Body

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Ouçam Body, da Júlia Michaels durante a leitura do capítulo. Caso a música acabe antes do final dele, reinicie.♡

Peças de roupa estavam espalhadas pelo chão, misturadas com coturnos e anéis. O espelho refletia a imagem dela, apenas em sua langerie preta, constratando-se com a pele pálida do norte europeu.

Fios arruivados desciam por suas costas e terminavam em seus quadris, em um caos ondulado que nem ela entendia muito bem. Seus olhos verdes brilhavam com as lágrimas que corriam por seu rosto corado, e seus braços abraçavam a própria cintura, tentado, inultilmente, se protegerem de seu reflexo.

Suas unhas, pintadas com esmalte preto, já descascando, cravavam-se na pele dos quadris, deixando marcas tão vermelhas quanto sua alma.

Seu coração apertava, completamente enlouquecido com a dor. No entanto, seu choro era calmo e silencioso, apenas lágrimas salgadas e soluços baixos ocasionais.

Fechou os olhos por um momento, desejando esquecer a imagem de seu próprio reflexo. Se sentia um lixo, um ser humano terrível. Desprezível. Inútil. Burra. 

Tinha sido uma vaca no dia anterior, e sabia que era a razão para aquela garota se sentir tão insegura. Ela entendia melhor, agora que estava mais velha, o quanto tinha poder sobre a vida das pessoas.

Não sabia direito o nome da menina dos cabelos rosados, apenas que ela a admirava e que era alguns anos mais nova que a própria Wanda. Não passava de seus 1.50, e estava obviamente acima do peso.

Ela encurralou a Maximoff no banheiro da escola, e disse coisas que deveriam ser lisongeias, mas apenas fizeram com que a ruiva se sentisse um monstro. Lembrava-se bem das palavras da menina.

"Eu admiro você desde que você entrou na escola, sabia? Eu amo seu cabelo, acho você muito linda. Queria ter seu corpo, ele é tão lindo! Eu amo ele. Você é tão sortuda por ter Peter Parker. Eu gosto dele a algum tempo, mas eu não tenho chances contra você, não é mesmo?" A garota riu, como se aquilo fosse uma piada dolorosa. "Você é maravilhosa, sério. Eu queria ser metade do que você é. Você é incrível."

Não entendia o porque da menina ter chegado nela e digo aquilo, nem porque apenas saiu, deixando-a sozinha e estática em frente ao espelho. Mas principalmente não entendia o porque de se sentir daquela maneira: um monstro.

Quer dizer, a garota apenas a elogiou, certo? Então por que doia tanto? Por que não conseguia se sentir feliz com aquilo?

Encarou mais uma vez seu corpo no espelho. Seios pequenos, barriga levemente saliente - havia ganhado alguns quilos nos últimos meses, o suficiente para formar dobrinhas quando se sentava ou quando se curvava - coxas finas e bunda mediana - nem grande demais, nem pequena demais.

Odiava as sardas que tinha pelos ombros, as celulites e as estrias que se concentravam em suas pernas e bunda. Sentia nojo dos pneuzinhos que se formavam debaixo dos seios e do quão mole suas panturrilhas eram.

Se sentia feia, nojenta e desprezível. Odiava seu corpo, seus cabelos, seus olhos, e tudo sobre si. Se sentia irrelevante, idiota e insuficiente.

Estava tão presa no sentimento de auto-ódio que mal percebeu quando, subtamente, Peter abriu a porta de seu quarto. 

oOo

Tia May estava fora, no trabalho. Wanda estava em seu quarto e ele se encontrava preso em meio a inumeros deveres de casa. Eram sufocantes todas aquelas milhares de páginas de exercícios, mas ele conseguia administrar tudo muito bem.

Seu ventilador de teto rodava lentamente, fazendo um irritante barulho que feria os ouvidos. Seu uniforme do Homem Aranha estava dependurado dentro de seu armário, e seu muitos posteres de Star Wars cobriam as paredes de seu quarto.

After Dark - SENDO REESCRITAOnde histórias criam vida. Descubra agora