíte qualquer, afinal. É, com certeza, do tamanho do andar do meu prédio todo, juntando os dois apartamentos. Duas poltronas lado a lado em frente a um sofá branco com almofadas que combinam com os quadros azuis claros e cinzas, uma mesinha de centro no meio e uma pequena varanda ao lado delas. O luxuoso lustre fica em cima a uma mesa com um vaso de orquídeas brancas. Minha mãe adoraria este arranjo. A decoração da suíte é tão impecável quanto a do lobby do hotel até aqui dentro. Tudo de muito bom gosto, em uma paleta de cores muito leve e sóbria.
Saio à procura de minha bolsa no quarto e o encontro com duas chamadas perdidas de Megan no meu celular, que começo a retornar na mesma hora. Enquanto ela não atende, lembro de quantas novidades tenho para contar desde que ela foi embora a menos de 24 horas. Me sento no sofá em frente a mesinha de centro e a TV, ainda observando cada detalhe desse lugar. Ela atende, afobada, e consigo ouvir o barulho do trânsito no fundo.
— Chegou bem? Como foi o vôo? Como estão as coisas por aí? Já encontrou com o cliente? — a encho de perguntas, tentando tirar totalmente o foco de mim.
— Eu cheguei quase meia noite, passamos por uma pequena turbulência por causa dos ventos, mas ocorreu tudo bem. Liguei assim que cheguei, na esperança de você ainda estar acordada assistindo TV, mas você não atendeu, então imaginei que estivesse dormindo. — ela faz uma pausa, depois ouço o barulho de xícara. — Estou numa cafeteria esperando dar o horário de encontrar meu cliente pela segunda vez hoje. O idiota não bebe café, disse que dá azia nele. Quem fica com azia por causa de café, pelo amor de Deus?
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While We Wait
RomanceEu nunca gostei de clichês, além do fato de serem mal elaborados, ainda havia a questão de que o mocinho nem sempre de fato é um mocinho, porém, eu havia de concordar que, enquanto todos os meus planos vinham por água a baixo e desaceleravam ao mes...