Thirty three

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Conforme chegamos a mesa, Natasha solta meu pulso e puxa uma cadeira para eu me sentar. Eu sinto como se meu pulso estivesse queimando devido ao seu toque, eu passo meus dedos na região e ela puxa uma cadeira para sentar na minha frente, ela está tão próxima que nossos joelhos estão quase se tocando.

- Sobre o que você quer falar comigo?- pergunto no tom mais duro possível.

Ela respira fundo e tira seu gorro novamente, sentando-se na mesa. Eu observo enquanto ela passa seus finos dedos em seus fios ruivos e olha em meus olhos. 

- Me desculpa.- ela diz e eu desvio o olhar, focando a atenção na grande árvore localizada no fundo do quintal.- Você me ouviu?- ela pergunta e se inclina para frente.

- É, eu te ouvi.- ela é mais doida do que eu pensava por acreditar que pedir desculpas vai me fazer esquecer tudo que ela disse para mim minutos atrás.

- É tão difícil lidar com você.- ela diz e encosta na cadeira. A garrafa que eu joguei no quintal agora está nas mãos dela e ela toma mais um gole. Como ela ainda não desmaiou ou algo do tipo de tanto beber?

- Eu sou difícil de lidar?!? Você só pode estar de brincadeira comigo! O que você esperava que eu fizesse, Natasha?? Você é cruel comigo, tão cruel.- eu digo e mordo meu lábio inferior. Eu não vou chorar na frente dela. Valquíria nunca me fez chorar, nós tivemos algumas brigas com o passar dos anos, mas nunca fiquei chateada o suficiente para chorar.

- Eu não faço de propósito.- ela diz.

- Sim, você faz e você sabe disso. Eu nunca fui tratada tão mal por alguém em minha vida.- eu mordo meu lábio com mais força, já consigo sentir o nó em minha garganta. Se eu chorar ela ganha. É isso que ela quer.

- Então por que você fica voltando? Porque não desiste?

- Se eu...eu não sei, não consigo explicar, mas depois de hoje a noite eu posso te garantir que não vou voltar. Eu vou sair do curso de literatura e voltar no próximo semestre.- eu não tinha planejado fazer isso até agora, mas realmente é o que eu deveria fazer.

- Não, por favor não faça isso.

- Porque você se importaria? Você provavelmente não quer ser forçada a ficar no mesmo ambiente que alguém tão patético com eu.- meu sangue está fervendo. Se eu soubesse o que dizer para machucar ela no mesmo tanto que ela me machuca eu diria. 

- Eu não quis dizer isso. Eu sou a patética.- eu paro de morder meu lábio e minha boca forma um perfeito "o".

- Eu não vou discutir com isso.- eu digo e ela toma mais um gole da bebida. Eu tento alcançar a garrafa e ela tira a mesma da minha direção.- Então você é a única que pode ficar bêbada?- eu digo e um pequeno sorriso aparece me seu rosto. A luz no pátio reflete em seu piercing do lábio quando ela me entrega a garrafa.

- Achei que você fosse jogá-la de novo.- ela diz e eu coloco a garrafa em meus lábios. O líquido é quente e tem gosto de licor queimado misturado com álcool. Eu dou uma leve engasgada e Natasha ri.

- O quão frequentemente você bebe?- eu pergunto. Tenho que voltar a ficar brava com ela depois da resposta.

- Antes de hoje a noite, iam fazer seis meses que não bebo.- ela diz e olha para o chão, como se estivesse envergonhada.

- Bom, talvez você não devesse beber mais. Te faz uma pessoa ainda pior que o normal.

- Você acha que eu sou uma pessoa ruim?- seu tom é sério. Ela realmente está tão bêbada no nível de achar que é uma pessoa boa?

- Sim.

- Eu não sou. Bom, talvez eu seja. Eu quero que você...- ela para.

- Que eu o que?- eu preciso de saber o que ela ia dizer. Eu devolvo a garrafa para Natasha, eu não quero beber, aquele um gole foi ruim o suficiente, e meu senso perto da ruiva já é ruim mesmo eu estando sóbria.

- Nada.- ela me diz e eu sei que está mentindo.

Por que eu estou aqui para começo de conversa? Valquíria está me esperando lá no dormitório e eu estou aqui, desperdiçando meu tempo com Natasha.

- Eu deveria ir.- eu digo e me levanto.

