Dimitri

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Ainda não podia ver Dianinha. Ela não sabia que eu estava acordado. Quando segui para seu quarto e fui impedido emburrei porque sentia saudades.

Mas não insisti quando explicaram o motivo.

Segundo Rael, a intuição de minha irmãzinha era afiada, e ao me ver desperto ela logo começaria a encaixar as peças de que estava acontecendo algo muito maior do que tinham lhe contado.

Celeste estava fazendo a parte dela, mostrando calma e resiliência, e a mando de Rael eu devia me manter distante até Nicolae contar a ela sobre minha sublevação, mas no momento, e com a situação frágil de minha irmãzinha eu não podia ir até ela.

Sem muitas opções e ansioso para ver uma certa lobinha cá estava eu, indo até ela.

Pisando leve e impulsionado por uma calma estranha adentrei a floresta lican.

Não encontrei dificuldades para encontrar a direção do vilarejo. O cheiro da lobinha estava por toda parte, e como era recente praticamente deixou uma trilha para mim.

Me perguntei quantas vezes ela tinha ido ao reino sombrio e se tinha ido lá por minha causa, se fosse eu poderia considerar isso um progresso?

Não dava para saber, em se tratando de Jena eu não tinha conhecimento de muita coisa, cumprir o decênio logo após encontrar minha companheira tinha sido um golpe de azar.

E apesar de isso me deixar um tanto ansioso para recuperar o tempo perdido, um instinto qualquer me avisava que tinha que ir com calma, entretanto, calma nunca foi meu forte.

Eu sempre caí de cabeça, nunca parei para pensar muito em consequências, porque pensar, refletir é perda de tempo.

Agora eu entendia as preocupações de Rael sobre minha personalidade, mas, ainda assim, eu não tinha mudado tanto, pois se tivesse, não estaria agora invadindo o território Lican somente para dar uma espiada na lobinha.

Novamente o instinto que eu já julgava um pouco mais apurado que antes me fez pensar em estratégias para conseguir chegar lá sem ser barrado.

E como algo natural, usei a indução para maquiar meu cheiro e com isso pude me aproximar. Antes meu dom era algo bobo que eu imbuía o mínimo valor, chegando a considerá-lo muitas vezes como uma coisa inútil.

Queria ser sábio como Rael, ou assassino como Nicolae, eles usavam o dom com maestria, mas quando eu pensava na utilidade do meu dom principesco só me vinha ideias para pregar peças nos moradores de nossa vila e nos vilarejos vizinhos.

Na maioria das vezes eu os usava para fazer Diana rir, porque sempre amei ver um sorriso brotar naquele rosto triste, depois, quando ela se recuperou, minhas brincadeiras continuaram, porque divertia a nós dois.

Mas depois de minha soneca com a runa da sabedoria gravada em minha testa, as coisas mudaram. Compartilhei da porta vermelha mental, onde se acumulava toda a sabedoria de Rael e seus séculos de estudos, e como se um véu de ignorância tivesse sido arrancado de meus olhos, novas perspectivas se abriram para mim, compreendi melhor tanto meu dom quanto minha própria raça.

Nossos antepassados, os noturnos tinham poderes acumulados, não havia predadores para eles e isso os deixava no topo, soberanos e arrogantes.

A natureza pode ser complacente com seus filhos, mas pode ser igualmente cruel e todo ser precisa de um oponente com força igual, então lhes deu algo a que nunca poderiam vencer, apenas aprender a evitar, pois um ínfimo momento sobre o brilho do sol e eles entrariam em combustão.

Ainda assim, isso não fora suficiente para colocá-los em seu lugar, mesmo que fosse somente durante a noite eles faziam estragos tão grande que novamente a natureza precisou agir em desfavor, e então o primeiro sombrio surgiu.

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Onde histórias criam vida. Descubra agora