Twenty one

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  As ruas estão escuras e silenciosas depois que eu saio do quarteirão das fraternidades. As outras casas não são tão grandes quanto as de Natasha. Tem muitas coisas que não entendo sobre ela, como por exemplo por que está em uma fraternidade cheia de garotos prepotentes e riquinhos, sendo que ela não se parece nada com eles. E porque vai de tão quente a fria tão rapidamente. Eu não sei nem porque me incomodo perdendo meu tempo pensando nela. Depois de hoje a noite eu estou mais do que cansada de tentar ser amiga dela. Eu nem acredito que a beijei. Esse foi oficialmente o maior erro que eu poderia ter cometido. No segundo em que eu baixei a guarda ela atacou, pior do que nunca. Eu não sou idiota o suficiente para confiar que ela não contará para ninguém, mas espero que a vergonha de ter me beijado a mantenha quieta. Eu negarei até o túmulo caso um de seus amigos descubra.

  Depois de uma hora e meia caminhando, eu finalmente chego no Campus, eu paro na cafeteria e pego um copo, eu posso muito bem já ficar acordada. Eu preciso inventar uma boa explicação para Valquíria e minha mãe quanto ao meu comportamento de hoje a noite, não sobre a parte do beijo, elas nunca saberão disso, e sim que eu estava em uma festa. De novo. Eu realmente preciso de falar com Valquíria sobre essa história de ficar contando tudo para minha mãe. Eu sou uma adulta agora e ela não precisa de saber o que estou fazendo o tempo todo. Meus pés e minha pernas doem muito quando eu finalmente chego no quarto, eu me curvo, apoiando minhas mãos nos joelhos, soltando um suspiro de alívio. Eu solto um suspiro de susto ao abrir a porta e me deparar com Natasha.

- Você só pode estar de brincadeira comigo!

- Onde você estava?- ela pergunta calmamente. - Eu fiquei te procurando por quase duas horas.

O que?

- Porque infernos você estaria procurando por mim? - eu pergunto desacreditada.

Porque ela simplesmente não se ofereceu para me levar. Ou melhor, porque eu não pedi para ela, assim que descobri que não estava bebendo? Ah sim, porque não tem nenhuma chance dela fazer algo legal por mim.

- Porque...Porque eu não acho que é uma boa ideia você ficar andando sozinha a noite.

Eu dou risada de suas palavras, ela abaixa as sobrancelhas, franzindo-as para mim e eu rio ainda mais.

- Sai daqui Natasha. - eu digo, ainda dando risada.

Eu não estou rindo porque estou achando engraçado, estou rindo por estar esgotada demais para fazer qualquer outra coisa. Ela olha para mim e passa a mão por seu cabelo. Pelo pouco de tempo que conheço essa mulher, Natasha Romanoff, percebi que ela faz isso toda vez que fica estressada ou desconfortável. Espero que esteja os dois agora.

- Maximoff, eu..- ela é interrompida por batidas na porta.

- Wanda! Wanda Maximoff, abra já essa porta! - é a minha mãe.

- Oh meu Deus, Natasha entra no armário! - eu sussurro e puxo seu braço, arrancando-a da cama.

- Eu não vou esconder no armário, você tem dezoito anos.- ela diz e eu sei que está certa, porém ela não conhece minha mãe.

Eu solto um gemido de frustração e ela bate na porta novamente. Eu checo o espelho limpando embaixo dos meus olhos e pego a pasta de dente, esfregando-a na língua com o objetivo de disfarçar o cheiro de vodka. Quando abro a porta vejo minha mãe e Valquíria lado a lado e minha mãe parece furiosa.

- O que vocês estão fazendo aqui? - eu pergunto a elas e minha mãe me empurra levemente para passar por mim e ir em direção a Natasha.

- Essa é a razão de você não estar atendendo o seu telefone? Porque você está com essa.. tatuada, causadora de problemas em seu quarto as seis da manhã!? - ela grita.

Meu sangue ferve. Eu geralmente sou tímida e tenho até um pouco de medo quando o assunto é minha mãe. Não que ela já tenha me batido ou algo do tipo, mas ela não é tímida quando o quesito é apontar meus erros e defeitos.

"Você não vai usar isso, vai Wanda?"

