Conte-me uma historia

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Passado - verão de 2000

— Kira, como são feita as nuvens? — Lili me perguntou deitada sobre minha barriga enquanto olhávamos o céu ensolarado.

— São feitas de algodão doce com sabor de baunilha. — Respondi olhando para cima. — E aquelas que veem com o pôr do sol são feitas de caramelo.

— Mas podemos comê-las? — Perguntou com sua doce voz. — Papai disse que podemos. — É que eu gosto muito de algodão doce.

— Claro...

Lili sempre fora um doce, seu jeito meigo e carinhoso de ser encantava qualquer um que a conhecia. Ela tinha o dom de ver o melhor das pessoas e acreditar que mesmo quando uma pessoa é má ela pode mudar, basta dar as chances certas. Mas isso me assustava é muito, Lili era um ingênua e o meu medo de que as pessoas usassem sua bondade para o mal crescia instinto protetor em mim. Ficava imaginando como seria nossa vida quando forem adultas se seríamos como agora ou não.

Soltando um suspiro abaixei o olhar encontrando aquelas íris caramelo me encarando, sua beleza era surpreendente.

— Que foi?

— Você vai embora? — Perguntou tristonha. — Eu vi a mochila escondida debaixo da cama.

— Eu preciso ir... — Engoli seco segurando as lágrimas. — Mas eu volto para te buscar.

— Não quero que vá, Kira. — Ela se agarrou em minha cintura. — Você é muito importante para mim, e minha irmã! Se você for, ficarei sozinha.

— Não...não ficará. — Disse por fim deixando as lágrimas descerem.— Você sempre terá a mim... não importa onde esteja Lili. Estarei com você.

— Mas... mas quem vai me contar histórias antes de dormir? É quem vai me levar para escola? Quem vai preparar chocolate quente nos dias de chuva? — Ela começou a soluçar. — Você é minha melhor amiga.

***

Meu coração se apertou quando vi minha irmã rodeada de aparelhos, seus olhos estavam fechados como se estivesse dormindo. Os braços enfaixados e um tubo que parecia fazê-la respirar entrava pela sua boca, as lágrimas desciam sem parar meus olhos enquanto aquela impotência de não poder fazer nada crescia dentro de mim.

Deus, jurei protegê-la, jurei cuidar e mantê-la sã e salva é agora ela estava aqui entubada por várias máquinas a beira de a morte por minha culpa o quarto parecia girar de acordo com a agonia e a angústia que estava sentindo naquela hora, minha testa bateu no vidro da UTI e eu me deixei cair naquela hora não tinha mais forças nem energia para se manter em pé. No momento em que fechei meus olhos voltei no tempo e no dia do seu aniversário de quatro anos, quando ela ao invés de ganhar presente ela me deu um, eram uma pulseirinha da amizade feita de bijuterias ela mesma tinha feito e que amigas de verdade usavam essas pulseirinhas. As letras "Kira" vinha na dela e "Lili" na minha. Naquele dia eu jurei nunca deixá-la

— Kira... — Levantei a cabeça e Max estava ao meu lado abaixo. — Podemos conversar?

Seus olhos estavam vermelhos como se estivesse chorando por horas, e com uma expressão fechada uma sombra passava sobre seu rosto tirando aquele jeito brincalhão e animado para um jeito de puro ódio. Me levantei com sua ajuda e caminhamos em silêncio até sua sala, me sentei no sofá e ele puxou uma cadeira ficando a minha frente, seus braços estavam apoiados nas coxas. Ficamos um tempo calados, parecia que nenhum dos dois conseguia pronunciar nenhuma palavra naquele momento, porém Max quebrou o silêncio.

— Antes de tudo, quero que saiba que amo sua irmã com todo meu coração.— Começou. — Ela e tudo que sempre quis.

— Então qual é da ortopedista ? — Soltei impaciente. — Por que deixou que ela sofresse?

Max torceu o nariz.

— A Lucy? — Disse confuso. — Deus! Lucy e uma amiga... ela acha?

— Sim, e se ama tanto Lili assim por que está desfilando com uma ortopedista gostosa?

— Lucy e minha prima! — Disse, passando a mão no rosto. — Ela veio cobrir um dos nossos por um tempo.

— É isso e legal?

— Ela é casada, e muito bem casada por sinal. — Max coçou a nuca. — Deus naquele dia no restaurante... por isso ela saiu correndo...

— Ela pediu para se transferida para Londres, Max. — Suspirei. — Para ficar com você, ela o ama.

A reação dele me surpreendeu mais do que eu esperava, Max ficou rígido por um tempo mas logo uma fúria brilhou os seus olhos o fazendo se levantar e socar a parede com tanta força que uma rachadura veio.

— Aquele desgraçado! — Xingou alto jogando a cadeira na parede. — EU MATO O JULIAN!

— Max! Calma! — Gritei me levantando. — Não é assim que se resolve as coisas.

— Kira! Eu...

— Eu também estou com raiva, mas não é matando as pessoas que se resolve os problemas. Se acalme.

Max respirou fundo me encarando por alguns segundos, eu sentia sua dor e como ele se sentia impotente por não poder fazer nada para salvar Lili, mas tínhamos que ter um plano antes de bater na porta de Julian e acusá-lo. Sem provas éramos nada.

— Vamos fazer justiça! Por Lili.

Encontrei em você - Continuação de Faça-me sua.Onde histórias criam vida. Descubra agora