Even Though I'm Depressed

655 38 4
                                    

Peter rolou na cama mais uma vez, inquieto. Ao seu lado, Wanda dormia profundamente, ou pelo menos fingia dormir. Ele conseguia ouvir a frequência de seu coração e a sua respiração, pesada demais para pertencer a alguém adormecido.

Continuar paciente. Tudo o que tinha que fazer era continuar paciente. A vida está mudando, e com ela novas responsabilidades que ele se esqueceu por um tempo que teria. Arrume uma casa, um emprego, entre para uma boa faculdade, salve vidas, seja um bom namorado. Era demais para sua cabeça, ele não conseguia acompanhar tudo, na maior parte do tempo.

Às vezes, ele desejava estar morto. Porque, então, tudo se resolveria. Sem mais problemas, sem mais decepções – sem mais Wanda, e era isso que o assustava. Nem mesmo o mais glorioso dos paraísos parecia bom sem ela, e ele não estava disposto a enfrentar algo sem ela ao seu lado.

Sua vida estava uma bagunça, e ele meio que gostava, mesmo que estivesse deprimido. Ele rolava os dados do próprio destino pelos dedos e se sentia tão vivo, e então, sem vida. E ele não gostava disso, e sinceramente, a ironia era inestimável, porque era ele que se colocava em tais situações – era unicamente sua culpa.

Continue paciente. Respire, inspire. Estude para mil e um exames. Arrume um emprego. Respire, inspire. Continue paciente. Faça sua namorada feliz. Saia da casa da sua tia. Continue paciente. Pareça feliz. Viaje. Tenha muitos amigos. Respire, inspire.

Você não pode pirar, Peter. Ele diz a si mesmo todos os dias. Nós não podemos passar por mais uma daquelas crises terríveis. Não é justo nem com Wanda, nem com tia May.

Respire, inspire. Continue paciente.

Nós não podemos passar por mais uma daquelas crises terríveis.

oOo

Meias brancas combinam bem com o all star vermelho-sangue, e jeans velhos com rasgos nos joelhos lhe traziam memórias de seus dezoito anos e um amor que não a deixava entediada. O cigarro tinha gosto de paixão, e as cartas ásperas, que cheiravam a amaciante, se misturavam a camiseta grande e listrada, em contraste com seus longos cabelos cor de fogo.

Era quase irônico que ela pensasse em seus dezoito anos como algo distante, mas a verdade era que já não os tinha a poucos dois meses. Era inverno, e o vento frio cortava seu rosto de maneira tão violenta que uma gota de sangue quase escorreu pela sua face, se misturando com as lágrimas que desciam de seus olhos.

Um cigarro terminava de queimar em seus dedos pálidos, e quase levava consigo sua amargura. Mas sua motivação estava no apartamento de outra pessoa, e a angústia tinha errado de endereço.

Sentia falta de Peter todos os dias. Era quase doloroso vê-lo ali, ao seu lado, mas sem poder realmente o tê-lo para si. Não que não estivessem juntos, ou que não tivessem revelado para o mundo que estavam namorando, era só que ele parecia tão focado em seus estudos e em seu futuro, que ele nunca tinha tempo para ela. E Wanda tentava não ser egoísta, porque ela entendia. Entendia a cobrança constante, o medo de ser uma decepção.

Ela tinha tanta certeza de que Peter conseguiria quanto tinha em que seus poderes poderiam destruir NY. E tinha tanta fé nele quanto tinha nas próprias mãos. Ele era tão perfeito, tão bom em tudo. Era quase demais. Não era o suficiente.

Respira fundo, entre fungadas. O choro corre solto, deixando sua face naquele tosco tom avermelhado de quem chora. Mas ela não tinha forças para se importar.

A ausência presencial de Peter trouxe o silencio, e o silencio trouxe o vazio. Mas o vazio não era ruim, era bom. Era ameno, escuro e pacífico– era como Wanda. E por alguns momentos, ela se pegou pensando se queria desistir de tudo aquilo por alguém, mesmo que esse alguém fosse Peter. Fazia sentido doar tudo o que tornava seus demônios mais quietos por um amor?

A resposta era: sim. Porque não importava o quanto o vazio silenciasse os demônios, Peter era quem lhe tirava a dor. Era ele que fazia tudo ficar mais colorido e o mundo parecer um pouco melhor. E ela estava disposta a doar tudo de si para tê-lo por perto – mesmo que, no fim, ela perdesse tudo. (Peter e o conforto)

A pergunta era: estava Peter disposto a sacrificar seu silêncio, seu tempo e sua solidão por Wanda?

oOo

Era quase assustadora a maneira como Wanda o preenchia – como se parte de sua alma a muito estivesse desaparecido, e agora tudo o que sobrava eram restos despedaçados de algo que já foi belo e ela.

Mas aquilo, de certa forma, o fazia feliz. A fazia feliz. Os faziam felizes. O conforto, a segurança, o respeito, a confiança, o amor. Tudo aquilo era bom demais, quase como um paraíso no meio de um oceano de caos.

E então ele guardava cada momento para eles. Eles eram só deles, e aquilo era perfeito. Cada beijo, cada momento, cada 'eu te amo'. Mas não era o suficiente, porque o tempo se tornara escasso e os momentos raros. Ele mal conseguia controlar a vontade de jogar tudo para o alto e fugir para a Califórnia com Wanda.

Por ela, ele desistiria de tudo, mesmo do cômodo silêncio, do tentador tempo e da confortável solidão. Ela valia a pena.



Hey! Eu voltei.
Eu sei, o capítulo foi bem curtinho, mas é que hoje simplesmente não é o meu dia para escrever - eu não estou focada o suficiente.
A semana passada foi muito difícil para mim, mas esses últimos dias foram um pouco melhores. Eu prometo que estou tentando melhorar. Vou ver se consigo postar algo maior da próxima vez.
Às vezes eu acho que eu me espelho muito nos meus personagens. Muito do que eu escrevo é, em grande parte, sobre o que eu sinto. Mas acho que assim os personagens ficam mais humanos, certo?
Esse capítulo não teve muita interação dos dois, mas ele foi planejado para ser algo mais focado nos pensamentos e conflitos dos dois.
Próximo capítulo: 20/08/2019
Com amor,
Saturno.


After Dark - SENDO REESCRITAOnde histórias criam vida. Descubra agora