Three

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  Depois de mais ou menos uma hora de palestra da minha mãe sobre festas, drogas, garotas e garotos e como eu deveria me manter focada nos estudos, ela finalmente deu sinais de que iria embora, me deu um beijo e um abraço rápidos e foi em direção a porta, avisando Valquíria que esperaria ela no carro.

- Eu vou sentir sua falta todos os dias. - ela diz suavemente enquanto me envolve em seus braços. Eu respiro fundo, sentindo o cheiro de seu perfume, o que eu comprei para ela no Natal. Vou sentir falta desse abraço e desse cheiro familiar.

- Também vou sentir sua falta, mas vamos nos falar todo dia! - eu prometo e a envolvo em meus braços.

- Queria que você ficasse aqui esse ano. - digo enquanto me aninho no pescoço dela. Valquíria é apenas alguns centímetros mais alta que eu, mas ainda assim me sinto muito protegida. Ela me dá um beijo apressado, devido ao barulho de minha mãe buzinando impacientemente do lado de fora. 

  Depois que minha mãe e Val foram embora, comecei a arrumar minhas roupas bem dobradas no armário, acho estranho e dou uma risada ao ver a quantidade de couro e estampas de animais presentes no armário do lado.

  Me sentindo exausta, deito na cama. A solidão já está me incomodando bastante e o fato de que minha colega de quarto está fora não ajuda muito, independente do tanto que seus amigos me fazem sentir desconfortável. Eu tenho a sensação que ela vai ficar fora por muito tempo, ou pior, vai trazer companhia com muita frequência. Porque eu não poderia ter pego uma colega de quarto que gosta de ficar no quarto lendo? Eu suponho que isso deva ser bom, afinal ficarei com o pequeno quarto só para mim. Até agora a faculdade não está sendo o que eu sempre sonhei, porém só se passaram algumas horas, amanhã vai ser melhor, tem que ser.

Antes de dormir eu pego meu planner e minha agenda, tirando um tempo para anotar minhas aulas do semestre e informações sobre o clube de literatura que eu planejava fazer parte. Eu decido que amanhã irei fazer um passeio fora do campus para comprar alguns itens decorativos. Eu não planejo decorar o quarto do jeito que Carol decorou, mas gostaria de adicionar algumas coisas minhas para me sentir mais em casa. O fato de que eu ainda não tenho um carro ainda dificulta um pouco meu transporte, quanto mais cedo eu comprar um, melhor. Eu tenho dinheiro de presentes de graduação e economias, porém não sei se quero lidar com o stress de ter um carro agora. O fato de eu estar em um campus me dá total acesso ao transporte público. Enquanto pensando sobre garotas loiras e ruivas, loiros tatuados acabo caindo no sono, com a agenda ainda na mão.

Na manhã seguinte Carol não se encontra na cama dela, eu gostaria de conhecê-la melhor, porém se ela é o tipo de pessoa que passa a noite fora de casa, talvez eu não deveria. Talvez um dos visitantes de ontem seja seu parceiro, para o bem dela, que seja o loiro. Eu pego a minha nécessaire e vou em direção ao banheiro. Uma das minhas coisas menos preferidas aqui é o banheiro. Porque não poderiam ter banheiros em todos os quartos? Ao invés de um banheiro comunitário, é muito estranho, espero que não sejam unissex. Minhas esperanças são esmagadas quando eu alcanço a porta. Uma placa com o desenho de uma menina e de um menino indica que os banheiros são para todos. Eu planejo ativar um alarme para acordar uma hora mais cedo, com o objetivo de não pegar os banheiros quando lotados.

O chuveiro demora muito tempo para aquecer, e eu tenho a paranóia de que a qualquer momento alguém vai puxar a fina cortina que separa meu corpo nu de uma área onde transitam meninos e meninas. Todo mundo parecia bem confortável com isso, apesar de que eles não deveriam. O box é bem pequeno, mal tem espaço para eu esticar meus braços, tem um pequeno gancho para eu pendurar minhas roupas e é isso. Inicio o banho e fico distraída pensando em Val e na vida lá em casa. Então me viro e acabo dando de cara com o gancho, derrubando minhas roupas no chão do banheiro, encharcando-as.

- Você só pode estar de brincadeira comigo! - Eu resmungo para mim mesma, enquanto fecho o chuveiro de maneira agressiva. Me enrolo com a toalha e pego o pesado e molhado monte de roupas do chão. Saio correndo desesperadamente pelo corredor, na esperança de não ser vista por ninguém, chego no quarto e abro a porta abruptamente. Ao fechar a mesma atrás de mim, fecho os olhos e relaxo. Ao abri-los, percebo que na cama de Carol, a garota ruiva de ontem se encontra largada.

Depois de Você - WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora