Celina

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Toda a matilha estava agrupada em volta de várias fogueiras esparsas.

Eu estava com as meninas, e Laican estava com um grupo de rapazes conversando animadamente em uma roda em volta de um fogo distante de onde eu estava.

Fazia uma semana desde aquela conversa no lago, e depois de me dar conta de que eu praticamente tinha me jogado nos braços pedindo a ele que me ensinasse sobre o amor dos lupinos, eu procurei ficar longe.

Ele também não se aproximava, embora não tirasse os olhos de mim e meu coração não conseguia mais resistir.

Ele me olhava como se eu fosse preciosa. Seu olhar tinha capacidade de tocar a alma, de aquecê-la.

— Está perdendo tempo demais, menina.

Jena falou tão subitamente que tomei um susto, não tinha percebido sua aproximação, o que era bem comum visto que seus passos eram silenciosos, mas dessa vez ajudou o fato eu estrar distraída na fogueira a frente.

— Não sei do que está falando.

Evitei olhar para ela, pois eu sabia exatamente o que ela estava dizendo.

— Ah, não? — Ela seguiu o ponto onde há pouco eu estava olhando. Senti o rosto queimar, pois lá estava Laican, sentado ouvindo atentamente o que Jef dizia.

— Está sofrendo por ser boba. Não é fácil entre os Licans encontrar seu par.

— Mas é que...

— O que?

Ela não me deu tempo para explicar.

— Poderia ser pior. — Ela desviou o olhar da fogueira onde Laican estava e mirou na floresta, então seus olhos ficaram tristes.

— Você pode ser levada sem nunca ter conhecido o amor, ou mesmo sem saber o que é ser amada de forma pura e fiel.

Isso me desarmou completamente, porém ainda estava lá, o medo. Eu tinha que me abrir sobre isso ou então ia enlouquecer.

— É que, o ritual...

— Ah. O ritual. — Jena me ofereceu um sorriso zombeteiro. — E quando foi dito que é uma obrigação?

— Mas a mandala...

— A mandala vai nascer quando a loba reconhecer o companheiro. Esse é o ritual sagrado, o reconhecimento e aceitamento, o laço se cria com isso. Agora o ritual da monta é algo que apreciamos. — Um enorme sorriso se abriu em seu rosto. — Pense no quanto é divertido ver os homens suando para nos possuir, as lobas são tão fortes quanto eles, imagina o quanto precisam batalhar para nos merecer? — Novamente ela olhou para Laican e seu sorriso morreu. — Mas quem pode dizer o tanto que ele suou para finalmente ter você por perto? Precisa vê-lo suar ainda mais?

Novamente senti vergonha, me senti a vilã da história. Será que era tão difícil para Jena e os outros entenderem que todos tem fraquezas e a minha era minha história?

Laican era praticamente o rei dos Licans, um homem de beleza sem igual. Amado e respeitado por todos. Como eu e meu legado degradante o ajudaria?

O jeito era fazer Jena entender.

— No reino Humanis. Uma bela mulher ao lado de um homem lhe daria status, o ajudaria a aumentar suas posses. Uma mulher bonita, de bom nome, faz o poder de um homem aumentar.

Então Jena riu, dessa vez riu de verdade, ao ponto de eu não controlar a língua e soltar um palavrão baixo. O que fez ela rir ainda mais.

— Boca suja é? Preciso ter uma conversinha com Pria.

Tratado dos Párias - Supremo Alfa.Onde histórias criam vida. Descubra agora