"Você deveria ter penteado seu cabelo novamente."

"Você poderia ter feito melhor"

Ela sempre põe tanta pressão em mim para ser perfeita o tempo todo, é extremamente cansativo.  Valquíria apenas fica parada encarando Natasha. Eu queria gritar com ambas. Na verdade com todas as três. Com minha mãe por me tratar como uma criança, com Valquíria por me dedurar e com Natasha por ser Natasha.

  - É isso que você está fazendo na faculdade mocinha? Fica acordada a noite inteira e trás garotas para seu quarto? A pobre Valquíria ficou extremamente preocupada, nós dirigimos até aqui para descobrir que você está sendo, ouso dizer, uma vadia. - ela diz e tanto eu quanto Valquíria nos assustamos.

- Eu acabei de chegar aqui, ela não fez nada de errado. - Natasha diz e eu fico chocada.

Ela não tem a menor ideia do que está enfrentando. Talvez seja uma boa briga, meu subconsciente pega um balde de pipoca e senta na primeira fileira para assistir.

- Eu não estava falando com você, não sei o que alguém como você está fazendo andando com minha filha de qualquer maneira.

- Mãe. - eu digo entre dentes.

Eu não tenho a menor ideia do porque estou defendendo Natasha, mas estou. Valquíria olha para mim, e então para Natasha, e depois para mim também. Será que ela sabe que nos beijamos? Essa memória está bem fresca em minha mente, e só de lembrar sinto cócegas em minha pele.

- Wanda, você está fora de controle. Eu consigo sentir o cheiro da bebida daqui. Eu posso apenas assumir que isso é influência de sua adorável colega de quarto e dela. - ela diz olhando para Natasha.

- Eu tenho dezoito anos e nunca bebi na vida mãe, apenas estou fazendo o que qualquer outro universitário aqui faz. Me desculpe por você ter dirigido até aqui, mas estou bem. - eu digo e sento na cama, ela suspira.

- Você pode nos deixar por alguns minutos? - ela pergunta, sua voz está mais calma do que estava a minutos atrás.

A ruiva olha para mim como se perguntasse se vou ficar bem, e eu assinto. É estranho, eu e Natasha contra minha namorada e mãe. Por alguma razão eu sei que ela vai estar do lado de fora me esperando sair.

Minha mãe explica que está apenas preocupada com a possibilidade de eu estragar essa oportunidade de educação incrível e ela não quer que eu beba novamente. Ela também me fala que não aprova minha amizade com Carol, Natasha e qualquer um relacionado a elas. Ela me faz prometer que vou parar de sair com elas e eu concordo. Eu não quero mais estar perto de Natasha depois de hoje a noite e não devo ir em outras festas com Carol, então não tem como minha mãe saber se estou andando com ela ou não.

- Como já estamos aqui mesmo, porque não irmos tomar café e quem sabe fazer umas compras? - minha mãe sugere e Valquíria sorri.

Eu assinto concordando, parece uma boa ideia, estou morrendo de fome. Meus pensamentos ainda estão um pouco afetados por causa da bebida, mas a caminhada até aqui e o discurso da minha mãe me deixaram sóbria.

- Você precisa de se limpar e trocar de roupa primeiro, né? - ela diz e abre um sorriso condescendente. Eu levanto e pego umas roupas limpas no armário, me troco no closet e retoco a maquiagem do dia anterior e estou pronta para ir. Quando eu abro a porta nos deparamos com Natasha sentada no chão, apoiada na porta do outro lado do corredor. Ela olha para cima e Valquíria imediatamente segura na minha mão.

- Nós vamos para o centro. - eu digo a ela. Por alguma razão eu queria soltar minha mão da de Valquíria. Qual meu problema?

- Oh, okay.- ela diz e pela primeira vez, parece estar vulnerável, talvez até um pouquinho machucada. "Ela te humilhou" meu subconsciente me lembra. Eu sei que ele está certo, mas não consigo não sentir culpa quando Val puxa minha mão e vamos embora, deixando-a no corredor.

- Eu realmente não gosto dessa garota. - Valquíria diz e eu assinto.

- Nem eu. - digo, sabendo que estou mentindo.

Depois de Você - WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora