Retorno Conturbado

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No dia 28 de junho foi aniversário da maravilhosa Maria Alejandra, então dedico a você meu anjo esse capítulo. É atrasado, mas é com carinho. Parabéns e que todos os dias do ano você consiga uma realização. Porque temos aniversário um único dia no ano, mas todos os dias são importantes e devemos festejá-los. Parabéns Maria ♥

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Celina

Após horas vendo a noite ir embora deixando o sol tomar seu lugar eu tive que acreditar que de fato estava lúcida...

Não era algo passageiro, como vinha acontecendo até agora. Eu não estava mais indo e voltando de minhas ilusões, dessa vez eu podia dizer que estava, de fato estava entre os vivos.

Na primeira vez acreditei estar em um sonho bom, mas já estava desperta há um bom tempo para perceber que era o mundo real, um mundo estranho onde eu não reconhecia nada.

No reino Humanis não era, pois nunca tinha ouvido tanto barulho da natureza quando vivia pelo castelo, mas agora era como se eu estivesse cercada por ela, embora estivesse dentro de um quarto, eu conseguia sentir a sua aproximação, e o pior de tudo isso, as vozes estavam próximas me deixando em tal estado que eu estava paralisada.

Os passos que eu ouvia ao longe me assombravam, e foi justamente por causa deles que acordei alerta.

E por mais que eu estivesse curiosa, não me sentia pronta para a árdua tarefa de levantar da cama e investigar.

Quando os passos ficaram mais audíveis, olhei para a porta ainda fechada e rezei para que o destino final não fosse aqui.

Ao perceber que era justamente esse o destino dos passos voltei a ser um ventríloquo que controlado pelos dedos gelados do medo me fez me encolher, puxar a manta até o pescoço e fechar os olhos para fingir dormir.

Recordo com vergonha todas as vezes que fiz isso, que fingi dormir, que fingi estar muda ou mesmo doente só para escapar mais um dia de cumprir as ordens de papai.

Em meus momentos de revolta eu criava vários planos de fuga, imaginava que conseguia transpor as muralhas do reino Humanis e encontrava abrigo entre os outros.

Em minha imaginação eu era uma mulher corajosa, que agia na primeira oportunidade, que conseguia se livrar das dificuldades com um toque de ironia, chegando até mesmo a rir da cara do rei, mas a imaginação é um mundo vasto onde infinitas de mim podiam travar infinitas batalhas em circunstancias variadas sem sair ferida ou derrotada.

A eu de verdade entretanto, só sabe fugir e é o que faço, mais uma vez uso de artimanhas para escapar da realidade, essa sou eu, uma coisa sem valor que não possui forças para ir contra tantas leis, regras e a soberania do poder masculino.

E mesmo reconhecendo meu lugar e sabendo que é em vão tentar escapar de quem está chegando, meu corpo, mesmo debilitado me envia ondas de adrenalina, me incitando a sair correndo, o que claro, não o faço, já aprendi que ir contra os mais fortes só faz o sofrimento aumentar.

Meu coração quase arrebenta quando a porta abre, amaldiçoo meu retorno ao mundo real e aperto as pálpebras para forçar meus olhos a se manterem fechados, o instinto natural seria abri-los e ver quem é, mas não faço, seria um erro.

Ouço um suspiro e me mantenho quieta, tento respirar o mínimo possível e ignoro o frio em meu estômago.

— Não precisa ter medo. Ninguém aqui vai machucar você, passamos os diabos para salvá-la, porque então lhe faríamos mal?

Me salvar?

Com o coração acelerado deixo a pessoa falar e falar. A voz é jovem e feminina, firme e segura, podia ser uma daquelas malditas concubinas de papai, essas sempre foram piores que cães buscando um osso. Se ele ordenava qualquer coisa, elas faziam, entretanto essa voz...

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Onde histórias criam vida. Descubra agora