Eu não estava preparado para isso. Ninguém contou que seria tão estranho abrir os olhos e só enxergar a escuridão, buscar sons e ouvir apenas o silêncio.
Estava solitário, preso em uma urna selada e mesmo chamando por Rael, não ouvi sua resposta.
Abandonado...
Decênio uma ova, me engaram, me botaram a dormir para poder levar a vida tranquilamente.
Eu queria muito socar a tampa, fazê-la voar pelos ares, levantar daqui e voltar para o convívio da família mesmo estando apenas em pele e ossos. Sim, eu tenho certeza que estava assim, minha linda aparência destruída por um ano de miséria, ninguém me alimentou, eu sei porque não tive forças sequer para mover o braço.
Se livraram de mim no fim das contas, tantos anos com Rael me pondo a dormir que aposto que usou a desculpa do decênio para me abandonar, me esquecendo aqui por um século em vez de um ano.
— Primeira coisa que pensa é isso? — Finalmente ouvi a voz querida e temida de Rael. O alívio foi enorme, mas a expectativa foi igualmente grande.
— Sabe irmão. — Mandei o pensamento quase como um grito. — Imaginei uma recepção mais calorosa. Uma festa, um pescoço de presente.
— Pescoço?
— Bem... Foi uma piada, que tal um pulso? Uma perna? Uma parte com veias e sangue para o caçula sair dessa secura aqui?
— Continua idiota. — A voz saiu mal-humorada e sorri saudoso, um ano não mudou Rael então porque me mudaria?
— Mudou irmão, mais do que pensa. — Dessa vez ouvi a voz de Nicolae e senti os olhos arderem, a voz calmante dele dissociava da voz dura de Rael.
— Estou ouvindo você divagar, querido irmão. Sabe que sou duro com você para que não faça besteiras. — Rael falou em minha mente agora com a voz mais contida.
Besteira? Mas eu não conseguia sequer mexer um dedo, que tipo de besteiras um homem preso, ressequido e faminto poderia fazer?
— Justamente isso, sua prova final será essa. Levantar e se alimentar sem ferir um inocente. No entanto, saiba que não ficou um ano a dormir, então seu decênio não se completou, o que deve imaginar, terá que refazer o sono assim que resolver alguns problemas que surgiram.
Problemas que surgiram? Eu ia ter que dormir tudo de novo? Isso sim era ser azarado, como uma pessoa em pleno sono consegue estar metido em problemas? — Pergunto sentindo um estranho receio, tinha algo a ver com Dianinha? Seria possível que deixei alguma merda para trás e a culpa recaiu sobre ela? Ou ela me dedurou e Rael me acordou somente para me punir? Que diabos alguém dormindo poderia fazer de tão errado para ter seu decênio suspenso assim, do nada?
Ouvi o sibilo de Rael, com certeza estava se irritando com minhas divagações, fiquei mortalmente silencioso, atento somente a ele, esperando a explicação ou o sermão, ou a ordem de sublevação.
Senti meu caçador acordar, a fome condensada o fez agitar e ele nem era tão forte quanto o de Nicolae, no entanto o senti com força, arranhando a minha garganta e pedindo o sangue para deixá-lo forte.
Aguardei ansiosamente o comando de Rael, senti o receio de não passar pelo último teste, pois nunca controlei muito bem meu caçador, erámos como dois moradores em uma casa pequena. Sempre em conflito, no entanto eu sempre mais expansivo, tomava todo o espaço.
Ouvi a risada de Nicolae. — Essa é uma coisa absurda de se pensar visto que o caçador e você são um só.
Ignorei Nicolae e choraminguei para Rael. — Vai falar, ou não? Dormi quase um ano e vou ter que esperar mais um para ouvir a ordem para levantar?
Ouvi o silvo que quase estalou meu crânio de tão alto. Não entendi porque ele ficou bravo, eu queria sair, qual o problema de ter pressa? Não foi ele que me acordou antes da hora?
— Por vezes me arrependo de tomar essas decisões, mas dessa vez, com juízo ou sem juízo vai ter que ser você, afinal, é sobre sua companheira que estamos falando.
Isso me deixou alerta. Então ouvi com atenção tudo o que Rael tinha a dizer, de momento nem mesmo a fome era mais importante.
Para quem não entendeu, esse capítulo ficou sem postar por pura confusão de arquivo, por causa do meu problema com pc, eu tinha tirado os capítulos de um arquivo antigo, só que nos arquivos mais recentes e mais organizados, tem esse capítulo, e para fechar os buracos da história, decidi postar no lugar certo, vai ficar meio confuso para quem já leu o capítulo que postei antes, mas pelo menos a história fica mais redondinha. Beijos gente, mals aí esse lapso.
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Tratado dos Párias - Supremo Alfa.
FantasyCelina estava lutando para se encontrar. Após anos fechada em seu próprio mundo e dependente da droga que sua mãe lhe dava, ela estava determinada a recuperar os anos que perdeu, porém suas cicatrizes não lhe permitia ter esperanças no amor. Mas o...