- Não vá.- meus pés param no meio do caminho devido ao tom de sua voz. Ela está a menos de um metro de distância de mim.

- Porque não? Você tem mais insultos para jogar na minha cara?- eu grito e dou as costas a ela. Eu sinto sua mão pegar meu braço e ela me puxa em sua direção.

- Não vire as costas para mim.- ela grita ainda mais alto do que eu.

- Eu deveria ter dado as costas para você a muito tempo atrás.- eu grito e a empurro.-Eu nem sei porque estou aqui! Eu vim no momento em que Bruce me ligou! Eu deixei a minha namorada, que, como você disse, é a única que consegue suportar ficar perto de mim, lá nos dormitórios, tudo isso por você! Você tem razão, Natasha eu sou patética! Patética por vir aqui, patética por tentar...- eu sou interrompida por seus lábios colidindo nos meus.

Eu empurro seu peito e ela não cede. Cada parte de mim quer beijá-la de volta mas não vou ceder. Eu sinto sua língua tentando abrir caminho entre meus lábios, mas eu não vou deixar.

- Me beije, Wanda.- ela diz contra meus lábios. 

Eu balanço minha cabeça negativamente e ela solta um gemido de frustração.

- Por favor, Wanda. Me beije. Eu preciso de você.- suas palavras mexem comigo. Essa mulher indecente, bêbada e terrível diz que precisa de mim, e de alguma maneira isso soa como poesia em meus ouvidos. Natasha é como uma droga para mim, eu sempre preciso de mais e mais. Ela consome meus pensamentos e invade meus sonhos.

No segundo seguinte seus lábios já estão colados aos meus novamente, e dessa vez eu não resisto. Eu não consigo. Eu sei que essa não é a resposta para os meus problemas e eu só estou afundando cada vez mais, mas isso não importa agora. Tudo que importa agora são suas palavras, "Eu preciso de você". Será que Natasha precisa de mim no mesmo nível que eu desesperadamente preciso dela? Eu duvido, mas por agora vou fingir que sim. Ela coloca uma mão em minha bochecha e passa a língua no meu lábio inferior. Eu estremeço e ela sorri, seu piercing fazendo cócegas no canto da minha boca. Eu escuto um barulho e me afasto da ruiva, ela para o beijo, mas continua com os braços entralaçados em minha cintura, seu corpo pressionado contra o meu. Eu olho em direção a porta, torcendo para que Bruce não tenha visto esse meu momento de péssimo julgamento. Eu não o vejo, graças à Deus.

- Natasha eu tenho que ir, não podemos continuar fazendo isso, não é bom para nenhuma de nós.- eu digo e olho para baixo.

- Sim, nós podemos.- ela diz e levanta meu queixo, me forçando a encarar seus olhos verdes-azulados.

- Não, não podemos. Você me odeia e eu estou cansada de ser seu saco de pancadas. Você me deixa confusa. Em um momento você está me falando o quanto não me suporta, ou me humilhando depois de uma experiência íntima.- ela abre a boca para me interromper, eu coloco meu dedo em seus lábios rosados e continuo falando.-E no outro minuto você está me beijando e me dizendo o quanto precisa de mim. Eu não gosto de quem eu sou quando estou com você, e odeio como me sinto depois que você diz todas aquelas coisas horríveis para mim.

- Quem você é quando está comigo?- ela pergunta.

- Alguém que eu não quero ser. Alguém que trai a namorada e chora constantemente.- eu explico.

- Sabe quem eu acho que você é quando está comigo?- ela diz enquanto passa seu polegar em meu maxilar e eu tento continuar focada.

- Quem?

- Você mesma. Eu acho que essa é real Wanda, só que você está muito preocupada com o que os outros dizem para perceber isso.- ela soa tão honesta e segura do que está dizendo que eu demoro alguns segundos para absorver suas palavras.- E eu sei que o que eu fiz depois que eu te masturbei.- ela percebe meu incômodo.- Desculpe, depois nossa experiência foi errado. Eu me senti péssima depois que você saiu do carro.

- Eu duvido disso.- eu digo, lembrando do quanto eu chorei naquela noite.

- É verdade, eu juro. Eu sei que você acha que eu sou uma pessoa ruim...Mas você me faz...- Porque ela sempre para?

- Termine a frase ou eu vou embora.- eu digo e estou falando sério.

- Você...Você me faz querer ser boa, para você. Eu quero ser uma pessoa melhor para você, Wanda.

Depois de Você - WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora